quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

82 - As três coisas que impedem o sucesso num relacionamento

NÃO SEJA DEMASIADAMENTE JUSTO, NEM EXAGERADAMENTE SÁBIO

(as três coisas que impedem o sucesso num relacionamento)

 

Muitas pessoas se queixam em virtude do fracasso nos seus relacionamentos. Muitos filósofos, gurus, sábios da Nova Era, teólogos, sociólogos, psicólogos, etc. tentam em vão descobrir respostas, mas a única coisa que conseguem é inchar este mundo de vã sabedoria e frustrações.

Ninguém vai ao ponto em questão. Ao invés disto, querem desviar daquilo que sabem ser verdade, mas teimam em não querer aceitar.

 

Primeiro: O Eterno não quer que sejamos perfeitos por nós mesmos.

 

            Você pode questionar: mas o Eterno não ordenou a Abraão que fosse perfeito (Gn 17.1) e Jesus não confirmou que isto é também para nós (Mt 5.48)?

A perfeição aí referida não é a de ser infalível, mas sim a de reconhecer e aceitar a própria fraqueza e falhas e, sobretudo, a necessidade, por isto, de se humilhar diante da potente mão do Eterno (1Pe 5.5-7), o que implica em nos sujeitarmos uns aos outros (Ef 5.21).

Em outras palavras, a grande virtude do ser humano não é a de acertar sempre, mas sim a de perdoar a si mesmo e aos outros a cada vez que uma falha é cometida. Se o Eterno quisesse que fôssemos perfeitos por nós mesmos, ele teria nos criado como os anjos. No entanto, nascemos sem habilidades, conhecimento e sabedoria e, quando finalmente, adquirimos uma pequena bagagem dos mesmos, vamos sendo privados delas pela velhice, até sermos obrigados a nos desfazermos de tudo.

Aliás, o objetivo de todas as coisas não é nos encher de boas obras, mas sim do Espírito do Eterno, de modo a sermos ricos para com Ele (Lc 12.21). Temos que ser o depósito do bom tesouro do Eterno para nós (2Co 4.7; Tm 1.14).

Repare como não é para ninguém viver a própria vida (Mt 10.39). Antes, nossa vida está escondida com Cristo no Eterno (Cl 3.3).

Quantos são os indivíduos que gostam de sonhar (daí o sucesso das novelas, filmes, jogos, etc.). Ora, o sonho nada mais é do que sair da própria realidade. Quando entregamos a vida a Jesus, passamos a viver a realidade Dele na vida daqueles que Ele traz a nós, e passamos a nos alimentar daquilo que é Dele (Jo 6.51-57). Somos livres do fardo pesado de termos que carregar sozinhos a nossa vida.

Passamos a viver em prol de uma causa: a causa de Cristo. E isto, não visando os direitos individuais de cada um, mas sim o amor, o prazer na companhia do Eterno. Não estamos mais sós para vivermos nossa morte, mas passamos a desfrutar de uma boa companhia para vivermos a vida de Jesus. O que não éramos capazes de fazer por nós mesmos sozinhos, nos tornamos capazes de fazer com a companhia dos outros quando os mesmos pensam e sentem como nós (daí a ordem de 1Co 1.10).

 

·         “Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.” (Jo 13.14).

 

Pense: por que você acha que o Eterno, em Jesus, deu esta ordem? Note como não é para lavar os pés dos outros, mas sim “uns dos outros”. Ou seja, não é para lavarmos os pés dos outros, como se eles apenas é que tivessem defeitos.

Devemos também dar ocasião para que eles possam ser limpos prestando-nos o serviço de lavar nossos pés (ver Lc 11.41). Não quero dizer com isto que devemos falhar propositalmente, tampouco sermos negligentes em buscarmos sermos agradáveis ao Eterno.

Antes, a ideia é seguirmos o conselho de Salomão:

 

·         Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo? Bom é que retenhas isto, e também daquilo não retires a tua mão; porque quem teme a Deus escapa de tudo isso.” (Ec 7.16-18).

