quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

54 - A Verdade Sobre o Batismo na Água - Parte 4

12 – A verdadeira purificação dos pecados

Na Antiga Aliança o sumo-sacerdote deveria entrar no Santo dos Santos uma vez por ano para purificar, com sangue, o santuário terrestre das imundícias dos filhos de Israel, ou seja, o sacerdote deveria dedicar sua vida para que todos tivessem a visão correta da lei de Deus.
Mas a visão do povo com relação às circunstâncias do dia a dia também tinha que se manter correta. Como o sumo-sacerdote sozinho não dava conta, havia sacerdotes para o auxiliarem.
Entenda: O sangue é que purificava os pecados dos que criam com o coração (At 15.9; Tt 2.14; Hb 1.3; 9.13,14,22,23; 1Jo 1.7), sendo que a purificação acontece dia a dia. Por isto é que os sacerdotes tinham que oferecer sacrifícios todos os dias. Como quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue (Hb 9.22,23) e ele não podia dar o seu, então ele tinha que sacrificar animais.
O certo era o sacerdote dar sua vida, mas como este era pecadora, caso ele morresse, não poderia tornar a viver (Rm 6.23), tal como se deu com Jesus. Assim sendo, alguém tinha que morrer por ele, para que ele pudesse continuar a viver e a cumprir a vontade de Deus para sua vida.
Ou seja, o sacerdote tinha que dar sua vida (seu sangue) para manter as pessoas separadas das imundícias da carne. Mas isto não era possível, pois ele não podia ficar acordado 24 horas. Além disso, sua vida não podia entrar no coração das pessoas e transformá-las por dentro. Era um esforço interminável para conter a besta que habitava no coração de cada um, bastando um vacilar para a pessoa ceder.
No final das contas, o sangue dos sacrifícios do Antigo Testamento acabava mantendo apenas a carne dos sacerdotes pura (Hb 9.13), visto que, na medida em que os sacerdotes estavam ocupados oferecendo os sacrifícios e se empenhando para que a lei de Deus fosse cumprida por cada um, eles não estariam perdendo tempo com bobagens.
Logo, não era o povo que era santificado com os sacrifícios que ofereciam, mas os sacerdotes (e isto pensando apenas na carne). A ideia era mostrar que ninguém é purificado com simples sacrifícios. Por mais consagrados que pudessem ser os sacerdotes, o que quer que eles fizessem só beneficiava a eles mesmos, já que apenas o mover do Espírito Santo na vida de cada um pode purificar a pessoa. Aquele que quiser experimentar a salvação de Cristo dentro de si terá que se consagrar a Deus ao invés de tentar se apoiar nas boas obras dos outros.
Enfim, o sangue é para purificação dos pecados, de modo que cada um tivesse a visão correta a respeito de Deus (primeiro mandamento de Jesus).
A água, representando a Palavra (Jo 15.3; Ef 5.26), iria purificar nossos passos (Jo 13.14) através da lavagem da regeneração e renovação do Espírito Santo (Tt 3.4-6), por meio da liberação do perdão de Cristo (ajunte Mt 16.19; 18.18 com Jo 20.22,23) a cada pessoa que se aproxima de nós, independente da situação. Ou seja, a água é o Espírito Santo nos guiando (Rm 8.14) a um relacionamento correto com cada pessoa que se aproxima de nós (2º mandamento de Jesus).
A fé que purifica é a confiança contínua, diante de cada questão que surge, de que o amor de Jesus existente na Sua Palavra irá resolver tudo (daí 1Pe 1.22).
Não é à toa que João diz:

[ “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus? Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue. E o Espírito é o que testifica, porque o Espírito é a verdade. Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num.” (1Jo 5.5-8).

Que Jesus veio em água e sangue, repare no que é dito em (Jo 19.34):

[ Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.

