Jn 2.1 a 2.10 -> A visão errada a respeito do local onde devemos orar a Deus
Não
importa o quão fundo a pessoa desça, a menos que ela nasça de novo, não poderá
sequer ver o Reino de Deus, já que o mesmo é constituído de compaixão e só Deus
é capaz de manifestar em nós a verdadeira natureza do que existe dentro das
pessoas.
Apesar
de Jonas ter fugido do Senhor, ainda assim ele não deixou de ser Seu filho (Jn 2.1)
(tal como o filho pródigo que confiava tanto no
amor do pai que ainda continuava reconhecendo-o como pai - Lc 15.18). Neste momento, apesar de toda a
religiosidade de Jonas (ver Jn 2.4), ele se sentiu livre para orar
fora do templo. Infelizmente, por causa da oração de Salomão (2Rs 8.28-51)
e do seu empenho em construir o templo, o povo considerava o mesmo algo
sobrenatural (Jr 7.4), como se, ali, fosse realmente a
casa de Deus e, deste modo, a oração ali feita fosse melhor ouvida. Inclusive,
era ideias erradas como esta que faziam Jonas desprezar os ninivitas e
valorizar apenas Israel.
Tudo
que Jonas passou também tinha por finalidade quebrar este tabu.
Há
uma semelhança entre a oração de Jonas e outras passagens bíblicas:
“E disse: Na minha angústia clamei ao SENHOR, e ele me
respondeu; do ventre do inferno gritei, e
tu ouviste a minha voz.” (Jn 2.2);
“Na
minha angústia clamei ao SENHOR, e me ouviu.” (Sl
120.1);
“Estando
em angústia, invoquei ao SENHOR, e a meu Deus clamei; do seu templo ouviu
ele a minha voz, e o meu clamor chegou aos seus ouvidos.” (2Sm 22.7);
“Na
angústia invoquei ao SENHOR, e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu
a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face.” (Sl 18.6);
“Das
profundezas a ti clamo, ó SENHOR.” (Sl
130.1);
“Invoquei
o teu nome, SENHOR, desde a mais profunda cova.
Ouviste a minha voz; não escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor.” (Lm 3.55,56);
“Porque tu me lançaste no profundo,
no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas
e as tuas vagas têm passado por cima de mim.” (Jn
2.3);
“Um
abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas
e as tuas vagas têm passado sobre mim.” (Sl
42.7);
“Porque
a minha alma está cheia de angústia, e a minha vida se aproxima da sepultura.
Estou contado com aqueles que descem ao abismo; estou como homem sem forças, livre
entre os mortos, como os feridos de morte que jazem na sepultura, dos quais te
não lembras mais, e estão cortados da tua mão. Puseste-me
no abismo mais profundo, em trevas e nas profundezas. Sobre mim pesa o teu
furor; tu me afligiste com todas as tuas ondas. ( Selá. )”
(Sl 88.3-7);
“E eu disse: Lançado estou de diante dos teus olhos; todavia
tornarei a ver o teu santo templo.”
(Jn 2.4).
“Pois
eu dizia na minha pressa: Estou cortado de diante dos teus olhos; não
obstante, tu ouviste a voz das minhas súplicas, quando eu a ti clamei.” (Sl 31.22);
“As águas me cercaram até à alma, o abismo me rodeou, e as
algas se enrolaram na minha cabeça.” (Jn 2.5);
“Livra-me,
ó Deus, pois as águas entraram até à minha alma.” (Sl 69.1);
“Eu desci até aos fundamentos dos montes; os ferrolhos da terra
correram-se sobre mim para sempre; mas tu livraste a minha vida da perdição,
ó SENHOR, meu Deus.”
(Jn 2.6);
“SENHOR,
fizeste subir a minha alma da sepultura; conservaste-me a vida para que não
descesse ao abismo.” (Sl 30.3);
“Quando desfalecia em mim a minha alma, lembrei-me do SENHOR;
e entrou a ti a minha oração, no teu santo
templo.” (Jn 2.7);
“Quando
o meu espírito estava angustiado em mim, então conheceste a minha vereda.
No caminho em que eu andava, esconderam-me um laço.” (Sl 142.3);
“Na
angústia invoquei ao SENHOR, e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu
clamor perante a sua face.” (Sl 18.6);
“Os que observam as falsas vaidades deixam a sua misericórdia.” (Jn
2.8);
“Odeio
aqueles que se entregam a vaidades enganosas; eu, porém, confio no
SENHOR.” (Sl 31.6);
“Mas eu te oferecerei sacrifício
com a voz do agradecimento; o que votei pagarei. Do SENHOR vem a salvação.” (Jn 2.9);
“O
meu louvor será de ti na grande congregação; pagarei os meus votos
perante os que o temem.” (Sl 22.25);
“Assim
cantarei louvores ao teu nome perpetuamente, para pagar os meus votos de
dia em dia.” (Sl 61.8);
“Entrarei
em tua casa com holocaustos; pagar-te-ei os meus votos” (Sl 66.13);
“Pagarei
os meus votos ao SENHOR, agora, na presença de todo o seu povo.” (Sl 116.14);
“Oferecer-te-ei sacrifícios de louvor, e
invocarei o nome do SENHOR. Pagarei os meus votos ao SENHOR, na presença
de todo o seu povo,” (Sl 116.17,18);
“A salvação vem do SENHOR; sobre o teu povo seja
a tua bênção. ( Selá. )” (Sl
3.8).
Isto
serve para nos ensinar que Jonas, não apenas era um profundo conhecedor da
Escritura Sagrada (em particular dos salmos), mas confirma que a mesma têm
fundamental importância, sendo de total credibilidade, fazendo dela a base da
sua oração a Deus. Ele esperava, não apenas ser vivificado na Palavra de Deus,
mas ter acesso às riquezas insondáveis de Cristo que não podem ser
compreendidas pela nossa mente, mas apenas experimentada nas horas de
tribulação (Rm 11.33).
Quanto
à menção do ventre do inferno, isto, somado ao fato de que Deus fez subir a
vida dele da perdição (Jn 2.6), é bem provável que ele tenha
morrido e, por estar em desobediência, acabou indo parar no mais profundo do
inferno. Provavelmente, Deus queria que Ele percebesse o quão terrível é o
inferno e dispusesse o seu coração para ser tomado pela compaixão de Deus, pela
dor Dele em ter que enviar alguém para lá (Ez
18.23; 33.11; 2Pe 3.9).
E
o duro é que, mesmo após ter tido tal experiência, Jonas se recusava a aceitar
a compaixão de Deus pelos outros. Embora ele tenha corrido desesperadamente
para os braços do Senhor quando necessitou de compaixão (Jn 2.2),
depois ele se revolta contra esta mesma compaixão quando ela alcançou os
habitantes de Nínive (Jn 3.10; 4.1-3).
