12 – A verdadeira purificação dos pecados
Na
Antiga Aliança o sumo-sacerdote deveria entrar no Santo dos Santos uma vez por
ano para purificar, com sangue, o santuário terrestre das imundícias dos filhos
de Israel, ou seja, o sacerdote deveria dedicar sua vida para que todos
tivessem a visão correta da lei de Deus.
Mas
a visão do povo com relação às circunstâncias do dia a dia também tinha que se
manter correta. Como o sumo-sacerdote sozinho não dava conta, havia sacerdotes
para o auxiliarem.
Entenda:
O sangue é que purificava os pecados dos que criam com o coração (At 15.9; Tt 2.14; Hb 1.3; 9.13,14,22,23; 1Jo 1.7), sendo que a purificação
acontece dia a dia. Por isto é que os sacerdotes tinham que oferecer
sacrifícios todos os dias. Como quase todas as coisas, segundo a lei, se
purificam com sangue (Hb 9.22,23) e ele não podia dar o seu, então
ele tinha que sacrificar animais.
O
certo era o sacerdote dar sua vida, mas como este era pecadora, caso ele
morresse, não poderia tornar a viver (Rm 6.23), tal como se deu com Jesus.
Assim sendo, alguém tinha que morrer por ele, para que ele pudesse continuar a
viver e a cumprir a vontade de Deus para sua vida.
Ou
seja, o sacerdote tinha que dar sua vida (seu sangue) para manter as pessoas separadas
das imundícias da carne. Mas isto não era possível, pois ele não podia ficar
acordado 24 horas. Além disso, sua vida não podia entrar no coração das pessoas
e transformá-las por dentro. Era um esforço interminável para conter a besta
que habitava no coração de cada um, bastando um vacilar para a pessoa ceder.
No
final das contas, o sangue dos sacrifícios do Antigo Testamento acabava
mantendo apenas a carne dos sacerdotes pura (Hb 9.13), visto que, na medida em que os
sacerdotes estavam ocupados oferecendo os sacrifícios e se empenhando para que
a lei de Deus fosse cumprida por cada um, eles não estariam perdendo tempo com
bobagens.
Logo,
não era o povo que era santificado com os sacrifícios que ofereciam, mas os
sacerdotes (e isto pensando apenas na
carne). A ideia
era mostrar que ninguém é purificado com simples sacrifícios. Por mais
consagrados que pudessem ser os sacerdotes, o que quer que eles fizessem só
beneficiava a eles mesmos, já que apenas o mover do Espírito Santo na vida de
cada um pode purificar a pessoa. Aquele que quiser experimentar a salvação de
Cristo dentro de si terá que se consagrar a Deus ao invés de tentar se apoiar
nas boas obras dos outros.
Enfim,
o sangue é para purificação dos pecados, de modo que cada um tivesse a visão
correta a respeito de Deus (primeiro mandamento de Jesus).
A
água, representando a Palavra (Jo 15.3; Ef 5.26), iria purificar nossos passos (Jo 13.14)
através da lavagem da regeneração e renovação do Espírito Santo (Tt 3.4-6),
por meio da liberação do perdão de Cristo (ajunte Mt
16.19; 18.18 com Jo 20.22,23)
a cada pessoa que se aproxima de nós, independente da situação. Ou seja, a água
é o Espírito Santo nos guiando (Rm 8.14) a um relacionamento correto com
cada pessoa que se aproxima de nós (2º mandamento de Jesus).
A
fé que purifica é a confiança contínua, diante de cada questão que surge, de
que o amor de Jesus existente na Sua Palavra irá resolver tudo (daí 1Pe 1.22).
Não
é à toa que João diz:
[
“Quem é que vence o mundo, senão aquele
que crê que Jesus é o Filho de Deus? Este é aquele que veio por água e
sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue. E
o Espírito é o que testifica, porque o Espírito é a verdade. Porque três são os
que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são
um. E três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e
estes três concordam num.” (1Jo 5.5-8).
Que
Jesus veio em água e sangue, repare no que é dito em (Jo 19.34):
[
Contudo um dos soldados lhe furou o lado
com uma lança, e logo saiu sangue e água.
Ou
seja, até ao morrer Deus deu testemunho visível de que, quem o tem, possui a
verdadeira água, sangue e Espírito Santo que limpa, já que toda lei se cumpriu
Nele. Nele estamos perfeitos (Cl 2.10). Acrescentar algo é negar o
favor de Cristo e, consequentemente, nos separarmos Dele (Gl 4.5).