 

Note como todo aquele que tenta ser demasiadamente justo ou exageradamente sábio acaba se destruindo. Isto se dá por causa da contabilidade, ou seja, do senso de justiça própria que cada um insiste em ter, o qual consiste em obrigar-se a um elevado padrão de justiça e sabedoria a fim de se achar no direito de cobrar isto dos outros.

O indivíduo impõe sobre si um fardo muito pesado para ser carregado, só para não ser cobrado pelos outros, nem deles precisar. Todavia, mesmo que este nível de perfeição seja alcançado, não conseguirá fazer ninguém feliz.

O que a maioria não conseguiu até hoje enxergar é que nossa satisfação deve ser a poder ser usado pelo Eterno onde a falha se manifesta na vida dos que estão à sua volta (ver Lc 7.47). Ou seja, os problemas na vida dos indivíduos devem servir como expectativa de poder uma vez mais ajuntar tesouros (Mt 6.19-21) nos tabernáculos eternos (Lc 16.9).

Pense: no episódio do bom samaritano, quem foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores (Lc 10.36)? Não foi aquele que usou de misericórdia para com ele? Logo, o nosso próximo será aquele que o Eterno poderá usar para demonstrar Sua compaixão e misericórdia para conosco (Rm 9.15). Mas como, se insistirmos em uma pretensa perfeição, tal como as 99 “ovelhas” que, supostamente, não precisavam de arrependimento (Lc 15.4,7)?

 

·         “A alma farta pisa o favo de mel, mas para a alma faminta todo amargo é doce.” (Provérbios 27.7).

 

Aquele indivíduo que se fartou de si mesmo, encontrou satisfação no sucesso dos seus dons, talentos e habilidades, fatalmente irá pisar em muitos favos de mel. Aliás, é por isto que muitos nos desprezam: não há lugar para nós na vida deles, visto estarem tão cheios. E, mesmo se houvesse, seríamos apenas mais um na vida deles.

Não é à toa que existem muitos doentes na Igreja:

 

·         “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do SENHOR. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem.” (1Co 11.28-30).

 

Os religiosos cristãos, instigados pelo Sistema religioso, valorizam tanto o ato de comer o pão e beber o vinho, que esquecem da mais importante lição dada pelo Mestre na santa ceia: “lavar os pés uns dos outros” (Jo 13.14).

Ora, só tem sentido em lavar o pé de quem está sujo, o que comprova que o mais importante não ficar com os pés limpos, mas sim estar disposto a lavar e, principalmente, a se deixar lavar. Tanto que Jesus disse para Pedro que, se Ele não lhe lavasse os pés, não teria parte com Ele (Jo 13.8).

Veja o que disse João:

 

·         “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” (1Jo 1.8-10).

 

Muitos entendem mal esta passagem, achando que João estava dizendo para confessarmos nossos pecados ao Eterno. Eu te pergunto: para quê, já que Ele sabe de tudo? É bem verdade que Ele deseja que humildemente reconheçamos nossos erros e busquemos no Seu perdão a solução para os mesmos.

Contudo, o mais importante para nós é compartilharmos isto com as pessoas que o Eterno faz aproximar de nós:

 

·         “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.” (Tg 5.14-16).

 

 

Isto pode parecer loucura. Talvez você pense: mas se todos ficarem sabendo das minhas falhas, ninguém vai gostar de mim. É claro que as almas fartas irão se afastar. Todavia, aqueles que realmente serão bênção na nossa vida irão nos amar deste modo.

Afinal, é para isto que o Eterno nos concede relacionamentos. Ao invés de firmarmos nossos relacionamentos nas qualidades dos indivíduos (buscando sugá-los), devemos nos firmar nos seus defeitos, entendendo que nosso papel diante do Eterno é sermos usados por Ele para tratar o coração dos indivíduos. Se assim procedêssemos, nunca seríamos desapontados pelos defeitos, já que tínhamos pré-conhecimentos dos mesmos, bem como ciência de que foi por causa deles que fomos colocados na vida de tais indivíduos.