É
curioso como a maioria das pessoas só pensa em buscar a Deus na hora da
angústia (Is 26.16), quando sua alma está desfalecendo dentro de si (Jn 2.2,7).
Isto, sem contar aqueles que, mesmo em tais momentos, sequer pensam em buscar a
Deus. Acham que o que estão passando é culpa das pessoas e da falta de
recursos. É importante reconhecer Deus em todos os nossos caminhos (Pv 3.5,6).
Ao reconhecer Deus como o autor de tudo, tanto o bem como o mal (Is 45.7; 54.16,17), ele estava declarando que, antes de tudo, era preciso
resolver a situação com Deus (tal como Jó também fez –
Jó 1.21; 2.10).
Daí Deus chamar para si a responsabilidade sobre vários males (por exemplo 2Sm 24.1; Ez 14.7-9; 2Ts 2.11): isto não quer dizer que Ele, em
pessoa, os tenha feito, mas sim que tudo estava acontecendo com a permissão
Dele (daí Jó 42.2; Sl 24.1; Jo 17.1,2) e que, assim, primeiro havia
necessidade de o povo acertar com Ele.
“Pois
me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente das águas me
cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas passaram por cima de mim.” (Jn 2.3).
O
mar sempre causou forte impressão por causa:
1º -
Da
grande profundidade de suas águas (Ez 27.26; Mq 7.19) -> “me lançaste no profundo, no coração dos mares”;
2º -
Da
sua imensidão (Jó 11.9) -> “a corrente das águas me
cercou”;
3º -
Do
ímpeto das suas ondas (Jó 38.8) -> “as tuas ondas e as tuas
vagas passaram por cima de mim”;
4º - Da força destruidora de suas
ondas (Ez 26.3).
O
mar passando por cima retrata o que acontece com aqueles que descem para se
esconderem da misericórdia de Deus. Tudo passa a ficar por cima da pessoa,
gerando peso e influenciando sua vida (daí
Mt 11.28,29).
Este é o resultado de quem desce para longe de Deus. Na verdade, todas as vezes
que pecamos, estamos fazendo o mesmo que Jonas: recusando que a graça, a
bondade e a misericórdia de Deus alcance a pessoa.
Aliás,
o motivo por trás de toda cobiça, inveja e disputa é justamente porque as
pessoas não se conformam em ver alguém em melhor situação do que eles,
principalmente se isto não lhe traz nenhum benefício direto. Veja exemplos
disto na escritura:
os
irmãos de José não conseguiam enxergar o privilégio que era para eles Deus ter
eleito um deles (Gn 37.7-10);
os
fariseus não percebiam que o fato de Jesus expulsar demônios e curar enfermos
pelo dedo de Deus era prova de que o Reino de Deus era chegado a eles (Mt 12.28).
Muitas
vezes somos tentados a pensar como Jonas (Jn
2.4) e Caim (Gn 4.14):
que é melhor ser fugitivo (fugir de Deus) e vagabundo (sempre errante e sem ocupação com aquilo que é bom) do que acertar com Deus (receber Sua disciplina e concerto (aliança)) e viver uma vida que valha a pena
ser vivida. Por que temos que continuar lançado diante dos olhos de Deus (Jn 2.4)?
De
nada adianta querermos nos aproximar de Deus simplesmente para executarmos atos
religiosos. Jonas, tal como os demais, achavam que a oração direcionada para o
templo de Jerusalém tinha mais valor (Jn
2.4), em virtude
do pedido de Salomão a Deus (2Cr 6.19-39).
Hoje,
a história se repete! Quantas são as pessoas que supõem que o templo que
frequentam tem um poder místico, a ponto de acharem que estão salvos só porque
pertencem a uma instituição religiosa, frequentam o templo religioso por ela
erguido e se colocam debaixo das “águas” dos líderes religiosos por ela eleitos
(mesmo erro da época de Isaías (Is 29.13) e
Jeremias (Jr 7.4-11)).
Por
aqui podemos perceber que Jonas só lamentava “estar lançado diante dos olhos do
Senhor” em virtude de, agora, não ter, aparentemente, ninguém atentando para
ele, o que implicava em ficar sem bênçãos. Só agora ele percebeu que não existe
bênção que não venha do Senhor (Sl 107.9; 147.9; 1Tm
6.17). Ele, que
antes considerava a presença de Deus como uma canseira ou ser obrigado a fazer
algo mau (a ponto de desejar escapar dela), agora deseja voltar, embora que
pelo motivo errado.
Quem
dera todas as pessoas tivessem caráter como de Jonas, mas para fugir para bem
longe de toda a aparência do mal (1Ts 5.22) e do lugar erguido pela
Babilônia para cultuar a impiedade (Zc 5.8-11). Assim não seriam cúmplices nas
obras das trevas (Ef 5.11; Ap 18.4).
“As
águas me cercaram até a alma, o abismo me rodeou, e as algas se enrolaram na
minha cabeça.” (Jn 2.5).
Considerando
que o pecado deixa a pessoa presa (1Tm 6.9,10; 2Tm 2.25,26), quando a pessoa deixa as águas
da vida cercá-la até à alma, o abismo a
rodeia e tudo aquilo que não presta se enrola na mente dela, de modo que ela
não consegue mais viver sem alguma destas coisas.
No
ventre do grande peixe, Jonas desceu até ao mais profundo do mar, onde os
montes terminam (Sl 18.7,15). De alguma forma, ele conseguia
perceber, dentro do peixe, que estava navegando debaixo dos montes, como se ali
fosse a sua cova. É bom lembrar que a terra foi fundada sobre o mar (Sl 24.1,2; 2Pe 3.5). Isto estava além de toda a capacidade dele. Nada havia que
ele pudesse fazer para ficar livre deste inconveniente.
Todavia,
tal como Abraão, Jonas creu contra a esperança demonstrada no início do
versículo (Jn 2.6). Mesmo sabendo que ele não merecia, ele permanecia confiando
na bondade de Deus, a ponto de continuar considerando-O como seu Deus. Ezequias
também experimentou uma angústia semelhante à de Jonas, a ponto de orar “Eis
que foi para a minha paz que tive grande amargura, mas a ti agradou livrar a
minha alma da cova da corrupção; porque lançaste para trás das tuas costas
todos os meus pecados.” (Is 38.3,17).
Um
detalhe importante a ser observado é que esta oração não foi algo contínuo. Em
Jn 2.4 ele crê que tornaria a ver o “santo templo” do Senhor, enquanto que,
agora (Jn 2.7), ele crê que sua oração já entrou no “santo templo”.
Inclusive, por aqui pode-se ver que sua visão a respeito do “santo templo”
mudou, na vida de Jonas, do templo de Jerusalém para o céu. Afinal, apesar de
ele ainda continuar no ventre do peixe, ele percebe que sua oração é ouvida. Além
disso, no paralelo (Sl 18.6), o templo de Jerusalém ainda não
existia, já que foi Salomão quem o construiu. Logo, o “santo templo” só pode
ser o céu.