Ou seja, até ao morrer Deus deu testemunho visível de que, quem o tem, possui a verdadeira água, sangue e Espírito Santo que limpa, já que toda lei se cumpriu Nele. Nele estamos perfeitos (Cl 2.10). Acrescentar algo é negar o favor de Cristo e, consequentemente, nos separarmos Dele (Gl 4.5).
Ajuntando com o fato de que todos temos que nascer da água e do Espírito Santo (Jo 3.5), temos então a testificação tripla no céu e na terra.
No céu (é assim que os anjos contemplam Deus agindo através da Igreja - 1Co 4.9; Ef 3.10; 1Pe 1.12):

*      O Pai -> Deus se manifestando externamente através de sinais, prodígios e maravilhas;
*      A Palavra -> Deus se relacionando com nós através das pessoas;
*      O Espírito Santo -> Deus operando internamente no nosso caráter, de modo a darmos fruto (Jo 15.8).

Na terra (é assim que as pessoas vão perceber que Deus existe):

*      O Espírito Santo (relacionamento) -> nos lava mantendo em comunhão com a Igreja (Jo 13.34,35; 17.11,21-23; 1Co 12.13) e com o Pai (2Co 13.13), de modo a podermos ouvir Sua voz e conhecê-Lo melhor (Gl 4.9);
*      A água (modo de agir, a graça de nosso Senhor Jesus) -> A Palavra de Deus nos lava nos conduzindo e justificando nas circunstâncias do dia a dia (Rm 4.25), nos capacitando ao perdão que religa a pessoa a Deus e a nós por meio da Palavra;
*      O sangue (estilo de vida, o amor do Pai (1Jo 4.9; 5.3)) -> A vida de Cristo nos lava capacitando a viver aquilo que é agradável ao Pai.

‘           Em outras palavras, os três são para lavar.
            Detalhe: nosso primeiro nascimento também se deu em meio a água e sangue através do Espírito Santo que nos formou no ventre da mãe (Sl 139.13-16).
            Elias, ao oferecer Seu holocausto no Monte Carmelo, lá havia água, sangue e o Espírito Santo, já que Deus se revelou ao povo de Israel mandando fogo do céu (1Rs 18.30-38).
            E para ilustrar o modo como a Palavra de Deus iria purificar nossos caminhos, eis algumas ilustrações:

[  Moisés, ao ser tirado das águas, recebeu este nome como que apontando para o novo nascimento que haveria de acontecer quando a pessoa acolhesse a Palavra no coração e fosse batizada com o Espírito Santo. Mas a verdadeira transformação deu-se por ocasião do encontro na sarça ardente, que simbolizava o batismo do Espírito Santo (Êx 3.1,2);
[  Quando os sacerdotes entrassem na tenda da congregação ou se chegassem ao altar para ministrar, para acender a oferta queimada ao SENHOR deveriam lavar pés e mãos com água para que não morressem. (Êx 30.18-21).
[  Não é à toa que Pedro pediu para que lavasse Suas mãos e cabeça quando Jesus disse que não teria parte com Ele se não lhe lavasse (Jo 13.8,9). Jesus disse que, quem está lavado, não precisa seguir os métodos de purificação levítica para se purificar (Jo 13.10), mas tão somente continuar ouvindo Sua Palavra (Jo 15.3) e se colocando nas mãos de Deus a serviço do próximo (Jo 13.14).
Até hoje muitos se recusam a serem lavados por Cristo. Ao invés disto, eles é que tentam purificar o próprio Jesus. Afinal, quando não confiamos no amor de Deus por nós, mas buscamos métodos e rituais alheios à sua vontade, recheados de obras que os homens consideram boas, para tentarmos nos justificar, estamos negando o que Jesus fez por nós.
Mas afinal, havia alguma diferença entre o batismo de João e a água com que Jesus lavou os pés dos discípulos? Nenhuma! A mensagem a ser passada é que Jesus iria purificar seus caminhos na medida que eles se dispusessem a se humilhar a fim de poderem servir ao próximo (Lc 22.24-27)
Detalhe: isto foi dito na santa ceia, quando Jesus lavou os pés dos discípulos, onde Jesus deveria ser lembrado por fazermos aquilo que Ele fez, e não por querer continuar recebendo Dele, como que insistindo em continuar vê-Lo como homem (algo refutado em 2Co 5.16). Ou seja, ao invés de viver de necessidade em necessidade (atrapalhando o acesso a outros), a santa ceia aponta para a importância de tomarmos para nós a disposição de dar para suprir outros (Jo 4.13,14; 7.37-39), pois foi isto que fez Jesus.
Inclusive, a prova de que aquela lavagem dos pés não tinha nenhum valor em si mesma é que Judas, embora lavado, ainda assim traiu (Jo 13.10-11); Pedro, embora lavado, negou três vezes.
[  A cura de Naamã: “Então Eliseu lhe mandou um mensageiro, dizendo: Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será curada e ficarás purificado. Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou-se como a carne de um menino, e ficou purificado.” (2Rs 5.10,14) – Isto é sombra do batismo com o Espírito Santo que lava a pessoa de tal modo que ela se torna uma criatura totalmente novo, como se tivessem nascidos de novo literalmente (Jo 3.3,5);
[ Transformação da água em vinho: “E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes. Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram. E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho” (Jo 2.6-9) – Com tal transformação, ficou claro que não é o batismo nas águas, mas o sangue de Jesus que nos purifica de todo o pecado.
Aliás, deste tipo de lavagem Jesus tachou os fariseus como hipócritas (Mt 23.25; Lc 11.39). De que adianta limpar o exterior, quando o coração está cheio de maldade? O próprio João Batista deixou claro que, se eles não produzissem frutos dignos de arrependimento, de nada valeria o batismo dele (Mt 3.7-8). Afinal, como pode um homem purificar-se sendo imundo (Tt 1.15)? Seus métodos de purificação acabam justamente tornando ele mais sujo, mais cheio de si mesmo e auto-suficiente. Quem está morto no pecado não consegue ver lucidez no evangelho de Cristo (1Co 2.14-16).
[ A Água Viva: “Jesus respondeu, e disse-lhe: qualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.” (Jo 4.13,14) – ao beber do Espírito Santo (Jo 7.37-39) a sede da alma teria fim e finalmente encontraremos felicidade nos relacionamentos (pérolas – Mt 7.6) que Deus nos deu;
[ A cura do cego de nascença: “Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé ( que significa o Enviado ). Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo.” (Jo 9.6,7) – Ao lavar no tanque que significa Enviado, estava sendo ilustrado que o batismo com o Espírito Santo nos sepulta no corpo do Enviado (1Co 2.13) a fim de que sejamos enviados como Jesus o foi (Jo 20.21) e passamos a ser purificados na nossa forma de ver (Mt 6.22,23; Tt 1.15) e, assim, não sejamos mais cegos para a Verdade.

13 – Conclusão

Batismo sempre está relacionado como libertação, a saber, libertando o justo do mundo, bem como dos inimigos que os perseguem, principalmente dos membros do sistema religioso que usam a Escritura Sagrada para induzirem as pessoas a cultuarem a Deus de modo falso, a saber, buscando em Cristo apenas nas coisas deste mundo (1Co 15.19).
Mais ainda: batismo representa libertar da pessoa do sistema religioso. Tanto é assim que, quando os líderes religiosos (fariseus, na época) iam a João Batista para serem batizados, João se recusava a fazê-lo (Mt 3.7-10). Afinal, quando a pessoa não crê de coração em algo, o transforma em amuleto, ou seja, algo para ser acrescentado à sua força (garantir mais salvação). O raciocínio dos tais era o seguinte: “na dúvida, deixe-me aderir: se não for de Deus, que mal há? E se for, estou recebendo uma bênção a mais”. 
Enfim, num sentido mais profundo, o batismo representava a morte para o regime do Antigo Testamento a fim de pudesse ser movido diretamente pela Graça de Deus.