 

Segundo: É justamente aqueles que possuem mais defeitos que serão mais bênção nas nossas vidas

 

Sonhei ontem, 30/12/2014, que tinha me dirigido à casa de alguém em busca de auxílio, já que minha bicicleta estava com o pneu vazio. A dona da casa abriu e eu pude encher o pneu da bicicleta. O marido não disse nada.

Hoje, 31/12/2014, sonhei que novamente o pneu da minha bicicleta estava vazio e fui na casa deste mesmo homem pedir ajuda. Ele não quis me ajudar. Fiquei durante vários minutos pleiteando com ele, mas tudo em vão.

Neste meio tempo, alguém o chamou (não me lembro se pessoalmente ou por telefone). Sei que ele escreveu um bilhete a meu respeito. Não deu para entender tudo que estava no bilhete. Sei que ele recomendava a alguém para não me ajudar porque eu buscava coisas altas e nocivas.

Só no final do sonho é que me veio à mente que eu não deveria me conformar com o descaso do homem, mas que, ao invés disto, eu deveria buscar, de todos os modos, entender o que ele tinha escrito e compreender o que quis dizer, fazendo força para que ele revelasse os demais motivos ocultos e, assim, buscar a restauração do relacionamento.

Isto me trouxe à memória este trecho:

 

·         “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.” (Mt 5.23-26).

 

Precisamos aceitar que todos têm falhas e buscarmos, no que depender de nós, termos paz com todos os homens (Rm 12.18). Mais ainda: buscar a paz com todos (Hb 12.14).

 

Terceira: Fomos chamados para padecermos com Cristo

 

·         “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte;” (Fp 3.8-10);

·         “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele,” (Fp 1.29);

·         “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja;” (Cl 1.24);

·       “E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis. Não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados, para que por herança alcanceis a bênção.” (1Pe 3.10-12).

 

Assim como são os doentes que precisam de médico (Mt 9.12,13), Jesus não veio chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. É claro que, no início, só vamos receber o mal e a injúria, já que é isto que há no coração destas pessoas.

Contudo, se realmente queremos que a graça do Eterno superabunde na nossa vida, temos que aceitar que Ele traga a nós justamente aqueles que estão repletos de pecado (Rm 5.20). Considerando que a quem mais se perdoa mais ama (Jo 7.47), são estes indivíduos que serão bênção na nossa vida, justamente os que a sociedade rejeitou (ver Jo 9.35). São estes corações famintos que considerarão até mesmo nossa amargura como algo doce.

Não quero sugerir, com isto, que devemos nos conformar com nossas falhas ou a dos indivíduos que o Eterno faz aproximar de nós. Antes, devemos buscar no Eterno a plena concordância com eles:

 

·         “Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus.” (Mt 18.29).

 

Ora, mas se eles estão no erro, como pode ser isto? É justamente aí que entra a obra do Eterno na nossa vida. Quando alguém persevera na companhia daquele que o Eterno lhe dá, chegará um dado momento que, ao invés de cada um tentar conciliar sua vida com a do outro (como que “um lavando a mão do outro”), que ambos irão enxergar a necessidade de renunciarem suas vidas de modo que Cristo seja tudo na vida de ambos. Neste momento, ambos estarão vivendo a vida Eterna, a fim de que todos quantos desejarem, possam optar pela mesma, renunciando tudo que poderiam ser e ter neste mundo para poderem alcançarem superior ressurreição (Hb 11.35).

Enfim, o segredo do sucesso em um relacionamento está em conhecer a Escritura Sagrada, o poder e os dons do Eterno (Mc 12.24; Jo 4.10) e em buscar diretamente do Eterno onde e como os mesmos podem ser usados com eficácia na vida de cada um que o Eterno lhe dá. Relacionamento não é para ter os prazeres da carne satisfeitos, mas sim uma disposição firme de buscar no Eterno sair deste mundo virtual a fim de, junto com o outro indivíduo, ter acesso ao verdadeiro mundo do qual todos os que creem em Jesus são cidadãos (Fp 3.20,21).  

81 - PASSAGEM DO SAMARITANO - O que fazer para herdar a vida eterna?