Quando
sua alma desfalece é que finalmente ele se lembra do Senhor e tem experiência
viva com Ele, o que nos mostra que é apenas quando nossa alma morre é que a
vida de Cristo se manifesta na nossa carne (ver
Sl 42.6; 73.26; 2Co 4.10,11).
Ou seja, é quando nossa carnalidade cai por terra que passamos a enxergar
verdadeiramente o Senhor e tiramos nossos olhos da vaidade (Jn 2.8),
a saber, o legalismo religioso com seus rituais.
É
bem verdade que vaidade enganadora é um termo usado para se referir aos ídolos (ver 2Rs 17.15; Sl 31.6; Jr 10.8; 16.19). Todavia, Israel e Judá
transformaram suas capitais e lugares sagrados (no
caso de Judá, o templo)
em verdadeiros ídolos (Mq 1.5; Jr 7.4), como se fossem as práticas
religiosas que salvassem.
Contudo,
mesmo sabendo disto, em seu desespero, Jonas prefere acreditar que é possível
“comprar” Deus com bajulações (sacrificar com voz de
agradecimento) e
promessas (votos) (Jn 2.9).
Hoje,
a história se repete: milhares de pessoas se reúnem em templos feitos por mãos
de homens (At 17.24) para fazer campanhas, votos, correntes, jejuns, cantorias,
teatros, danças, etc. Contudo, amar ao próximo que é bom, nada! Mal se conhece
os membros da instituição religiosa que frequentam.
E
Jonas estava certo ao dizer que, quem observa estes rituais vãos, acabam
deixando Sua misericórdia (Jn 2.8). Tanto que, muitas vezes, é mais
fácil lidar com pessoas pagãs do que com aqueles que dizem crer em Jesus. Consideram-se
melhor do que os outros só porque participam de uma instituição religiosa e
obedece à doutrina dos homens. O próprio Jonas é um exemplo disto: cumpriu o
voto que fez de obedecer à voz de Deus (Jn
3.3),
considerando isto como um sacrifício de ação de graças. No entanto, abandonou
radicalmente a misericórdia Dele (Jn 4.1-3).
Tal
como Jonas, as pessoas erram em supor que podem ser boas por si mesmas. Na
verdade, nossa bondade (Sl 144.2) e misericórdia (Sl 59.17)
é o próprio Deus em pessoa. Abandoná-Lo significa abandonar nossa própria
bondade, misericórdia e salvação, o que faz de nós pessoas inúteis (Rm 3.11)
e infelizes (ver Jr 2.13).
No
que Jonas fugiu para uma terra pagã, ele estava indo para um lugar onde vaidades
mentirosas são cultuadas, o que só acontece com aqueles que se recusam a
aceitar a compaixão de Deus em suas vidas. Uma coisa curiosa a ser observada é
que, enquanto Jonas estava indo para Tarsis, ele estava completamente indiferente
ao perigo (Jn 1.5). Só agora, no ventre do peixe, é que ele tomou consciência
do perigo e percebeu a diferença que Deus faz na vida de cada pessoa.
Fico
pensando no que se passava pela cabeça de Jonas e das pessoas de hoje, ao
acharem que podem fazer algo sem Deus. Infelizmente, as pessoas acham que
precisam apenas do material e, quando muito, de sensações agradáveis. Não
percebem o quão precioso é o caráter de Cristo, bem como Sua obra de dar a vida
pelos amigos (Jo 15.12,13).
Jonas,
em particular, mesmo sabendo que a salvação pertence a Deus, ainda assim achava
que, se ele pregasse a mensagem de qualquer jeito, o povo não converteria.
Diferente de Ezequias e do salmista do Salmo 119 que, depois de afligido,
passou a guardar a Palavra de Deus (Sl 119.67; Is 38.17), a obediência de Jonas se
restringia a meros sacrifícios (tal como pensavam também
as pessoas na época de Isaías (Is 1.11-17; 58.5). No entanto, o que Deus quer é
sacrifício de louvor, ou seja o fruto do Espírito Santo expresso através dos
nossos lábios (ver Os 14.2; Hb 13.15; Ef
4.29; Tg 3.10-12),
bem como o prazer na Sua Palavra (Sl 1.1,2).
Com
relação às duas orações de Jonas, podemos perceber um forte contrate:
No
capítulo dois Jonas agradece a Deus por sua misericórdia e graça;
No
capítulo quatro, Jonas reclama justamente desta misericórdia e graça que
salvara sua vida, em virtude da mesma ter alcançado alguém que ele não julgava
merecedor.
IV – JONAS 3.1 a 4.11 -> 2º CHAMADO: A FINALIDADE DAQUILO QUE DEUS FAZ NA NOSSA VIDA
Jn 3.1 a 3.10 -> Apesar da visão errada dos ninivitas com relação ao Deus verdadeiro, ainda assim eles foram salvos
Note
como, na primeira vez, Deus enfatiza os pecados de Nínive (Jn 1.2),
enquanto que, agora, a mensagem (Jn 3.2). Isto porque, antes, muito havia
a ser feito para que os ninivitas cressem em Deus. Agora, todavia, bastava uma
mensagem, já que o principal não era o que Jonas falava ou fazia, mas sim a
imagem de Deus que ele trazia consigo por ser um testemunho vivo do poder de
Deus. Jonas era um exemplo vivo do julgamento de Deus (sepultamento no ventre do peixe) e da Sua misericórdia ao
trazê-lo de volta à vida e libertá-lo. Ele era um retrato, tanto do julgamento
que estava para cair sobre Nínive, como do livramento que Deus queria lhes
proporcionar, caso eles se convertessem.
Detalhe: enquanto que a morte e
ressurreição de Jonas atraiu os ninivitas a Deus, os judeus, na época de Jesus,
tropeçaram justamente naquilo que lhes deveria aproximar de Deus: a morte e
ressurreição de Cristo. Tal como a morte e ressurreição de Jonas serviu para
testemunhar a ira de Deus e Sua misericórdia, respectivamente, a morte e
ressurreição de Jesus nos dá total certeza de nossa reconciliação com Deus (2Co 5.18-20).
Por isto é que o batismo simboliza nossa morte para nós mesmos a fim de
andarmos em novidade de vida (Rm 6.1-4). Logo, se aceitarmos de bom
grado o salário do pecado (Lv 26.41,43), receberemos o dom gratuito de
Deus (Rm 6.23), pois somente quem morreu para si mesmo está justificado do
pecado (Rm 6.7). Afinal, o que semeamos não é vivificado se primeiro não
morrer (1Co 15.36). Somente se fomos plantados juntamente com Jesus na
semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição (Rm 6.5).
Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos (Rm 6.8).
Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com Ele crucificado, para que o corpo
do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado (Rm 6.6).