Ajuntando
com o fato de que todos temos que nascer da água e do Espírito Santo (Jo 3.5),
temos então a testificação tripla no céu e na terra.
No
céu (é assim que os anjos contemplam Deus agindo através
da Igreja - 1Co 4.9; Ef 3.10; 1Pe 1.12):
O
Pai -> Deus se manifestando externamente através de sinais, prodígios e
maravilhas;
A
Palavra -> Deus se relacionando com nós através das pessoas;
O
Espírito Santo -> Deus operando internamente no nosso caráter, de modo a
darmos fruto (Jo 15.8).
Na
terra (é assim que as pessoas vão perceber que Deus existe):
O
Espírito Santo (relacionamento) -> nos lava mantendo em
comunhão com a Igreja (Jo 13.34,35; 17.11,21-23; 1Co
12.13) e com o
Pai (2Co 13.13),
de modo a podermos ouvir Sua voz e conhecê-Lo melhor (Gl 4.9);
A
água (modo de agir, a graça de nosso Senhor Jesus) -> A Palavra de Deus nos lava
nos conduzindo e justificando nas circunstâncias do dia a dia (Rm 4.25),
nos capacitando ao perdão que religa a pessoa a Deus e a nós por meio da
Palavra;
O
sangue (estilo de vida, o amor do Pai (1Jo 4.9; 5.3)) -> A vida de Cristo nos lava capacitando
a viver aquilo que é agradável ao Pai.
‘ Em
outras palavras, os três são para lavar.
Detalhe:
nosso primeiro nascimento também se deu em meio a água e sangue através do
Espírito Santo que nos formou no ventre da mãe (Sl 139.13-16).
Elias,
ao oferecer Seu holocausto no Monte Carmelo, lá havia água, sangue e o Espírito
Santo, já que Deus se revelou ao povo de Israel mandando fogo do céu (1Rs 18.30-38).
E para ilustrar o modo como a
Palavra de Deus iria purificar nossos caminhos, eis algumas ilustrações:
[ Moisés, ao ser tirado das águas,
recebeu este nome como que apontando para o novo nascimento que haveria de
acontecer quando a pessoa acolhesse a Palavra no coração e fosse batizada com o
Espírito Santo. Mas a verdadeira transformação deu-se por ocasião do encontro na
sarça ardente, que simbolizava o batismo do Espírito Santo (Êx 3.1,2);
[ Quando os sacerdotes entrassem na
tenda da congregação ou se chegassem ao altar para ministrar, para acender a
oferta queimada ao SENHOR deveriam lavar pés e mãos com água para que não
morressem. (Êx 30.18-21).
[ Não é à toa que Pedro pediu para
que lavasse Suas mãos e cabeça quando Jesus disse que não teria parte com Ele
se não lhe lavasse (Jo 13.8,9). Jesus disse que, quem está
lavado, não precisa seguir os métodos de purificação levítica para se purificar
(Jo 13.10),
mas tão somente continuar ouvindo Sua Palavra (Jo 15.3) e se colocando nas mãos de Deus
a serviço do próximo (Jo 13.14).
Até hoje muitos se recusam a
serem lavados por Cristo. Ao invés disto, eles é que tentam purificar o próprio
Jesus. Afinal, quando não confiamos no amor de Deus por nós, mas buscamos
métodos e rituais alheios à sua vontade, recheados de obras que os homens
consideram boas, para tentarmos nos justificar, estamos negando o que Jesus fez
por nós.
Mas afinal, havia
alguma diferença entre o batismo de João e a água com que Jesus lavou os pés
dos discípulos? Nenhuma! A mensagem a ser passada é que Jesus iria purificar
seus caminhos na medida que eles se dispusessem a se humilhar a fim de poderem
servir ao próximo (Lc 22.24-27)
Detalhe: isto foi
dito na santa ceia, quando Jesus lavou os pés dos discípulos, onde Jesus
deveria ser lembrado por fazermos aquilo que Ele fez, e não por querer
continuar recebendo Dele, como que insistindo em continuar vê-Lo como homem (algo refutado em 2Co 5.16). Ou seja, ao invés de viver de necessidade em
necessidade (atrapalhando o acesso a outros), a santa ceia aponta para a
importância de tomarmos para nós a disposição de dar para suprir outros (Jo 4.13,14; 7.37-39),
pois foi isto que fez Jesus.
