quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

81 - PASSAGEM DO SAMARITANO - O que fazer para herdar a vida eterna?

A Passagem do Samaritano

 

·        “E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; e, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.” (Lc 10.25-37).

 

Em primeiro lugar, em nenhum lugar na Escritura Sagrada é dito que este episódio é uma parábola. Logo, é um fato que aconteceu e que Jesus usou para ensinar o doutor da lei.

Além disto, não podemos chamar o que se moveu de íntima compaixão de “bom” samaritano, já que bom só existe um que é o Eterno (Mt 19.17; Mc 10.18; Lc 18.19).

Nesta passagem, há vários personagens:

 

       1º -  O inquiridor: o doutor da lei;

       2º -  O líder religioso: o sacerdote;

       3º -  O auxiliar do líder religioso que, após Davi, fora encarregado de louvar ao Eterno com hinos: o levita;

       4º -  O prestador de serviços: o hospedeiro.

       5º -  Os responsáveis pelo dano: os salteadores;

       6º -  A vítima do Sistema Babilônico (o qual rege este mundo): o que caiu nas mãos dos salteadores;

       7º -  O viajante: o samaritano.

 

Onde estava a salvação do moribundo que estava prestes a morrer?

Com certeza não estava no doutor da lei, pois, embora ele fosse muito estudioso da Escritura Sagrada, alguém que questionava, que buscava conhecer a fundo a verdade (ainda que com a disposição de tentar Jesus), até então não tinha entendido o que havia de mais importante na lei do Eterno.

Isto nos ensina que, embora seja indispensável meditar na Escritura Sagrada, não é isto em si que trará salvação aos indivíduos à nossa volta.

Também a salvação não estava no líder religioso. Embora esta fosse uma ocasião especial promovida pelo Eterno para que ele pudesse ser usado para o bem (note a palavra “ocasionalmente” (Lc 10.31)), ele não conseguiu discernir isto. Mesmo vindo pelo mesmo caminho do moribundo, o que implica que tanto o morimbundo, quanto o sacerdote estavam vindo do mesmo lugar (provavelmente do templo em Jerusalém, já que um levita também vinha por este caminho), no entanto o sacerdote se desviou dele (talvez para não se contaminar, já que tocar em alguém ensanguentado significava se tornar imundo até à tarde (ver Lv 15.7)).

Muito menos a solução estava no levita. É bem provável que este também não quisesse se contaminar e ter o trabalho de ter que lavar suas vestes, tomar banho e ter que ficar isolado até à tarde.

Embora a Escritura Sagrada não revele o motivo exato que levou sacerdote e levita a não considerarem importante a tarefa de ajudar aquele moribundo, uma coisa é certa: o exercício dos preceitos religiosos constituíam uma tentação na carne e uma barreira a separar judeus de gentios (Ef 2.14,15), limpos de imundos, etc.

Com isto pode-se ver que a solução não estava no Sistema religioso (seja através do doutor da lei, do sacerdote ou do levita). Logo, não adiantava melhorar a quantidade e qualidade dos serviços religiosos. O que estes três precisavam não era de mais conhecimento da Escritura Sagrada, nem de mais preceitos religiosos, muito menos de novos e mais qualificados hinos de louvor. Promover tais coisas seria mera perda de tempo, já que não foi por falta de tempo ou de algum destes itens que o moribundo deixou de ser usado.

Além disto, considerando que o saber ensoberbece (1Co 8.1), logo mais conhecimento sem amor só faz o indivíduo se considerar melhor e mais digno. Em outras palavras, o indivíduo tornar-se-á arrogante, mesquinho, cruel, discriminador.

Para ser mais exato: melhorar a qualidade de culto sem, antes de tudo, haver uma melhora interior, só distanciará os indivíduos ainda mais do Eterno e uns dos outros.

A solução também não estava no mundo com toda sua prestação de serviços. A hospedaria tinha os recursos para ajudar. E mesmo que não tivesse, torná-la mais sofisticada só encareceria o custo da hospedagem.