Ao colocarmos nossa carne para trabalhar, passamos a ter direito à morte (Gl 5.19-21; Rm 6.23). Quanto à vida eterna, por outro lado, nada há que possamos
fazer para recebê-la.
Um exemplo disto é Nínive. Apesar
de terem se convertido com a pregação de Jonas, não conseguiram herdar o dom
gratuito da vida eterna, vindo a ser destruída anos mais tarde.
O
número 40, muitas vezes, é associado com humilhação. Veja alguns exemplos de
uso do número 40:
O
jejum de Moisés (Êx 24.18; 34.28), Elias (1Rs 19.8)
e Jesus (Mt 4.2) durou 40 dias.
Desde
o começo do ministério de Jesus até a destruição de Jerusalém se passaram 40
anos;
O
dilúvio durou 40 dias e 40 noites (Gn 7.4,12,17);
Por
40 anos os hebreus ficaram peregrinando no deserto (Nm
14.33,34; 32.13; Sl 95.10; Am 2.10; 5.25; At 7.42; 13.18; Hb 3.9,17);
A
vida de Moisés se dividiu em 3 períodos de 40 anos:
o
Os
primeiros 40 anos como príncipe no Egito (At
7.23);
o
Dos
40 aos 80 anos no deserto de Midiã (At 7.30);
o
Os
últimos 40 anos conduzindo os hebreus rumo à terra prometida (At 7.36);
Quando
alguém merecesse açoites, deveriam ser dados 40, no máximo (Dt 25.3);
A
terra de Israel sossegou 40 anos nos dias de Otniel (Jz
5.32) e Gideão (Jz 8.28);
Israel
ficou escravo dos filisteus por 40 anos antes de Deus enviar Sansão (Jz 13.1);
Golias
afrontou Israel por 40 dias (1Sm 17.16);
Saul
(At 13.21), Davi (1Rs 2.11) e Salomão (1Rs 11.42)
reinaram sobre Israel 40 anos;
Egito,
por 40 anos, iria ficar desolado (Ez 29.11-13);
Jesus
permaneceu ressurreto entre os discípulos por 40 dias (At 1.3);
Com
relação a Jonas, muitos pensam que, após ser vomitado pelo peixe, ele obedeceu
ao Senhor simplesmente porque ele foi a Nínive pregar a Palavra de Deus (Jn 3.3).
Contudo, repare que:
1º -
Ele
foi relaxado em sua missão (algo que Deus abomina - Jr
48.10), já que a
cidade era de três dias de caminho e ele fez a jornada de apenas um dia. Embora
este relaxo pouca diferença faria, já que seu conhecimento acerca de Deus era
bem limitado;
2º -
Ele
pregou apenas parte da mensagem. Como é bem sabido, a mensagem completa de Deus
sempre inclui dois caminhos: um de vida e um de morte (ver Dt 30.19)
e ele só pregou a morte, já que não queria, de modo algum, que eles soubessem o
que era necessário para serem poupados do juízo.
Entretanto,
apesar de toda a rebeldia de Jonas, o fato dos ninivitas virem ali aquele que fora
responsável por uma imensa tempestade e foi parar no ventre do peixe,
simplesmente porque fugiu da presença do Senhor por não querer pregar a
mensagem aos ninivitas (é bom lembrar que Jonas
contou tudo aos marinheiros – Jn 1.10), era uma prova do quão terrível,
urgente e sério era o aviso de Jonas, bem como o alto preço da
desobediência. Vendo como Deus pune
severamente um “simples pecadinho”, eles viram o quão manchados estavam em seus
pecados. Tanto que o rei e seus nobres ordenaram que cada um se convertesse do
seu mal caminho e da violência que havia nas suas mãos (Jn 3.8 – aliás, este é o verdadeiro jejum (Is 58.6), algo que
Israel se recusou a aceitar (Is 59.6)), mesmo sem qualquer orientação de Jonas neste sentido.
A
verdadeira conversão implica em dor por causa do pecado, oração a Deus mudança
de conduta (ver Jr 25.5; 26.3; 36.7) e, principalmente, de vida (a vida de cada pessoa é constituída pelas ligações que ela é
capaz de fazer em pensamento e sentimento – 1Co 1.10; At 4.32; Rm 12.16; Fp
4.2).
No
entanto, Nínive teve um grande privilégio. Enquanto às pessoas, nos tempos de
Noé, não foi dado arrependimento para a salvação (ver
2Tm 2.25-26) (apesar de Noé ter pregado a mensagem por cerca de 100 anos), a Nínive Deus concedeu duas
dádivas:
1ª-
Que
seu povo se arrependesse imediatamente após ameaçado.
2ª-
Que
o perdão e livramento seguisse imediatamente após à conversão.
Note
que eles, não apenas acreditaram na mensagem de Jonas, mas sobretudo creram que
seu Deus é o Deus verdadeiro (Jn 3.5). Assim, buscando apaziguar o
furor de Deus, eles adotaram práticas comuns em Israel:
Jejum, que era sinal de tristeza (ver Jl 2.13-17; Is 22.12,13; Mt 9.15) pelo pecado (Lv 16.30,31).
Josafá é exemplo de um rei que assim procedeu (2Cr
20.3);
Vestir-se de saco, que é sinal de
humilhação (como em 1Rs 20.31,32;
21.27);
Sentar-se sobre cinzas, que é
emblema da mais profunda humilhação (ver Jó 2.8; Ez 27.30). Ainda mais considerando que o
rei, ao invés de sentar num confortável e limpo trono, estava se sentando em um
chão sujo e duro.
Ao invés
de festas (onde há comilança e desfile de modas), eles estavam convertendo a
alegria em pranto, o gozo em tristeza (Tg
4.8,9). É bom
lembrar que é com a tristeza de rosto que se faz melhor o coração (Ec 7.3).
Isto atingiu todas as classes sociais (Jn
3.5), incluindo
o rei (Jn 3.6).
Aqui
cabe uma observação. Já que Jonas nada explicou de como agradar a Deus, de onde
que eles tiraram a ideia do pano de saco, cinza, jejum (elementos),
converter dos maus caminhos? Isto mostra que eles tinham algum conhecimento a
respeito do Deus de Israel, baseado naquilo que os israelitas falavam e faziam.
Tanto que cultuavam-No (daí o clamor ter subido à
presença Dele – Jn 1.2).
Contudo, os ninivitas tratavam o Deus de Israel do mesmo modo que faziam com os
outros deuses: fazendo rituais com sacrifícios, libações, encantamentos, a fim
de tentar apaziguá-lo.
Note
a ignorância dos ninivitas em acharem que os animais também eram culpados e
estavam atraindo a ira de Deus sobre eles. Daí ordenarem jejum e pano de saco
para os animais (Jn 3.7,8). O objetivo é que, ao mugirem,
piarem, etc, os animais estivessem como que clamando a Deus (ver Sl 147.9).
