SALVAÇÃO
É UMA CONQUISTA OU ALGO QUE FOI PREDESTINADO PARA UNS POUCOS PRIVILEGIADOS?
Este
é um tema alvo de inúmeras guerras teológicas. Infelizmente a maioria dos
indivíduos, por não tomarem conhecimento de alguns conceitos que, embora
básicos, representam o fundamento, acabam deduzindo um monte de besteiras.
Para
ajudar a colocar um pouco de luz nesta questão, analisemos o seguinte trecho:
·
“Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam,
embriagam-se de noite; mas nós, porque somos do dia, sejamos sóbrios,
vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da
salvação; porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos
a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós, para que, quer
vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com ele.” (1Ts 5.7-10 – AR1967).
Antes
de tudo, definamos o conceito, segundo o dicionário, de:
·
Destino: Lugar aonde se dirige alguém ou algo;
direção.
·
Alcançar: Compreender, perceber, ser suficiente,
completar, inteirar.
·
Intermédio: Aquilo que se encontra entre duas coisas e estabelece ligação entre
elas.
Ou
seja, o versículo destacado, parafraseado, fica assim: “porque Deus não nos direcionou
para a ira, mas para que percebamos e compreendamos Jesus Cristo,
até que tudo o que a salvação é se complete em nós”.
Jesus
não apenas dá a salvação, Ele é a salvação
e a vida eterna:
·
“A vida eterna, porém, é esta, que conheçam a ti,
único verdadeiro Deus, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.” (Jo
17.3).
·
“SENHOR, tem misericórdia de nós, por ti temos esperado;
sê tu o nosso braço cada manhã, como também a nossa salvação no tempo da
tribulação.” (Isaías 33.2).
Jesus,
como homem (1Tm 2.5),
é o intermediário porque é Nele que podemos ver enxergar o verdadeiro conceito
de salvação (algo que é celestial)
neste mundo extremamente carnal. Afinal, a salvação consiste manter nosso
interior livre de mais pensamentos e sentimentos.
O
fato de Jesus ter nos destinado para a salvação comprova que tudo que cada
indivíduo é (caráter, habilidades, gostos, época e lugar onde nasceu,
família e bens que possui, etc.)
deve ser visto como o melhor do Eterno para que cada um possa ter Sua salvação
completa dentro de si, preenchendo todo o seu ser.
Não
se trata de esforço:
·
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto
não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie.” (Ef
2.8,9).
Antes,
salvação é o Eterno trabalhando Sua virtude no coração de cada um que crê (ou seja, que confia Nele a
ponto de permanecer em comunhão (1Jo 1.7) sem esmorecer (Hb
3.12; 10.24,25; Gl 6.9,10)). Note como em 1Ts 5.6 o Eterno recomenda
que não durmamos, mas em 1Ts 5.10 Ele diz que, quer vigiemos, quer durmamos,
vivamos juntamente com Ele.
Isto,
a princípio, parece uma contradição: afinal, é importante ficar acordado ou
não? Embora a ordem seja para ficar acordado, o principal não é isto, mas sim
estar com Ele. Se estivermos Nele, mesmo dormindo, estamos agradando a Ele, tal
como a mãe tem prazer no bebê que dorme no seu colo.
Mais
isto não é tudo! Veja como está 1Ts 5.9 na versão ARC1995:
·
“Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a
aquisição da salvação por nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.7-10 – AR1967).
·
Ira significa, de acordo com o dicionário,
“desejo de vingança”.
·
Aquisição é a obtenção de algo.
O
Eterno não nos destinou para a ira, seja para nos irarmos com os indivíduos,
nem sermos alvos da ira do Eterno através deles. Antes, é para recebermos a
salvação como um presente.