Hoje só há um batismo (Ef 4.5): o batismo do Espírito Santo que nos sepulta no corpo de Cristo (1Co 12.13) a fim de andarmos em novidade de vida, sendo guiado por Sua voz (Rm 7.6; 2Co 5.17) em toda a Sua Palavra (Rm 8.3,4).

54 - A Verdade Sobre o Batismo na Água - Parte 3

9 – Batismo de Noé

[ “Assim também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus, sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no Espírito, no qual também foi pregar aos espíritos em prisão, os quais noutro tempo foram desobedientes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se fabricava a arca, na qual poucas pessoas, isto é, oito almas, se salvaram através das águas. Esta água, figurando o batismo, agora vos salva, não a purificação da imundícia da carne, mas a questão a respeito de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo” (1Pe 3.18-21).

Como o batismo salva?
Na época de Noé a maldade tinha se multiplicado na terra (Gn 6.9). Toda carne tinha corrompido o seu caminho (Gn 6.11,12). Veio então o dilúvio que destruiu toda a terra, juntamente com as pessoas, animais e as obras que nela havia. Ou seja, o mundo com tudo o que nele existe havia morrido para Noé (Gl 6.14). Agora, sua vida não teria mais nada haver com aquele mundo outrora, mas um novo mundo estava se iniciando a partir dele.
Agora, todos quantos somos batizados pelo Espírito Santo em Jesus Cristo, a saber, no Seu corpo (Rm 6.3; 1Co 12.13), somos batizados na Sua morte. De modo que, não servimos mais ao mundo, nem dele nos servimos mais (Gl 6.14; 1Co 7.29-31). Agora morremos para nós mesmos para que Jesus possa viver Sua vida em nós (Rm 6.4; 2Co 4.10,11; Gl 2.20).
Em outras palavras, trata-se de passar a ter uma boa consciência para com Deus em virtude de Jesus ter ressuscitado e, agora, viver em nós (1Pe 3.21). Consciência tão firmemente arraigada na nova vida (Rm 7.6; 2Co 5.17) que, agora, pode responder às indagações que nos são feitas (Cl 4.5,6; 1Pe 3.15).
Ou seja, o verdadeiro batismo não é a lavagem do corpo, mas da consciência, e isto por meio de Jesus vivendo em nós (1Pe 3.21). Implica em passarmos a enxergar as coisas do modo correto, de modo que, agora, ao fazermos qualquer coisa, o objetivo não é mais a execução de obras materiais (Gl 5.19-21), mas sim a produção de frutos celestiais.
Se o batismo fosse um testemunho da fé que professamos dentro de nós, como prega o sistema religioso, ele seria sem valor, já que o testemunho do homem não é confiável (Jó 14.1,2; Is 40.6-8; 64.6; Jo 2.24,25; 5.34). Por outro lado, considerando o batismo tal como se deu com Jesus, ou seja, Deus dando testemunho de Si em nós (o que é feito por meio do batismo com o Espírito Santo e Seus dons que nos libertam do cativeiro material e religioso – Ef 4.8), isto sim é confiável, não para as pessoas nos seguirem, mas para seguirem Jesus tal como veem em nós.

10 – Batismo realizado por Pedro

[ “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar. E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas,” (At 2.38-41).

Note como o batismo em nome de Jesus estava relacionado a receber de bom grado Sua Palavra (como em Mt 28.19) a fim de estarem com Jesus constantemente por meio do dom do Espírito Santo (Mt 28.20). Ou seja, quase 3.000 almas se agregaram ao corpo de Cristo (foram batizadas Nele), passando a fazer parte da Palavra de Deus viva que estava (e está) a andar por este mundo, movida pelo Espírito Santo.
Além disto, é bom lembrar que os judeus, embora dissessem crer em Jesus, não conseguiram se desapegar dos rituais do Antigo Testamento. Ou não entendiam, ou não queriam aceitar que não há modo de conciliar os dogmas do Antigo Testamento com a Nova Aliança:

[ “Disseram-lhe, então, eles: Por que jejuam os discípulos de João muitas vezes, e fazem orações, como também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem? E ele lhes disse: Podeis vós fazer jejuar os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então, naqueles dias, jejuarão. E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova e o remendo não condiz com a velha. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão. E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho.” (Lc 11.33-39).