Isto confirma que eles não conheciam com exatidão o que agradava a Deus, mas
estavam tratando-O como eles suponham, com base em outras divindades ou no
comportamento de outros povos (incluindo os israelitas), que, fazendo assim, afastariam
a ira de Deus de sobre si (Jn 3.7,8).
Fique
claro que esta conversão não era a Deus, mas uma simples mudança de atitude no
sentido de tentar apaziguar a ira de um Deus entre tantos que eles tinham. Em
momento algum é dito que os ninivitas substituíram seus deuses pelo Deus
verdadeiro. A única coisa é que, neste momento, o Deus de Israel passou a
ocupar o primeiro lugar no panteão de deuses. Reconhecer o poder de Deus e ter
medo Dele não é a mesma coisa aceitá-lo como único Senhor, Salvador e tesouro
de suas vidas.
Infelizmente,
hoje, muitos tratam Jesus do mesmo modo. Tentam fazer coisas para Ele, na
esperança de conseguir o que desejam ou afastar de si o castigo.
Enfim,
não havia interesse legítimo em se aproximar de Deus para tê-lo em sua família,
ou seja, para pensar e sentir como Ele.
Além
disto, note como eles também são impelidos a clamarem fortemente a Deus, como
se fosse pelo muito falar ou gritar que seriam ouvidos (costume pagão severamente condenado por Jesus – Mt 6.7). Com relação à oração, é
importante observarmos que se nós atendermos à iniquidade no nosso coração, o
Senhor não nos ouvirá (Sl 66.18). Ou seja, oração sem reforma
interior é zombar de Deus. Devemos orar, mas buscando de Deus a transformação
do nosso coração, já que isto é obra Dele (Is
63.17; Lm 5.21; Jr 31.18),
ao invés de tentar mudá-Lo.
Mais
outra prova de que eles não sabiam como adorar o Deus verdadeiro é o fato de
eles não saberem se Deus iria se agradar e compadecer deles (Jn 2.9).
Embora Nínive adorasse o Deus verdadeiro, adorava também outros deuses.
Todavia,
por aqui podemos ver o motivo pelo qual Jesus disse que os ninivitas iriam
julgar Israel no dia do juízo (Mt 12.41; Lc 11.32): porque, mesmo sem qualquer
promessa em que depositar sua esperança, os ninivitas, ainda assim, creram em
Deus, enquanto que o povo de Israel, mesmo tendo em mãos a Escritura Sagrada e
constantemente recebendo a Palavra de Deus por meio de vários profetas, ainda
assim não se arrependeram. Tanto que Joel tinha dificuldades em crer na
possibilidade de ser possível o afastamento do juízo divino (Jl 2.14).
Entretanto,
é importante que fique claro que o foco da pregação jamais deve ser o homem. Em
todas as ocasiões em que se lê que Deus se arrependeu do mal, é preciso ficar
claro que este era o seu propósito desde o princípio. Simplesmente promoveu uma
dada situação para que todos pudessem visualizar isto. Por exemplo:
[ Quando Deus se arrepende do mal
após a intercessão de Moisés (Êx 32.14), o objetivo era que Moisés testemunhasse
em si o enorme desejo Dele em remir Israel e, deste modo, nos ensinar que
devemos sempre cogitar meios para que o arrependimento e conversão possa
alcançar todos (2Sm 14.14).
[ Aqui a intenção de Deus era
salvar Nínive e enviou Jonas para que Ele pudesse conhecer que Sua graça é
soberana, ou seja, enxergar que Sua salvação não depende da ação do homem, mas
da Sua Palavra se tornando viva pelo Seu poder agindo nos corações (ver Rm 9.15,16; 1Co 2.4,5; 4.19,20) e convencendo as pessoas a
receberem tudo isto em si (Jo 1.12; Rm 1.17; Tg
1.21) a fim de
serem livres do juízo vindouro (Jo 16.8).
[ Quanto às visões de Amós (Am 7.3,6),
Deus não queria destruir, mas mostrar a Amós que seu trabalho secular (Am 7.14,15)
de nada iria servir, já que, se nada mudasse em Israel, tudo seria destruído.
Sem a bênção de Deus, os povos trabalham pelo fogo e os homens se cansam em vão
(Hc 2.12,13).
[ Deus só queria a morte daqueles
70.000 (2Sm 24.15) que, provavelmente, foram os maiores responsáveis pela ira
de Deus que veio contra Israel (2Sm 24.1). No entanto o arrependimento (entristecimento) de Deus é para que Davi percebesse o quanto entristece
quando, por Sua santidade e justiça, se vê obrigado a punir o pecado (e funcionou, como se vê em 2Sm 24.17). Ou seja, foi a tristeza segundo
Deus que operou o arrependimento no coração de Davi para a sua salvação (2Co 7.9,10).
A
verdade é que Deus nunca muda (Nm 23.19; 1Sm 15.29; Ml
3.6; Hb 13.8; Tg 1.17).
Antes, é Ele que nos conduz à mudança necessária para que, aquilo que Ele
deseja operar em favor dos Seus, se manifeste (ver
Jó 42.2; Is 43.3).
Do ponto de vista do homem natural (não espiritual – 1Co
2.14-16), a
impressão que se tem é que a ação de Deus está condicionada à conversão ou
coração duro e impenitente do homem (como parece sugerir Gn
18.25; Ez 18.21-25; Jr 18.7-10).
Contudo,
não podemos nos esquecer que Deus é presciente e onisciente. Logo, o resultado
final já é conhecido por Deus antes mesmo da fundação do mundo (ver 1Pe 1.20; At 13.8) e está dentro do que Deus quer dar a conhecer a principados
e potestades (Ef 3.8-10; 1Pe 1.12). Tão somente ele elege as
pessoas exatas que venham a se comportar do jeito que Ele espera a fim de que
todos possam constatar a diferença que a ausência ou presença da ação direta de
Deus em toda a criação pode mudar o rumo das coisas.
No
caso de Nínive, Deus lhe deu oportunidade de conversão, pois a medida de seus
pecados ainda não estava cheia e Deus desejava usar a Assíria como vara para
disciplinar Israel no futuro (Is 10.5).
Jn 4.1 a 4.11 -> A visão correta acerca daquilo que tem valor aos olhos de Deus
Jonas
cometeu um terrível engano: o de achar que ele poderia usar a Palavra de Deus a
seu favor, quando, na verdade, a mesma faz o que apraz a Deus e prospera
naquilo para que Ele a enviou (Is 55.10,11). E aqui o propósito não era
condenação, mas salvação.
Jonas,
que aceitou morrer para que a vida dos marinhos fosse salva (é bom lembrar que Jonas não contava com o livramento de Deus,
visto que ele estava em rebeldia), agora prefere morrer a ver os habitantes de Nínive salvo.