A Passagem do Samaritano

 

·        “E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; e, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.” (Lc 10.25-37).

 

Em primeiro lugar, em nenhum lugar na Escritura Sagrada é dito que este episódio é uma parábola. Logo, é um fato que aconteceu e que Jesus usou para ensinar o doutor da lei.

Além disto, não podemos chamar o que se moveu de íntima compaixão de “bom” samaritano, já que bom só existe um que é o Eterno (Mt 19.17; Mc 10.18; Lc 18.19).

Nesta passagem, há vários personagens:

 

       1º -  O inquiridor: o doutor da lei;

       2º -  O líder religioso: o sacerdote;

       3º -  O auxiliar do líder religioso que, após Davi, fora encarregado de louvar ao Eterno com hinos: o levita;

       4º -  O prestador de serviços: o hospedeiro.

       5º -  Os responsáveis pelo dano: os salteadores;

       6º -  A vítima do Sistema Babilônico (o qual rege este mundo): o que caiu nas mãos dos salteadores;

       7º -  O viajante: o samaritano.

 

Onde estava a salvação do moribundo que estava prestes a morrer?

Com certeza não estava no doutor da lei, pois, embora ele fosse muito estudioso da Escritura Sagrada, alguém que questionava, que buscava conhecer a fundo a verdade (ainda que com a disposição de tentar Jesus), até então não tinha entendido o que havia de mais importante na lei do Eterno.

Isto nos ensina que, embora seja indispensável meditar na Escritura Sagrada, não é isto em si que trará salvação aos indivíduos à nossa volta.

Também a salvação não estava no líder religioso. Embora esta fosse uma ocasião especial promovida pelo Eterno para que ele pudesse ser usado para o bem (note a palavra “ocasionalmente” (Lc 10.31)), ele não conseguiu discernir isto. Mesmo vindo pelo mesmo caminho do moribundo, o que implica que tanto o morimbundo, quanto o sacerdote estavam vindo do mesmo lugar (provavelmente do templo em Jerusalém, já que um levita também vinha por este caminho), no entanto o sacerdote se desviou dele (talvez para não se contaminar, já que tocar em alguém ensanguentado significava se tornar imundo até à tarde (ver Lv 15.7)).

Muito menos a solução estava no levita. É bem provável que este também não quisesse se contaminar e ter o trabalho de ter que lavar suas vestes, tomar banho e ter que ficar isolado até à tarde.

Embora a Escritura Sagrada não revele o motivo exato que levou sacerdote e levita a não considerarem importante a tarefa de ajudar aquele moribundo, uma coisa é certa: o exercício dos preceitos religiosos constituíam uma tentação na carne e uma barreira a separar judeus de gentios (Ef 2.14,15), limpos de imundos, etc.

Com isto pode-se ver que a solução não estava no Sistema religioso (seja através do doutor da lei, do sacerdote ou do levita). Logo, não adiantava melhorar a quantidade e qualidade dos serviços religiosos. O que estes três precisavam não era de mais conhecimento da Escritura Sagrada, nem de mais preceitos religiosos, muito menos de novos e mais qualificados hinos de louvor. Promover tais coisas seria mera perda de tempo, já que não foi por falta de tempo ou de algum destes itens que o moribundo deixou de ser usado.

Além disto, considerando que o saber ensoberbece (1Co 8.1), logo mais conhecimento sem amor só faz o indivíduo se considerar melhor e mais digno. Em outras palavras, o indivíduo tornar-se-á arrogante, mesquinho, cruel, discriminador.

Para ser mais exato: melhorar a qualidade de culto sem, antes de tudo, haver uma melhora interior, só distanciará os indivíduos ainda mais do Eterno e uns dos outros.

A solução também não estava no mundo com toda sua prestação de serviços. A hospedaria tinha os recursos para ajudar. E mesmo que não tivesse, torná-la mais sofisticada só encareceria o custo da hospedagem.

