A
Passagem do Samaritano
·
“E eis que se levantou um certo doutor
da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E
ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse:
Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de
todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti
mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém, querendo
justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo
Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos
salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o
meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e,
vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele
lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou
ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se,
atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua
cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; e, partindo no outro
dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e
tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando
voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu
nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele.
Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.” (Lc 10.25-37).
Em
primeiro lugar, em nenhum lugar na Escritura Sagrada é dito que este episódio é
uma parábola. Logo, é um fato que aconteceu e que Jesus usou para ensinar o
doutor da lei.
Além
disto, não podemos chamar o que se moveu de íntima compaixão de “bom”
samaritano, já que bom só existe um que é o Eterno (Mt 19.17; Mc 10.18; Lc 18.19).
Nesta
passagem, há vários personagens:
1º
- O
inquiridor: o doutor da lei;
2º
- O líder
religioso: o sacerdote;
3º
- O
auxiliar do líder religioso que, após Davi, fora encarregado de louvar ao
Eterno com hinos: o levita;
4º
- O
prestador de serviços: o hospedeiro.
5º
- Os
responsáveis pelo dano: os salteadores;
6º
- A vítima
do Sistema Babilônico (o qual rege este mundo): o que caiu nas mãos dos
salteadores;
7º
- O
viajante: o samaritano.
Onde
estava a salvação do moribundo que estava prestes a morrer?
Com
certeza não estava no doutor da lei, pois, embora ele fosse muito estudioso da
Escritura Sagrada, alguém que questionava, que buscava conhecer a fundo a
verdade (ainda que com a disposição de tentar Jesus), até então não tinha
entendido o que havia de mais importante na lei do Eterno.
Isto
nos ensina que, embora seja indispensável meditar na Escritura Sagrada, não é
isto em si que trará salvação aos indivíduos à nossa volta.
Também
a salvação não estava no líder religioso. Embora esta fosse uma ocasião especial
promovida pelo Eterno para que ele pudesse ser usado para o bem (note a palavra “ocasionalmente”
(Lc 10.31)), ele não conseguiu discernir isto.
Mesmo vindo pelo mesmo caminho do moribundo, o que implica que tanto o morimbundo, quanto o sacerdote estavam vindo do mesmo lugar
(provavelmente do templo em Jerusalém, já que um levita também vinha por este
caminho), no entanto o sacerdote se desviou dele (talvez para não se
contaminar, já que tocar em alguém ensanguentado significava se tornar imundo
até à tarde (ver Lv 15.7)).
Muito
menos a solução estava no levita. É bem provável que este também não quisesse
se contaminar e ter o trabalho de ter que lavar suas vestes, tomar banho e ter
que ficar isolado até à tarde.
Embora
a Escritura Sagrada não revele o motivo exato que levou sacerdote e levita a
não considerarem importante a tarefa de ajudar aquele moribundo, uma coisa é
certa: o exercício dos preceitos religiosos constituíam uma tentação na carne e
uma barreira a separar judeus de gentios (Ef 2.14,15),
limpos de imundos, etc.
Com
isto pode-se ver que a solução não estava no Sistema religioso (seja através do
doutor da lei, do sacerdote ou do levita). Logo, não adiantava melhorar a
quantidade e qualidade dos serviços religiosos. O que estes três precisavam não
era de mais conhecimento da Escritura Sagrada, nem de mais preceitos
religiosos, muito menos de novos e mais qualificados hinos de louvor. Promover
tais coisas seria mera perda de tempo, já que não foi por falta de tempo ou de algum
destes itens que o moribundo deixou de ser usado.
Além
disto, considerando que o saber ensoberbece (1Co 8.1), logo mais conhecimento sem
amor só faz o indivíduo se considerar melhor e mais digno. Em outras palavras,
o indivíduo tornar-se-á arrogante, mesquinho, cruel, discriminador.
Para
ser mais exato: melhorar a qualidade de culto sem, antes de tudo, haver uma
melhora interior, só distanciará os indivíduos ainda mais do Eterno e uns dos
outros.
A
solução também não estava no mundo com toda sua prestação de serviços. A
hospedaria tinha os recursos para ajudar. E mesmo que não tivesse, torná-la
mais sofisticada só encareceria o custo da hospedagem.