Embora não se saiba o motivo exato pelo qual Jonas não queria o arrependimento
de Nínive, uma possibilidade é a de ele ser tido por falso profeta, já que,
conforme Deus instruíra, quando alguém predissesse algo e isto não acontecesse,
tal pessoa deveria ser considerada como falso profeta (Dt 18.21,22; Jr 28.4). Embora fosse mau para Jonas Deus ter anulado sua pregação,
isto foi bom para nós, para nos ensinar que, não importa o que os homens
intentem contra nós (ver Dt 23.5; Js 24.10), a maldição sem causa nunca vem (Pv 26.2)
e nenhum dos planos de Deus pode falhar (Js
23.14; Jó 42.2; 1Rs 8.56).
Além disto, se ele tivesse pregado a mensagem completa, não haveria esta
ameaça.
Outra
possibilidade é que, se Nínive fosse destruída, isto poderia servir como
exemplo do juízo divino para Israel e eles decidissem se converter da maldade
de suas ações, que muito se agravou com a prosperidade adquirida no bem
sucedido reinado de Jeroboão, filho de Jeoás.
Também
existe a possibilidade de que Jonas achasse Nínive perversa demais e, portanto,
indigna de merecer o dom da vida. Se este for o caso, seria uma contradição, já
que Jonas profetizara de bom grado acerca da recuperação político-econômica de
Israel no reinado de um de seus piores reis (2Rs
14.25). Como ele
podia profetizar feliz tal recuperação, enquanto a nação estava mergulhada em
idolatria e prostituição?
Inclusive,
por aqui, podemos perceber o quanto nos enganamos a nós mesmos, achando que
estamos adorando a Deus quando, na verdade, estamos desagradando-O. Talvez, no
coração de Jonas, seu desejo era ver Israel convertido e transformado pelo
poder e amor de Deus. Contudo, é
justamente este zelo que roubou toda satisfação que Jonas poderia ter ao ver o
sucesso do seu ministério com relação a Nínive.
Não
que Deus não quisesse advertir Israel. Pelo contrário: seu alvo sempre foi Seu
povo. Entretanto, o que Deus queria não era intimidar Israel com a destruição
de Nínive, mas sim mostrar a Israel o quão obstinado e duro estava o coração
deles (já que uma nação cruel, pagã e com tão pouco
do Deus verdadeiro se converteu através da pregação tão breve de Jonas (um dia
de uma pregação composta de 7 palavras)), sendo extremamente dignos de todo o juízo que estava por
vir.
Isto
também fazia referência profética ao que aconteceria na época de Jesus:
? “E maravilhou-se Jesus, ouvindo
isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel
encontrei tanta fé. Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente,
e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; e os
filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e
ranger de dentes.” (Mt 8.10-12)
? “Portanto, eu vos digo que o
reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos.” (Mt 21.43)
? “Ali haverá choro e ranger de
dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de
Deus, e vós lançados fora. E virão do oriente, e do ocidente, e do norte, e do
sul, e assentar-se-ão à mesa no reino de Deus. E eis que derradeiros há que
serão os primeiros; e primeiros há que serão os derradeiros.” (Lc 13.28-30).
Israel,
que foi o primeiro a ser alcançado por Deus, agora seria o último por terem
recebido a Palavra de Deus de mau grado (ver
Is 6.9,10; 28.10-13; Mt 13.13-16). Em outras palavras, ao salvar Nínive, Deus já estava
anunciando a rejeição dos judeus e o acolhimento dos gentios à graça de Deus.
Também,
por aqui, podemos aprender que, felizmente, nada pode alterar o plano de Deus.
A revolta de Jonas contra Deus é, na verdade, o que se passa em cada um de nós.
A diferença é que Jonas teve coragem de expressar, enquanto nós, insistimos em
uma pretensa humildade e adoração. Enganamo-nos achando que podemos desobedecer
os princípios da Palavra de Deus e, ainda assim, agradá-Lo, bastando, para isto,
lisonjeá-Lo.
Contudo,
a atitude de lisonjear alguém sempre está condicionada a algo que a pessoa tem
ou faz. Em outras palavras, a rigor, o que está sendo exaltado é algo deste
mundo, só que usando a pessoa para isto a fim de estimulá-la a fazer mais e
melhor. O verdadeiro louvor consiste em permanecer junto da pessoa conservando
dentro de si os conceitos e valores desta em seu agir.
Por
mais absurdo que possa parecer, a compaixão de Deus que tão nos atrai é a mesma
que nos afasta Dele. Embora Jonas e o restante da humanidade confessem fé na
compaixão de Deus (ver Jr 3.12; 31.20; 32.18 – em
particular, Jonas relembra Êx 34.6 e Joel, a Moisés e Jonas (Jl 2.13))
ele e os demais não aceitam chegar até às últimas consequências disto. Insistem
obstinadamente em recusar o favor e a bondade de Deus para com as demais
pessoas. Daí as disputas, concursos, jogos, etc. Tudo pode parecer normal, mas revela
a fé que as pessoas têm de que ninguém merece nada bom, mas apenas ela.
Ao querer ser como Deus, o ser humano, como o diabo
(Is 14.12-14), aceitou
dentro de si um sentimento terrível: o de não aceitar que ninguém esteja acima
de si. Tal como Jonas, as pessoas fogem de Deus para não precisarem ser boa com
as outras, mas poderem, aparentemente, viver para si mesmas (mal percebem que é aí que estão
vivendo em função dos outros).
Tal como Elias, Jó e Jeremias, Jonas também pede
para si a morte. O motivo é o mesmo, só que expressado de modos diferentes:
Elias, pelo fato de seu ministério não ter
surtido o sucesso desejado (1Rs 19.4). Ele não se conformava que, depois de
tanto esforço, o povo de Israel ainda continuasse com seu coração endurecido.
Embora tenha acabado de ver Deus operar de modo sobrenatural, Ele não operou
aquilo que ele esperava;
Jonas, pelo fato de seu ministério não ter
surtido o fracasso desejado (Jn 4.1-3). Para ele, a ação de Deus implicava em
castigo para os inimigos e bênçãos para que eram bons aos seus olhos. Para ele,
é injusto o ímpio receber bênção;
Jó, por causa do seu intenso sofrimento (Jó 3.3,4). Ele achava
que Deus estava sendo injusto com ele (Jó 23.3,4)
Jeremias, pela perseguição que a Palavra de Deus
trouxe na sua vida (Jr 20.7,8). Ele não achava justo ser fiel a Deus e os
problemas só aumentarem.
E
não é de se admirar! Sempre que alguém peca, no fundo, ela está dizendo que
Deus é injusto. Tudo porque, infelizmente, a sociedade é construída em cima dos
princípios babilônicos, onde cada um deve receber conforme o merecimento.