Inclusive, a prova
de que aquela lavagem dos pés não tinha nenhum valor em si mesma é que Judas,
embora lavado, ainda assim traiu (Jo 13.10-11); Pedro, embora lavado, negou
três vezes.
[ A cura de Naamã: “Então Eliseu lhe mandou um mensageiro, dizendo: Vai, e
lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será curada e ficarás purificado.
Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de
Deus; e a sua carne tornou-se como a carne de um menino, e ficou purificado.” (2Rs 5.10,14)
– Isto é sombra do
batismo com o Espírito Santo que lava a pessoa de tal modo que ela se torna uma
criatura totalmente novo, como se tivessem nascidos de novo literalmente (Jo 3.3,5);
[ Transformação da água em vinho: “E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as
purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes. Disse-lhes
Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. E disse-lhes:
Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram. E, logo que o mestre-sala
provou a água feita vinho” (Jo 2.6-9) – Com tal transformação, ficou
claro que não é o batismo nas águas, mas o sangue de Jesus que nos purifica de
todo o pecado.
Aliás, deste tipo de lavagem
Jesus tachou os fariseus como hipócritas (Mt 23.25; Lc
11.39). De que
adianta limpar o exterior, quando o coração está cheio de maldade? O próprio
João Batista deixou claro que, se eles não produzissem frutos dignos de
arrependimento, de nada valeria o batismo dele (Mt 3.7-8). Afinal, como pode um homem
purificar-se sendo imundo (Tt 1.15)? Seus métodos de purificação
acabam justamente tornando ele mais sujo, mais cheio de si mesmo e
auto-suficiente. Quem está morto no pecado não consegue ver lucidez no
evangelho de Cristo (1Co 2.14-16).
[ A Água Viva: “Jesus respondeu, e disse-lhe: qualquer que beber desta água
tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá
sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte
para a vida eterna.” (Jo 4.13,14) – ao beber do Espírito Santo (Jo 7.37-39)
a sede da alma teria fim e finalmente encontraremos felicidade nos
relacionamentos (pérolas – Mt 7.6) que Deus nos deu;
[
A
cura do cego de nascença: “Tendo dito isto, cuspiu na terra, e
com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: Vai,
lava-te no tanque de Siloé ( que significa o Enviado
). Foi, pois, e lavou-se, e voltou
vendo.” (Jo 9.6,7) – Ao lavar no tanque que significa Enviado, estava
sendo ilustrado que o batismo com o Espírito Santo nos sepulta no corpo do
Enviado (1Co 2.13)
a fim de que sejamos enviados como Jesus o foi (Jo 20.21) e passamos a ser purificados na
nossa forma de ver (Mt 6.22,23; Tt 1.15) e, assim, não sejamos mais cegos
para a Verdade.
13 – Conclusão
Batismo
sempre está relacionado como libertação, a saber, libertando o justo do mundo,
bem como dos inimigos que os perseguem, principalmente dos membros do sistema
religioso que usam a Escritura Sagrada para induzirem as pessoas a cultuarem a
Deus de modo falso, a saber, buscando em Cristo apenas nas coisas deste mundo (1Co 15.19).
Mais
ainda: batismo representa libertar da pessoa do sistema religioso. Tanto é
assim que, quando os líderes religiosos (fariseus, na
época) iam a
João Batista para serem batizados, João se recusava a fazê-lo (Mt 3.7-10).
Afinal, quando a pessoa não crê de coração em algo, o transforma em amuleto, ou
seja, algo para ser acrescentado à sua força (garantir mais salvação). O
raciocínio dos tais era o seguinte: “na dúvida, deixe-me aderir: se não for de
Deus, que mal há? E se for, estou recebendo uma bênção a mais”.
Enfim,
num sentido mais profundo, o batismo representava a morte para o regime do
Antigo Testamento a fim de pudesse ser movido diretamente pela Graça de Deus.
Hoje
só há um batismo (Ef 4.5): o batismo do Espírito Santo que
nos sepulta no corpo de Cristo (1Co 12.13) a fim de andarmos em novidade de
vida, sendo guiado por Sua voz (Rm 7.6; 2Co 5.17) em toda a Sua Palavra (Rm
8.3,4).