A
solução também não estava no povão, visto que, entre eles, cumpre-se o que foi
profetizado:
·
“Já pereceu da terra o homem piedoso, e
não há entre os homens um que seja justo; todos armam ciladas para sangue; cada
um caça a seu irmão com a rede, as suas mãos fazem diligentemente o mal; assim
demanda o príncipe, e o juiz julga pela recompensa, e o grande fala da corrupção
da sua alma, e assim todos eles tecem o mal. O melhor deles é como um espinho;
o mais reto é pior do que a sebe de espinhos; veio o dia dos teus vigias, veio
o dia da tua punição; agora será a sua confusão. Não creiais no amigo, nem
confieis no vosso guia; daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da
tua boca. Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a
nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa.” (Mq 7.2-6).
Logo:
·
“Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que
confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!”
(Jr 17.5).
Em
resumo, o povão, por não ter Cristo, só quer roubar e assaltar a quantos puder,
cada um com seu método peculiar de extorquir e violentar o próximo.
A
solução, no final, esteve através da vida de alguém que estava de viagem,
passando pelo local onde o moribundo estava (note como a Escritura Sagrada não
diz que o samaritano estava vindo pelo mesmo caminho, nem que foi
ocasionalmente).
Ou
seja, a solução veio através de um estrangeiro, que ligação alguma tinha com
Israel ou seus rituais. Considerando que eles também eram estranhos às alianças
da promessa (Ef 2.12), logo dificilmente era alguém
que fosse servo do Eterno. Quem sabe não era um espírita, satanista, etc.? Seja
como for, uma coisa é certa:
·
Bom, ele não era (como visto acima);
De
uma forma ou de outra, ele era alguém que não era digno de confiança.
Fisicamente ele não era médico; espiritualmente, não tinha um conhecimento bom
do Eterno. Socialmente era mau rotulado por sua origem étnica (ver Jo 4.9). No entanto, foi daí que veio a resposta do Eterno
para aquele moribundo.
E
isto não é tudo! Você se lembra como que este trecho começou? Com a pergunta do
doutor da lei: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Ou seja, a vida
Eterna tem haver com receber a ajuda por Ele enviada, independente de quem seja
esta. Ainda mais considerando a pergunta feita por Jesus ao doutor da lei: “Qual,
pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos
salteadores?” (Lc 10.36).
Note
que Jesus não perguntou: “quem foi o próximo do sacerdote, do levita ou do
samaritano”, mas sim “quem foi o próximo do moribundo”. Ou seja, embora seja
importante ajudarmos o próximo indivíduo que surge na nossa vida, a verdadeira
salvação tem haver principalmente com se deixar ajudar por aquele que o Eterno
traz até nós.
É
claro que, pela carne, é difícil esperar que um faminto, sedento, nu, estranho,
presidiário ou doente tenha interesse e muito menos capacidade para nos ajudar
(ver Mt 25.41-46). Muito menos podemos aceitar a
ideia de que é o Judas a solução dos nossos problemas.
No
entanto, pense nos indivíduos que o Eterno, como Jesus, elegeu para o
ministério: quatro pescadores iletrados, um cobrador de impostos, um
revolucionário e um ladrão para cuidar justamente das finanças. Isto parece não
ter lógica.
Todavia,
pense: alguém precisava ser o tesoureiro do grupo. Considerando que o dinheiro
corrompe corações, nada mais indicado do que Judas, visto que ele não tinha
como ser corrompido pelo dinheiro: ele já era um corrupto. Além disto, quem era
mais indicado para preencher a vaga de traidor (descrita em Sl
41.9) e, assim, cumprir a Escritura Sagrada? Quem, sendo discípulo de Jesus
seria o mais apto para receber o espírito de Ha-Satan
a fim de dar a ele participação especial no maior episódio de todos os tempos (Jo 13.26)?
Para
ser mais exato: até o próprio Ha-Satan teve papel
especial no processo da nossa salvação. E tudo isto para nos ensinar que, independente
dos indivíduos que o Eterno escolheu para nos apoiar ministerialmente, apesar
de todas as artimanhas de Ha-Satan, nada pode impedir
que aquilo que o Eterno planejou para nós se cumpra. Aliás, se o Eterno
permitir Ha-Satan ou um Judas entrar na nossa vida é
porque a boa, agradável e perfeita vontade do Eterno (Rm
12.2) só cumprir-se-á em nós com a participação deles.