Tanto é assim que, apesar das várias pessoas que professavam a fé em Jesus, ninguém houve que tentasse defender Paulo quando a multidão quis apedrejá-lo em Jerusalém (At 21.20-24). Estavam tão apegados ao templo e a seus rituais que se omitiram.
Por diversas vezes vê-se contenda sobre a importância de conservar os ritos judaicos, mesmo crendo em Jesus:
[  “E, despedida a sinagoga, muitos dos judeus e dos prosélitos religiosos seguiram Paulo e Barnabé; os quais, falando-lhes, os exortavam a que permanecessem na graça de Deus. E no sábado seguinte ajuntou-se quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus. Então os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava.” (At 13.43-45).

Note como muitos judeus e prosélitos, embora cressem no que Paulo pregava, não aceitavam a hipótese de os gentios serem aceitos.

[ “Então alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos. Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, sobre aquela questão.” (At 15.1,2).
[ Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto. E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Homens irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre nós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem.” (At 15.6,7).

Veja, neste e no trecho anterior, a grande contenda que surgiu só para debater se os gentios deviam se judaizar ou não.

[ “Respondeu, então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome do SENHOR. Então rogaram-lhe que ficasse com eles por alguns dias.” (At 10.47,48).

Pedro fez esta pergunta porque bem conhecia a falta de disposição dos judeus em crerem que os gentios também poderiam ser acolhidos por Deus (At 10.23,45,46), mesmo isto tendo sido mostrado através dos profetas (Am 9.7; Ml 1.11,14). Tanto é assim que, quando os irmãos da Judéia souberam do acontecido, contenderam fortemente com Pedro:

[ “E ouviram os apóstolos, e os irmãos que estavam na Judéia, que também os gentios tinham recebido a palavra de Deus. E, subindo Pedro a Jerusalém, disputavam com ele os que eram da circuncisão, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos, e comeste com eles.” (At 11.1-3).

E mesmo o próprio Pedro, antes deste episódio, também tinha esta discriminação:

[ “E disse-lhes: Vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo. Por isso, sendo chamado, vim sem contradizer. Pergunto, pois, por que razão mandastes chamar-me?” (At 10.28,29).

Não é para menos: por má interpretação da lei mosaica, todo incircunciso era tratado com desprezo (ver Jz 14.3; 15.18; 1Sm 14.6; 17.26,36; 31.4; 2Sm 1.20; 1Cr 10.4). Na verdade, o batismo com água representa toda tentativa das pessoas (principalmente dos líderes religiosos) em querer consertar os outros pela força. Mas ninguém pode redimir a alma de alguém (nem mesmo a sua), pois a redenção da alma é caríssima (Sl 49.8).
Não é à toa que Filipe batizara aqueles que creram em Samaria e depois o etíope.

[ “Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus, e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres. E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito. Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo ( Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus ).” (At 8.12-16).
[ “E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho.” (At 8.36-39).

Uma vez que ele via os apóstolos seguindo este ritual (Atos 2.41), não via motivo para contestar isto. Nem Ananias. Tanto que incentivou Paulo ao batismo nas águas:

[ “E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado.” (At 9.18).
[ “E agora por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor.” (At 22.16).

Note, todavia, a confusão que havia na mente de Ananias acerca deste assunto. Primeiro ele ordena a Paulo que lavasse Seus pecados (algo que só é possível pelo sangue de Cristo) batizando a si mesmo (At 22.16). No entanto, ao invés de batizar-se, Ananias é que acaba batizando-o (At 9.18) (talvez por pedido de Paulo que, sabendo do costume dos apóstolos até então, achava não ter sentido alguém batizar a si próprio).
Todavia, é bom lembrar que a revelação de Deus foi dada aos poucos, como você pôde ver acima. Analise esta passagem:

[ “E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão. E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gl 2.11-14).