A
salvação é um presente a que todos devem tomar posse. Todavia, a maioria,
traída pelo seu senso de justiça (ver Rm 10.3), prefere adquirir a ira para fazer
justiça com as próprias mãos a ser salva deste sentimento nocivo. Por não
acreditar na justiça do Eterno (como em Ez 18.25,29), nem enxergar Sua perfeição e maravilhas
neste mundo (Sl 133.5; 140.5), ao invés de adquirir a salvação do
Eterno e ser salva do fardo de ter que colocar as coisas em ordem, a maioria
não enxerga o valor deste esplêndido presente do Eterno (a salvação) e o rejeita, condenando a si e a quantos
se deixarem condenar à sua volta, ao estilo de vida de Ismael:
·
“Ele será como um jumento selvagem entre os homens; a
sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele: ao oriente de todos
os seus irmãos habitará.” (Gn 16.12).
Pense:
em que consiste a salvação? Quando Adão desobedeceu ao Eterno, ele passou a ter
um arbítrio. Até então, embora cada indivíduo fosse dotado com capacidade de
decisão, ele não tinha a faculdade de julgar entre bem e mal. No que Adão
provou do fruto proibido, a herança espiritual que ele tinha recebido, ou seja,
o privilégio de ouvir direto a voz do próprio Eterno conduzindo-o no caminho
certo, passou a ser manchada pela sua compreensão errada acerca do certo e
errado, a qual se baseia em suposições consoante aquilo que se vê, ouve, sente
ou experimenta.
A
partir daí, todos os seres humanos herdaram este arbítrio que nos dá a sensação
de que somos capazes de tomar decisões corretas sem precisar do Eterno. Repare
como o desejo de cada um é que o mundo esteja do seu jeito. É isto que é o
pecado.
Creio
que, agora, fica fácil de entender o motivo pelo qual o pecado faz separação
entre o homem e o Eterno:
·
“Mas as vossas iniqüidades
fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu
rosto de vós, para que não vos ouça.” (Is 59.1,2)
O
Sistema religioso descaradamente joga a culpa no Eterno, dizendo que é Ele quem
se afasta daquele que peca. Contudo, analise cuidadosamente o versículo acima e
você verá que é o homem quem se afasta do Eterno.
Isso
pode ser visto em Gn 3.8,9. Note como o Eterno foi ao
encontro do homem, mas este e sua esposa se esconderam.
Para
você entender isto melhor, quanto mais o indivíduo faz uso do pecado para se
ver livre das situações que lhe trazem algum desconforto, mais ele se acomoda a
este estilo de vida e mais ele se afasta de tudo que Jesus é (e, consequentemente, Dele
também). O coração do
indivíduo fica tão duro (Zc 7.11,12) que ele não consegue mais receber, nem
praticar, a Escritura Sagrada (veja At 16.20,21).
Não aceita mais a direção do Eterno.
Não
se trata apenas de sentir vontade de fazer o mal. Na verdade, a vontade do
nosso corpo não é má, mas sim o modo que nossa alma adota para satisfazê-la.
Não há como ela pensar numa solução boa, visto que:
·
“Quem não é comigo, é contra mim; e quem comigo não
ajunta, espalha.” (Mt 12.30).
·
“...Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há
bom senão um, que é Deus.” (Mc 10.18; Lc 18.19).
Em
outras palavras, o problema com o arbítrio (a raiz de todo pecado) é que ele induz os indivíduos a acharem
que não precisam do Eterno e, consequentemente, do próximo (quem é arrogante o
suficiente para achar que não precisa nem mesmo do Eterno, não terá dificuldade
nenhuma para desprezar o próximo).
Neste
caso, embora o Eterno se proponha a operar Seu querer e efetuar segundo Sua
vontade na alma de cada um (Fp 2.12,13), não haverá disposição no indivíduo para
renunciar o fruto do conhecimento do bem e do mal (o arbítrio). Ele amou tanto suas más obras (Jo 3.19-21) que se recusa a reconhecer a sabedoria, conhecimento,
justiça e juízo do Eterno como sendo a única solução, a ponto de não admitir
nenhum outro caminho na própria vida.
Vem
a questão: uma vez que Jesus já morreu uma vez por todas pelos nossos pecados (1Pe 3.18; Hb 9.28),
então por que os que creem em Jesus ainda continuam pecando?
Infelizmente
as instituições religiosas têm pregado errado a respeito do perdão de Cristo.
Não se trata de um perdão estático (que acontece uma vez na vida e conserva o indivíduo salvo para
sempre).