Muitas
vezes aquele que estamos chamando de “amigo importuno”, na verdade, é o nosso
verdadeiro amigo. Veja a parábola:
·
“Disse-lhes também: Qual de vós terá um
amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo,
empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de
caminho, e não tenho que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser:
Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na
cama; não posso levantar-me para tos dar; digo-vos
que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu
amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o
que houver mister.” (Lc 11.5-8).
Note
que o amigo viajante chegou à meia-noite. Por que não em outro horário?
Porque foi exatamente à meia-noite que ouviu-se o grito: “Aí vem o esposo,
saí-lhe ao encontro.” (Mt 25.6). Ou seja, este amigo
viajante foi enviado pelo Eterno para acordar os dois amigos a fim de que eles
“acendessem suas lâmpadas” e estivessem prontos para o encontro com Jesus.
Logo, esta é a parábola do amigo OPORTUNO.
Perceba
como neste episódio e na parábola do amigo oportuno, foi um viajante a resposta
para o problema. Ou seja, alguém que não criou raízes em um determinado lugar,
mas estava sempre exatamente onde o Eterno o queria (ver Jo
3.8).
Todavia,
pensando pela carne, quer coisa mais inoportuna do que chegar um estranho em
sua casa pedindo água e comida quando nada mais havia para comer? No entanto,
se Elias não tivesse chegado ali, aquela mulher morreria de fome com seu filho
(1Rs 17.8-15). Ela pensou que estava ajudando, mal sabendo ela que, ao fazer
aquele gesto, ela é que estaria sendo ajudada.
O
mesmo se deu com a samaritana (Jo 4.7). Ela achou que
estaria fazendo um imenso favor dando água a um judeu quando, na verdade, era
ela que estava prestes a receber a Água Viva.
Como
você pode ver, receber ajuda é muito mais difícil do que ajudar. Se para a
samaritana era absurdo um judeu lhe pedir água, quão dirá se Ele já lhe
oferecesse de imediato a Água Viva. Ela provavelmente pensaria: “Mas que
sujeito mais arrogante! Achar que é Ele que tem a solução da minha vida!”.
De
igual modo, se para a sunamita compartilhar a comida
era difícil, quão dirá aceitar a ideia de que um viajante faminto e sedento
poderia ser a solução dos seus problemas. Alguém nestas condições só pode
significar um peso na vida de quem o recebe.
Tome
como exemplo o caso de Pedro (Jo 13.6-8).
Considerando que ele sempre obedecia Jesus, não creio que ele tivesse
dificuldade para lavar os pés de Jesus ou dos apóstolos caso Jesus ordenasse.
No entanto, ele teve dificuldade em aceitar que Jesus lhe lavasse os pés.
Quantos
indivíduos investem pesado só para terem, em mãos, todo o poder necessário para
escolher o profissional que lhe parece mais qualificado para resolver seus
problemas.
Você
pode questionar: “mas a ajuda de Jesus é a mais qualificada que existe!”. Correto.
Sendo assim, então por que os indivíduos buscam a ajuda Dele em último lugar?
(Isto quando buscam!). Veja o caso de Acaz:
·
“E continuou o SENHOR a falar com Acaz, dizendo: pede para ti ao SENHOR teu Deus um sinal;
pede-o, ou em baixo nas profundezas, ou em cima nas alturas. Acaz, porém, disse: Não pedirei, nem tentarei ao SENHOR.
Então ele disse: Ouvi agora, ó casa de Davi: Pouco vos é afadigardes os homens,
senão que também afadigareis ao meu Deus?” (Is
7.10-13).
Acaz achava mais fácil confiar na “ajuda”
de Tiglate-Pileser do que no Eterno (2Rs 16.7-10). Ou
seja, até a ajuda do Eterno é considerada menos conveniente do que a ajuda de
um homem tido como grande aos olhos dos outros.
No
entanto, não importa o quão simplória pareça ser a fonte da solução provida
pelo Eterno (seja cinco pães e dois peixes (Mt 14.17),
cinco pedrinhas e uma funda (1Sm 17.40,50), um cajado (Êx
4.2), a queixada de um jumento (Jz 15.15), etc.), a
eficácia não está no vaso, mas no seu conteúdo (2Co 4.7). O próprio Jesus foi
rejeitado justamente por parecer fraco frente ao exército romano e, portanto,
incapaz de libertar Israel. Infelizmente estavam esperando a ajuda errada.
Enfim,
nosso próximo é aquele que o Eterno coloca na nossa vida para nos ajudar,
independente de quem seja ele, sendo neste processo que está a nossa salvação.
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