A solução também não estava no povão, visto que, entre eles, cumpre-se o que foi profetizado:

 

·        “Já pereceu da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que seja justo; todos armam ciladas para sangue; cada um caça a seu irmão com a rede, as suas mãos fazem diligentemente o mal; assim demanda o príncipe, e o juiz julga pela recompensa, e o grande fala da corrupção da sua alma, e assim todos eles tecem o mal. O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que a sebe de espinhos; veio o dia dos teus vigias, veio o dia da tua punição; agora será a sua confusão. Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca. Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa.” (Mq 7.2-6).

 

Logo:

 

·        “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jr 17.5).

 

Em resumo, o povão, por não ter Cristo, só quer roubar e assaltar a quantos puder, cada um com seu método peculiar de extorquir e violentar o próximo.

A solução, no final, esteve através da vida de alguém que estava de viagem, passando pelo local onde o moribundo estava (note como a Escritura Sagrada não diz que o samaritano estava vindo pelo mesmo caminho, nem que foi ocasionalmente).

Ou seja, a solução veio através de um estrangeiro, que ligação alguma tinha com Israel ou seus rituais. Considerando que eles também eram estranhos às alianças da promessa (Ef 2.12), logo dificilmente era alguém que fosse servo do Eterno. Quem sabe não era um espírita, satanista, etc.? Seja como for, uma coisa é certa:

 

·         Bom, ele não era (como visto acima);

 

De uma forma ou de outra, ele era alguém que não era digno de confiança. Fisicamente ele não era médico; espiritualmente, não tinha um conhecimento bom do Eterno. Socialmente era mau rotulado por sua origem étnica (ver Jo 4.9). No entanto, foi daí que veio a resposta do Eterno para aquele moribundo.

E isto não é tudo! Você se lembra como que este trecho começou? Com a pergunta do doutor da lei: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Ou seja, a vida Eterna tem haver com receber a ajuda por Ele enviada, independente de quem seja esta. Ainda mais considerando a pergunta feita por Jesus ao doutor da lei: “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” (Lc 10.36).

Note que Jesus não perguntou: “quem foi o próximo do sacerdote, do levita ou do samaritano”, mas sim “quem foi o próximo do moribundo”. Ou seja, embora seja importante ajudarmos o próximo indivíduo que surge na nossa vida, a verdadeira salvação tem haver principalmente com se deixar ajudar por aquele que o Eterno traz até nós.

É claro que, pela carne, é difícil esperar que um faminto, sedento, nu, estranho, presidiário ou doente tenha interesse e muito menos capacidade para nos ajudar (ver Mt 25.41-46). Muito menos podemos aceitar a ideia de que é o Judas a solução dos nossos problemas.

No entanto, pense nos indivíduos que o Eterno, como Jesus, elegeu para o ministério: quatro pescadores iletrados, um cobrador de impostos, um revolucionário e um ladrão para cuidar justamente das finanças. Isto parece não ter lógica.

Todavia, pense: alguém precisava ser o tesoureiro do grupo. Considerando que o dinheiro corrompe corações, nada mais indicado do que Judas, visto que ele não tinha como ser corrompido pelo dinheiro: ele já era um corrupto. Além disto, quem era mais indicado para preencher a vaga de traidor (descrita em Sl 41.9) e, assim, cumprir a Escritura Sagrada? Quem, sendo discípulo de Jesus seria o mais apto para receber o espírito de Ha-Satan a fim de dar a ele participação especial no maior episódio de todos os tempos (Jo 13.26)?

Para ser mais exato: até o próprio Ha-Satan teve papel especial no processo da nossa salvação. E tudo isto para nos ensinar que, independente dos indivíduos que o Eterno escolheu para nos apoiar ministerialmente, apesar de todas as artimanhas de Ha-Satan, nada pode impedir que aquilo que o Eterno planejou para nós se cumpra. Aliás, se o Eterno permitir Ha-Satan ou um Judas entrar na nossa vida é porque a boa, agradável e perfeita vontade do Eterno (Rm 12.2) só cumprir-se-á em nós com a participação deles.

Muitas vezes aquele que estamos chamando de “amigo importuno”, na verdade, é o nosso verdadeiro amigo. Veja a parábola:

 

·        “Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar; digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister.” (Lc 11.5-8).