O
perdão de Cristo não é o cartão de débito do pecado, como se Jesus tivesse se condenado
a pagar por cada pecado que o fiel ainda venha a cometer até o último segundo
de vida.
O
perdão de Cristo é dinâmico, como se pode ver neste versículo:
·
“De sorte que, meus amados, assim como sempre
obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência,
assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o
que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa
vontade.” (Fp 2.12,13).
Veja
que a salvação precisa ser desenvolvida através da operação de Cristo em nosso
interior. O pecado é muito mais do que simples erros. No que o homem foi dotado
de arbítrio, sua alma se tornou incapaz de ter comunhão com a alma de qualquer
outro ser humano. A plena concordância (pensar e sentir a mesma coisa – At 4.32; 1Co
1.10) se tornou
impossível, pois cada um passou a ver o mundo centrado em si.
A
tendência de cada um passou a ser espalhar seus conceitos e valores por onde
quer que vá. Por mais que o indivíduo queira se isolar, ele não consegue ficar
sem influenciar para o mal todos com quem entra em contato. Ele se torna como
um doente altamente contagioso, sendo condenado a viver isolado ou a contaminar
todos com sua maldade (despertando maus pensamentos, sentimentos, planos, desejos e
ações). Enfim, o pecado separa
os indivíduos uns dos outros e do Eterno, de modo que eles não conseguem mais
caminhar juntos rumo à verdadeira sabedoria (ver Pv 18.1).
O
perdão de Cristo consiste em restaurar estas ligações, algo que deve acontecer
a cada momento. Quando a Escritura Sagrada diz que Jesus leva nossos pecados, o
que ela está dizendo é que não precisamos mais pagar por eles, ou seja, viver no
sentido de adquirir recursos (seja físicos, materiais, sentimentais ou espirituais) a fim de que tenhamos como consertar as
coisas. Não precisamos mais oprimir os indivíduos (tal como fez o credor incompassível da
parábola de Mt 18.23-35). Quem realmente está em Cristo não
depende mais diretamente dos indivíduos para obter algum benefício aqui na
terra, muito menos para ser salvo do pecado e do inferno.
Se
isto não tem sido real na quase totalidade da humanidade é porque, quase 100%
dos que se dizem cristãos, no fundo, não querem esta promessa. Tais crentes não
acham justo o pecador ser perdoado. Pelo contrário: querem o pecador sob o
controle do medo a fim de que nunca mais haja possibilidade de eles serem
rejeitados por ele.
Como
cada um acha que o mundo foi feito para si, ninguém se conforma de ser
rejeitado. Assim, o medo de ser novamente rejeitado pelo pecador leva a vítima
a querer uma vingança tão cruel que faça o pecador reconhecer que errou de ter
rejeitado ele em sua vida.
Contudo,
se o fiel se mantiver confiante no Eterno e satisfeito com o que vem Dele, não
precisará mais oprimir ninguém, pois sabe que seu sustento vem Dele (Fp
4.19). Tal indivíduo se
sentirá livre para amar. Não precisará enganar ou prejudicar ninguém, pois não
precisa mais prestar contas para sua alma insatisfeita, nem se preocupar com as
contas, pois o BÁSICO Jesus promete (Mt 6.33).
Em
outras palavras, Jesus levou nossos pecados no sentido de que, uma vez junto
conosco, Ele preenche nosso interior, de modo que, ao invés de darmos ouvidos à
nossa alma egoísta e vingativa, nos satisfazemos com Sua presença e com a
certeza de que todos os reveses, na verdade, são os métodos misteriosos do
Eterno para nos levar para mais perto Dele e de tudo que realmente é bom para
nós (veja o
caso de Moisés (Êx 18.3,4) e José (Gn
41.51,52)).
Mais
ainda: Jesus resolve o problema do pecado nos unindo ao próximo por meio de Sua
Palavra. Quando isto acontece, passamos a ser parte dele e vice-versa, o que
faz com que toda a lei do Eterno se cumpra neste relacionamento (ver Mt
22.37-40; Rm 13.8-10; Gl
5.14).
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