A solução também não estava no povão, visto que, entre eles, cumpre-se o que foi profetizado:

 

·        “Já pereceu da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que seja justo; todos armam ciladas para sangue; cada um caça a seu irmão com a rede, as suas mãos fazem diligentemente o mal; assim demanda o príncipe, e o juiz julga pela recompensa, e o grande fala da corrupção da sua alma, e assim todos eles tecem o mal. O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que a sebe de espinhos; veio o dia dos teus vigias, veio o dia da tua punição; agora será a sua confusão. Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca. Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa.” (Mq 7.2-6).

 

Logo:

 

·        “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jr 17.5).

 

Em resumo, o povão, por não ter Cristo, só quer roubar e assaltar a quantos puder, cada um com seu método peculiar de extorquir e violentar o próximo.

A solução, no final, esteve através da vida de alguém que estava de viagem, passando pelo local onde o moribundo estava (note como a Escritura Sagrada não diz que o samaritano estava vindo pelo mesmo caminho, nem que foi ocasionalmente).

Ou seja, a solução veio através de um estrangeiro, que ligação alguma tinha com Israel ou seus rituais. Considerando que eles também eram estranhos às alianças da promessa (Ef 2.12), logo dificilmente era alguém que fosse servo do Eterno. Quem sabe não era um espírita, satanista, etc.? Seja como for, uma coisa é certa:

 

·         Bom, ele não era (como visto acima);

 

De uma forma ou de outra, ele era alguém que não era digno de confiança. Fisicamente ele não era médico; espiritualmente, não tinha um conhecimento bom do Eterno. Socialmente era mau rotulado por sua origem étnica (ver Jo 4.9). No entanto, foi daí que veio a resposta do Eterno para aquele moribundo.

E isto não é tudo! Você se lembra como que este trecho começou? Com a pergunta do doutor da lei: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Ou seja, a vida Eterna tem haver com receber a ajuda por Ele enviada, independente de quem seja esta. Ainda mais considerando a pergunta feita por Jesus ao doutor da lei: “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” (Lc 10.36).

Note que Jesus não perguntou: “quem foi o próximo do sacerdote, do levita ou do samaritano”, mas sim “quem foi o próximo do moribundo”. Ou seja, embora seja importante ajudarmos o próximo indivíduo que surge na nossa vida, a verdadeira salvação tem haver principalmente com se deixar ajudar por aquele que o Eterno traz até nós.

É claro que, pela carne, é difícil esperar que um faminto, sedento, nu, estranho, presidiário ou doente tenha interesse e muito menos capacidade para nos ajudar (ver Mt 25.41-46). Muito menos podemos aceitar a ideia de que é o Judas a solução dos nossos problemas.

No entanto, pense nos indivíduos que o Eterno, como Jesus, elegeu para o ministério: quatro pescadores iletrados, um cobrador de impostos, um revolucionário e um ladrão para cuidar justamente das finanças. Isto parece não ter lógica.

Todavia, pense: alguém precisava ser o tesoureiro do grupo. Considerando que o dinheiro corrompe corações, nada mais indicado do que Judas, visto que ele não tinha como ser corrompido pelo dinheiro: ele já era um corrupto. Além disto, quem era mais indicado para preencher a vaga de traidor (descrita em Sl 41.9) e, assim, cumprir a Escritura Sagrada? Quem, sendo discípulo de Jesus seria o mais apto para receber o espírito de Ha-Satan a fim de dar a ele participação especial no maior episódio de todos os tempos (Jo 13.26)?

Para ser mais exato: até o próprio Ha-Satan teve papel especial no processo da nossa salvação. E tudo isto para nos ensinar que, independente dos indivíduos que o Eterno escolheu para nos apoiar ministerialmente, apesar de todas as artimanhas de Ha-Satan, nada pode impedir que aquilo que o Eterno planejou para nós se cumpra. Aliás, se o Eterno permitir Ha-Satan ou um Judas entrar na nossa vida é porque a boa, agradável e perfeita vontade do Eterno (Rm 12.2) só cumprir-se-á em nós com a participação deles.

Muitas vezes aquele que estamos chamando de “amigo importuno”, na verdade, é o nosso verdadeiro amigo. Veja a parábola:

 

·        “Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar; digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister.” (Lc 11.5-8).