 

Note que o amigo viajante chegou à meia-noite. Por que não em outro horário? Porque foi exatamente à meia-noite que ouviu-se o grito: “Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro.” (Mt 25.6). Ou seja, este amigo viajante foi enviado pelo Eterno para acordar os dois amigos a fim de que eles “acendessem suas lâmpadas” e estivessem prontos para o encontro com Jesus. Logo, esta é a parábola do amigo OPORTUNO.

Perceba como neste episódio e na parábola do amigo oportuno, foi um viajante a resposta para o problema. Ou seja, alguém que não criou raízes em um determinado lugar, mas estava sempre exatamente onde o Eterno o queria (ver Jo 3.8).

Todavia, pensando pela carne, quer coisa mais inoportuna do que chegar um estranho em sua casa pedindo água e comida quando nada mais havia para comer? No entanto, se Elias não tivesse chegado ali, aquela mulher morreria de fome com seu filho (1Rs 17.8-15). Ela pensou que estava ajudando, mal sabendo ela que, ao fazer aquele gesto, ela é que estaria sendo ajudada.

O mesmo se deu com a samaritana (Jo 4.7). Ela achou que estaria fazendo um imenso favor dando água a um judeu quando, na verdade, era ela que estava prestes a receber a Água Viva.

Como você pode ver, receber ajuda é muito mais difícil do que ajudar. Se para a samaritana era absurdo um judeu lhe pedir água, quão dirá se Ele já lhe oferecesse de imediato a Água Viva. Ela provavelmente pensaria: “Mas que sujeito mais arrogante! Achar que é Ele que tem a solução da minha vida!”.

De igual modo, se para a sunamita compartilhar a comida era difícil, quão dirá aceitar a ideia de que um viajante faminto e sedento poderia ser a solução dos seus problemas. Alguém nestas condições só pode significar um peso na vida de quem o recebe.

Tome como exemplo o caso de Pedro (Jo 13.6-8). Considerando que ele sempre obedecia Jesus, não creio que ele tivesse dificuldade para lavar os pés de Jesus ou dos apóstolos caso Jesus ordenasse. No entanto, ele teve dificuldade em aceitar que Jesus lhe lavasse os pés.

Quantos indivíduos investem pesado só para terem, em mãos, todo o poder necessário para escolher o profissional que lhe parece mais qualificado para resolver seus problemas.

Você pode questionar: “mas a ajuda de Jesus é a mais qualificada que existe!”. Correto. Sendo assim, então por que os indivíduos buscam a ajuda Dele em último lugar? (Isto quando buscam!). Veja o caso de Acaz:

 

·        “E continuou o SENHOR a falar com Acaz, dizendo: pede para ti ao SENHOR teu Deus um sinal; pede-o, ou em baixo nas profundezas, ou em cima nas alturas. Acaz, porém, disse: Não pedirei, nem tentarei ao SENHOR. Então ele disse: Ouvi agora, ó casa de Davi: Pouco vos é afadigardes os homens, senão que também afadigareis ao meu Deus?” (Is 7.10-13).

 

Acaz achava mais fácil confiar na “ajuda” de Tiglate-Pileser do que no Eterno (2Rs 16.7-10). Ou seja, até a ajuda do Eterno é considerada menos conveniente do que a ajuda de um homem tido como grande aos olhos dos outros.

No entanto, não importa o quão simplória pareça ser a fonte da solução provida pelo Eterno (seja cinco pães e dois peixes (Mt 14.17), cinco pedrinhas e uma funda (1Sm 17.40,50), um cajado (Êx 4.2), a queixada de um jumento (Jz 15.15), etc.), a eficácia não está no vaso, mas no seu conteúdo (2Co 4.7). O próprio Jesus foi rejeitado justamente por parecer fraco frente ao exército romano e, portanto, incapaz de libertar Israel. Infelizmente estavam esperando a ajuda errada.

Enfim, nosso próximo é aquele que o Eterno coloca na nossa vida para nos ajudar, independente de quem seja ele, sendo neste processo que está a nossa salvação.