Note como Pedro, por medo dos judeus, muitas vezes se comportava de modo a agradá-los. Nesta ocasião, indiretamente, ele estava obrigando os gentios que estavam em sua companhia a praticarem os preceitos da lei. Por isto é que também ele batizava com água.
Mas depois deste episódio e da experiência de Atos 10, veja como ele mudou seu parecer:

[  “E não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé.” (At 15.7)

A prova disto é que Pedro, ao escrever sua carta (1Pe 3.20,21), deixa bem claro que o batismo nas águas era apenas uma figura do verdadeiro batismo que salva, a saber, o batismo no corpo de Cristo efetuado pelo Espírito Santo (1Co 12.13), o qual implica em perder a vida que poderia ter no mundo a fim de ganhar a verdadeira vida (Mt 10.39), a saber, a vida de Cristo que nunca míngua (Jo 4.13,14; 17.3; Gl 2.20).
Isto depois ficou tão claro na mente de todos que o escritor de Hebreus, aos escrever a eles, considera o batismo um dos princípios elementares da doutrina de Cristo (Hb  6.1-3).

11 – Por que Paulo batizou se Deus não o enviou para batizar?

[ “E Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados.” (At 18.8).

A princípio, isto parece dar respaldo para a realização do batismo nas águas. No entanto, veja as consequências disto:

[ “Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus, porque a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio, para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. E batizei também a família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro. Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã.” (1Co 1.13-17).

Note como o batismo nas águas incentivou (contribuiu) a divergência na Igreja de Deus que se reunia na cidade de Corinto. E esta não foi a primeira vez:

[ “Houve então uma questão entre os discípulos de João e os judeus acerca da purificação. E foram ter com João, e disseram-lhe: Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e todos vão ter com ele.” (Jo 3.25,26).

E Paulo mesmo declara saber que Deus não o enviou para batizar, mas tão somente para evangelizar (tanto que, quando em Corinto, só batizou três pessoas, e isto talvez por constrangimento. Do contrário, ele teria batizado, com a maior alegria, o maior número possível de pessoas, senão a todos). Afinal, além de estarmos na Nova Aliança, o ministério dele era para os gentios, os quais não tinham obrigação de guardar a lei mosaica (At 15.7-11,19). Só ficaram quatro preceitos, e isto por causa dos judeus (At 15.20,21), e não por ordenança de Deus. Como tudo seria melhor se as pessoas não tivessem seus sentidos corrompidos, mas permanecessem na simplicidade que há em Cristo, se contentando apenas com aquilo que é trazido pelo amor.
Em outras palavras, Paulo, só batizou Crispo, Gaio, Estéfanas, o carcereiro com sua casa (At 16.33) e os doze que habitavam em Éfeso (At 19.1-6) por teimosia.

[ “E, tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele e todos os seus.” (At 16.33).
[ “E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam.” (At 19.1-6).

Paulo escreveu sua carta aos coríntios e colossenses um bom tempo depois disto, quando já estava mais maduro na fé.
Com certeza Paulo só enxergou as consequências de sua desobediência mais tarde, quando foi informado pelos da casa de Cloe o resultado de sua conduta em Corinto (1Co 1.11). Só nesta ocasião ele finalmente aceitou que o batismo nas águas nada significava e que a única coisa que tinha valor era evangelizar e ser batizado com o Espírito Santo.
Tanto que, mais tarde, quando escreve aos colossenses, ele afirma sem vacilar:

[ “E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade; no qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo. Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.” (Cl 2.10-12).

Note como nós fomos sepultados com Jesus na Sua morte, que Ele mesmo chamou de batismo:

[ “Vim lançar fogo na terra; e que mais quero, se já está aceso? Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se! Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão;” (Lc 12.49-51).
[ “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?” (Rm 6.3).

Em Cristo já estamos batizados, circuncidados, etc. Já está tudo feito (Jo 19.30)! Já estamos completos Nele (Cl 2.10), tal como se deu quando Adão foi criado. Por isto é que não há mais necessidade de rituais.