O
problema é que, apesar de todos eles serem servos de Deus, o coração deles, no
fundo, não estava no próprio Deus em pessoa, mas naquilo que podiam conseguir
neste mundo. Eles, tal como os apóstolos, não amavam a Deus (Jo 14.28) (pelo menos na ocasião citada), pois, do contrário, se
alegrariam com aquilo que Deus queria mostrar:
No caso de Elias, Deus queria que todos
enxergassem Ele operar nas coisas pequenas (1Rs 19.12);
No caso de Jonas, a conversão de Nínive deveria
mostrar a Israel que, não só Deus amava os gentios, mas que eles estavam com o
coração mais duro do que o dos gentios;
No caso de Jó, o desejo de Deus é que todos
percebessem que a verdadeira bênção de Deus vai muito além de tudo que há neste
mundo: as lutas são para tratar o caráter e as bênçãos, para exercitar o
caráter através da trabalho do amor (ver 2Co 9.6-11; Hb 6.10; 2Pe 1.5-8);
No caso de Jeremias, a ideia é que todos
percebessem o quanto as pessoas estão indispostas para o bem e a verdade.
Ninguém, a princípio, quer experimentar uma mudança no seu interior (na sua maneira de sentir as
coisas – Jr 2.25,31; 5.30,31; 6.16; 22.21). Muito menos ser obrigada
a esperar se isto for necessário para manter o caráter íntegro e santo.
Com
isto, podemos perceber que servir a Deus nem sempre significa fazer a vontade
Dele. Tanto é assim que os obreiros da iniquidade (Mt
7.21-23; Lc 13.23-28)
e as cinco virgens néscias (Mt 25.12) achavam que estavam agradando a
Deus quando, na verdade, estavam praticando iniquidade. Ao contrário da obra do
homem, onde apenas uma das partes é beneficiada, na obra de Deus, todos são
agraciados (uns de uma maneira,
outros de outro modo).
Com Jesus nunca existe prejuízo. Daí a importância de, não apenas conhecer a
vontade de Deus, mas entendê-la (Ef 5.16,17).
Infelizmente,
muitos acham que, só porque fizeram o que foi mandado, já agradaram a Deus. No
entanto, Jesus chama estas pessoas de inúteis (Lc
17.10). E não é
para menos, já que até a Nabucodonosor Deus chamou de servo (Ez 29.18-20).
Logo,
o que Jesus requer de nós vai muito além do que mera realização de obras. Tente
imaginar um mundo onde todos obedecessem fielmente a ordem de Deus. Será que
isto seria suficiente para as pessoas serem felizes. Leis são como a casca dura
de um coco que só atua na parte material. O cumprimento das mesmas só garantem
bens materiais. Contudo, a satisfação do ser humano não é apenas pelo
desconforto material. Algo muito mais profundo clama no mais íntimo do seu ser,
a saber, a presença de pessoas com quem ela possa interagir o tempo todo por
meio do Espírito Santo para ter a Palavra de Deus confirmada em sua vida.
Enfim, sem o amor, tudo se torna sem sentido (1Co
13.1-3).
A
verdadeira Igreja é Jesus quem edifica (Mt
16.18), e isto
no coração das pessoas (1Pe 2.5), que são Sua casa (1Co 3.16; 6.19; 2Co 6.16) de muitas moradas (Jo
14.2). Quem não
deixe Jesus trabalhar o coração dos Seus dentro de si e não aceita ser
trabalhado no coração dos outros, é inútil, já que só seremos reconhecidos como
discípulos quando tivermos amor uns pelos outros (Jo
14.34,35).
Aliás, é assim que todos reconhecerão que são amadas e que realmente é o
enviado de Deus para nos salvar (Jo 17.11,21-23).
E
o pior é que, tal como Jonas, a maioria prefere morrer a viver para ver o bem
do outro (Jn 4.3).
Veja
o caso de Jonas. Como os 40 dias ainda não tinham passado, Jonas esperava que o
castigo viesse, tal como se deu no caso de Davi. Apesar de ele ter se
arrependido, ainda assim seu primeiro filho com Bate-Seba morreu (2Sm 12.10-12,14). Ele não queria enxergar a profundidade do arrependimento de
Nínive, muito menos conhecer a grandeza e completude da misericórdia de Deus.
Em
face disto, Deus faz crescer uma aboboreira no solo de Nínive. Logo, a
aboboreira representava Nínive. Assim como ela cresceu rápido da noite para o
dia, Deus pode fazer nascer uma nação num só dia (Is 66.8) e usar tudo isto para nos livrar
do nosso enfado.
Mas
afinal, qual era o enfado de Jonas? Embora haja o aspecto físico, é bom lembrar
que Jonas não precisava ficar ali. Ou seja, o verdadeiro enfado (lamento, pesar) de Jonas era a expectativa de nada acontecer à cidade. A
atitude de Deus, além de refrescá-lo, servia para desviar a atenção dele para
aquilo que realmente é bom. A verdade é que, muitas vezes, nossa mágoa é tão
grande que não aceitamos que ninguém nos console (Gn
37.35), mas preferimos
permanecer onde e naquilo que não presta. A raiz de amargura traz tal
perturbação (Hb 12.15) que preferimos nos privar do bem
só pelo gostinho de ver aqueles que odiamos sofrer o que achamos que eles
merecem.
Inclusive,
por aqui podemos perceber que a sombra provida por Deus é muito mais eficaz do
que qualquer descanso e refrigério que podemos conquistar por nós mesmos (ver Sl 23.3).
Tanto que a cabana construída por Jonas não foi suficiente para lhe trazer
refrigério (Jn 4.5).
No
entanto, mesmo quando a bênção material vem de Deus, jamais podemos nos apoiar
nela, visto que a mesma serve tão somente para nos ensinar algo ou prover um
método para nos aproximarmos das pessoas. Apenas a bênção do Senhor é capaz de
enriquecer sem trazer dores (Pv 10.22), a saber, vindo do alto descendo
do Pai das Luzes (Tg 1.17). Em outras Palavras, a boa
dádiva e o dom perfeito é o Espírito Santo com seus dons espirituais (Mt 7.9-11; Lc 11.11-13), os quais, quanto mais compartilhamos, mais ricos nos
tornamos (At 20.35). Mas para recebê-los, precisamos nos agradar do Senhor, já
que, quando isto se acontece, Ele se torna a única coisa que satisfaz o nosso
coração (Sl 37.7).
Por
aqui também podemos aprender o quão frágeis somos, a ponto de um simples verme
ser capaz de matar uma imensa aboboreira e um simples vírus, de arruinar nossa
vida e até aniquilá-la (Jn 4.7). Se bem que nenhuma planta se
seca da noite para o dia, a menos que o poder sobrenatural de Deus atue. Embora
Deus pudesse fazer a aboboreira se secar sozinha, ele preferiu usar um verme
para nos mostrar o quanto ele cuida de nós. Às vezes só consideramos como bênçãos,
grandes acontecimentos. Contudo, se coisas tão simples podem acabar com o
refrigério, quão dirá as coisas grandes. Nós é que, infelizmente, não
conseguimos enxergar os inúmeros benefícios e maravilhas que Deus opera cada
dia na nossa vida (ver Sl 40.5; 68.19;
103.1,2).