 

Note que o amigo viajante chegou à meia-noite. Por que não em outro horário? Porque foi exatamente à meia-noite que ouviu-se o grito: “Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro.” (Mt 25.6). Ou seja, este amigo viajante foi enviado pelo Eterno para acordar os dois amigos a fim de que eles “acendessem suas lâmpadas” e estivessem prontos para o encontro com Jesus. Logo, esta é a parábola do amigo OPORTUNO.

Perceba como neste episódio e na parábola do amigo oportuno, foi um viajante a resposta para o problema. Ou seja, alguém que não criou raízes em um determinado lugar, mas estava sempre exatamente onde o Eterno o queria (ver Jo 3.8).

Todavia, pensando pela carne, quer coisa mais inoportuna do que chegar um estranho em sua casa pedindo água e comida quando nada mais havia para comer? No entanto, se Elias não tivesse chegado ali, aquela mulher morreria de fome com seu filho (1Rs 17.8-15). Ela pensou que estava ajudando, mal sabendo ela que, ao fazer aquele gesto, ela é que estaria sendo ajudada.

O mesmo se deu com a samaritana (Jo 4.7). Ela achou que estaria fazendo um imenso favor dando água a um judeu quando, na verdade, era ela que estava prestes a receber a Água Viva.

Como você pode ver, receber ajuda é muito mais difícil do que ajudar. Se para a samaritana era absurdo um judeu lhe pedir água, quão dirá se Ele já lhe oferecesse de imediato a Água Viva. Ela provavelmente pensaria: “Mas que sujeito mais arrogante! Achar que é Ele que tem a solução da minha vida!”.

De igual modo, se para a sunamita compartilhar a comida era difícil, quão dirá aceitar a ideia de que um viajante faminto e sedento poderia ser a solução dos seus problemas. Alguém nestas condições só pode significar um peso na vida de quem o recebe.

Tome como exemplo o caso de Pedro (Jo 13.6-8). Considerando que ele sempre obedecia Jesus, não creio que ele tivesse dificuldade para lavar os pés de Jesus ou dos apóstolos caso Jesus ordenasse. No entanto, ele teve dificuldade em aceitar que Jesus lhe lavasse os pés.

Quantos indivíduos investem pesado só para terem, em mãos, todo o poder necessário para escolher o profissional que lhe parece mais qualificado para resolver seus problemas.

Você pode questionar: “mas a ajuda de Jesus é a mais qualificada que existe!”. Correto. Sendo assim, então por que os indivíduos buscam a ajuda Dele em último lugar? (Isto quando buscam!). Veja o caso de Acaz:

 

·        “E continuou o SENHOR a falar com Acaz, dizendo: pede para ti ao SENHOR teu Deus um sinal; pede-o, ou em baixo nas profundezas, ou em cima nas alturas. Acaz, porém, disse: Não pedirei, nem tentarei ao SENHOR. Então ele disse: Ouvi agora, ó casa de Davi: Pouco vos é afadigardes os homens, senão que também afadigareis ao meu Deus?” (Is 7.10-13).

 

Acaz achava mais fácil confiar na “ajuda” de Tiglate-Pileser do que no Eterno (2Rs 16.7-10). Ou seja, até a ajuda do Eterno é considerada menos conveniente do que a ajuda de um homem tido como grande aos olhos dos outros.

No entanto, não importa o quão simplória pareça ser a fonte da solução provida pelo Eterno (seja cinco pães e dois peixes (Mt 14.17), cinco pedrinhas e uma funda (1Sm 17.40,50), um cajado (Êx 4.2), a queixada de um jumento (Jz 15.15), etc.), a eficácia não está no vaso, mas no seu conteúdo (2Co 4.7). O próprio Jesus foi rejeitado justamente por parecer fraco frente ao exército romano e, portanto, incapaz de libertar Israel. Infelizmente estavam esperando a ajuda errada.

Enfim, nosso próximo é aquele que o Eterno coloca na nossa vida para nos ajudar, independente de quem seja ele, sendo neste processo que está a nossa salvação.

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