Em
outras palavras, apenas Deus deve ser nossa felicidade (Hc 3.18)
e força (Hc 3.19). As bênçãos não são para nos alegrarmos com elas (que não passam de coisas mortas, ídolos), mas sim para que possamos
granjear pessoas a partir delas (Lc 16.9). Daí Deus enviar o verme no dia
seguinte, após ter se alegrado excessivamente com a coisa errada, já que sua
alegria deveria ser a do Senhor, ou seja, a de ver o povo de Nínive convertido.
Até
na época dos apóstolos havia preconceito dos judeus pelos gentios. Tanto que
Pedro foi confrontado simplesmente por entrar na casa de um gentio (At 11.3),
tal como Jesus era recriminado por comer com os publicanos e com aqueles que o
sistema religioso considerava como pecador (Mt
9.11-13). Logo,
a ordem de ir por todo o mundo pregando o evangelho (Mc
16.15) e fazendo
discípulos (Mt 11.29) significa que devemos ir em
direção àqueles que consideramos comuns, imundos (At
10.13-15,28) e
não merecedores das dádivas divinas. Agora imagine o que se passou no coração
dos discípulos ao ouvir tal ordem da parte de Jesus (Mt
28.18).
Jonas,
em particular, ficou tão irritado que novamente desejou morrer (Jn 4.8):
da primeira vez, foi por causa de compaixão de Deus por Nínive (Jn 4.3);
da segunda vez, por Deus não ter tido compaixão da aboboreira (mal percebia Jonas que, por ter esta aboboreira nascido nos
arrabaldes de Nínive, a representava). Entretanto, a ideia é que Jonas percebesse que, se uma
simples aboboreira que nasceu numa noite e pereceu numa noite merecia
compaixão, quão dirá uma nação inteira que Deus vinha tratando por anos e anos (Jn 4.11).
Foi o que Jesus tentou expressar: uma vez que Deus é capaz de encher uma flor
de duração tão breve com perfume e beleza, quão dirá o que Ele fará por nossos
corpos e almas se deixarmos (Mt 6.28-30). Uma vez que Deus se preocupa
até com a necessidade do pó da terra (Jó
38.25-27), quão
dirá da nossa, que somos feitos à Sua imagem e semelhança.
O
detalhe que a folhagem da aboboreira, tal como a erva do campo, também é de
breve duração (ver Jó 14.1,2; Is 40.6-8). Logo, se já sabemos disto,
então porque insistimos em ficar revoltados com a velhice e morte, a ponto de
querer esconder os sinais da primeira e ficar revoltado quando a segunda atinge
alguém que tanto queremos bem? Já que sabemos que isto vai acontecer,
deveríamos investir no nosso interior (2Co
4.16) e vestirmos
a nós e àqueles que dizemos amar com os atos de justiça dos santos (Ap 19.8)
a fim de que possam estar preparados para a vinda de Jesus (Rm 13.14; 1Co 5.3; 1Jo 2.28).
A
tristeza pela morte da aboboreira deveria servir para Jonas enxergar a tristeza
de Deus pela morte de Nínive. Deus faz com a aboboreira exatamente aquilo que
Jonas gostaria que fosse feito com os ninivitas. A ideia é que ele percebesse
que nenhuma destruição é boa e sempre traz consequências terríveis para aqueles
que ficam.
Não
é à toa que Jesus ordena que amemos o próximo (Mt
5.44), pois a
destruição daqueles que nos odeiam, embora possa trazer um aparente alívio, nos
priva também de um canal de bênção (Mt 18.18,19). Ainda mais considerando que a
ideia era incitar Israel à emulação, já que, ao virem o quão rápido os
ninivitas creram em Deus, eles ficassem enciumados e decidissem buscar a Deus
com mais zelo (Dt 32.21; Rm 10.19;
11.11,14). Ou
seja, o despertamento deveria ocorrer, não pela destruição de Nínive, mas pelo
seu favorecimento por Deus.
Jonas
não conseguia enxergar que, ao ir a Nínive pregar a Palavra de Deus, ele estava
sendo um sinal profético do ministério que Israel e, em seguida, nós, iria
desempenhar: o de ir até os confins da terra para anunciar o evangelho da
salvação em Jesus (At 1.8), vindo também a dar um prefácio
do Novo Testamento, caracterizado, não mais pelo isolamento para não se
contaminar com os povos imundos, mas pelo contato da Água Purificadora com os
leprosos a fim de purificá-los (Ez 47.8,9) (no
que Jesus tocou um leproso, Ele estava revelando que, Nele, ninguém é
contaminado pelo contato com os pecadores (Mt 8.2,3), algo inimaginável no
Antigo Testamento (Lv 13.45,46; Nm 5.2-4)).
Com
relação ao vento oriental (Jn 4.8), o mesmo era símbolo de mentira
e destruição (Os 12.1). Quantas pessoas, para se verem
livres dos problemas, usam de mentiras e mortes para eliminarem aqueles que
odeiam (como se deu com Israel em Is 28.15,17).
Em
ambas as situações, a alma de Jonas ficou cheia de tristeza até à morte (tal como aconteceu com o
Salvador – Mt 26.38), só que por motivo diferente: Jonas queria
morrer por não concordar com o critério usado por Deus para manifestar Sua
compaixão; Jesus, por outro lado, se angustiava por reconhecer quantas pessoas
seriam condenadas por causa do justo juízo de Deus.
Veja como Jonas era impulsivo. Qualquer coisinha
era motivo para ele desejar a morte (Jn 4.9). Com relação a Nínive, ele não parava para
pensar que, se os pecadores ninivitas fossem mortos, mais de 120.000 crianças
pequenininhas do sexo masculino, que nem juízo tinham, iriam morrer (Jn 4.11; ver Dt 1.39; Is
7.15,16). Isto, sem contar a quantidade de animais que seriam
destruídos.
Embora os animais pareçam de pouco valor aos olhos
dos homens, Deus deles cuida (isto pode ser visto no livro de Jó - Jó 38-41). Mas o padrão do julgamento de Jonas é em função do bem que
algo ou alguém lhe proporcionava. Para ele, uma reles aboboreira tinha mais
valor que os 120.000 meninos pequeninos e os animais. E tudo porque esta
aboboreira lhe proporcionava um certo alívio.
Enfim, o fato de este livro terminar com uma
pergunta, tem por finalidade mostrar para nós as consequências terríveis que um
simples ato nosso pode ter na vida de milhares de criaturas inocentes. Por
exemplo, ao matar um pai perverso, a pessoa está prejudicando também esposa e
filhos que, talvez, nem estejam cientes de tudo que está acontecendo. Nossa
atitude pode prejudicar a vida de todas as pessoas que estão à volta dela, mas
que nada têm haver com o que ela fez conosco. E no final, este mal pode acabar
voltando sobre a nossa cabeça (Gl 6.7-9).