sexta-feira, 23 de julho de 2021

193 - Podemos chamar alguém or ser chamado por algum título honorífico?

Podemos chamar alguém or ser chamado por algum título honorífico?

 

·       “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.” (Mt 23:8-10).

 

Para entender este trecho, precisamos analisar o contexto e o conceito das palavras mencionadas.

 

*Primeiro: Mestre* - Mestre é alguém a ser seguido, imitado em virtude de sua experiência, sabedoria, conhecimento, virtudes. Por isso, um mestre acaba sendo um alvo de atenção.

 

O problema, aqui, é que os fariseus ansiavam por serem o centro de toda a atenção do povo de Israel:

 

·       “E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes,” (Mt 23:5)

 

Como sabemos, só Jesus merece toda esta atenção. Embora a fama seja cobiçada por todos os artistas, você pode ter certeza: é um jugo pesado para prender a atenção das pessoas. Isto rouba a liberdade. Sem contar que isso implica em grande responsabilidade:

 

·       “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.” (Tg 3:1)

 

E não é de admirar. Afinal, imagine que alguém tropece ou faça alguém tropeçar na fé em virtude do mau testemunho do mestre ou de seus ensinamentos errados.

 

Jesus é claro:

 

·       “E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá.” (Lc 12:47-48).

·       “Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt 18:6,7).

 

Embora aqueles que procuram o cargo de bispo desejam uma excelente obra (1Tm 3:1), a questão é: os mestres estão preparados espiritualmente para isso? Podem os mestres suportarem a carga e privilégios de seu cargo sem se corromperem? Paulo, o maior apóstolo de Cristo teve que receber um espinho em sua carne depois de receber uma grande revelação para que ele não se orgulhasse (2Co 12:1-10).

 

Assim, quando um homem luta contra a sua própria carne para ser mais receptivo à operação do Espírito Santo e ser uma inspiração àqueles ao seu redor; e estes, vendo a sabedoria e o amor de Jesus na vida dele, decidem imitá-lo, isto é uma bênção.

 

E quanto a nós? A nossa vida é digna de ser seguida? Podemos dizer o que Paulo disse: Sejam vocês imitadores de mim, tal como eu também sou de Cristo. (1Co 11:1)? A nossa vida é uma manifestação contínua de Jesus Cristo em tudo o que fazemos?

 

*Segundo: Pai* - Pai implica em alguém que tem honra, preeminência. Como sabemos, há um seguinte mandamento:

 

·       “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá.” (Êx 20:12).

 

Os fariseus anseiavam por toda esta honra:

 

·       “E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi.” (Mt 23:6-7)

 

Não obstante, eles não se preocuparam com os israelitas como se fossem seus filhos.

 

Esta responsabilidade exige muito. Tanto que Jesus escolheu apenas doze apóstolos. Se Ele que é perfeito e cheio de conhecimento, amor, paciência, etc., só foi capaz de cuidar de doze apóstolos, quem somos nós para pensar que podemos cuidar de mais do que isso?

 

E o pior é que há muitos líderes religiosos que anseiam por controlar uma instituição religiosa com mais e mais crentes. Todavia, isso não funcionou nem mesmo com os apóstolos:

 

·       “Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.” (Atos 6:1)

 

Não é em vão que Jesus disse:

 

·       “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18:20).

 

A idéia é que vivamos exatamente o que é dito abaixo:

 

·       “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.” (At 2:44,45).

 

Ou seja, cada pessoa precisa lidar com aqueles que se aproximam. A benevolência não deve ser feita por somente uma pessoa, enquanto as outras permanecem vivendo por si mesmas. Não, não! Cada pessoa é designada para amar o próximo como Jesus os amava (Jo 13:34-35).

 

Assim, não chame a ninguém pai porque isso será uma carga pesada nos ombros dele. Isto pode fazê-lo cair na fé em virtude do orgulho e do excesso da responsabilidade (veja o que aconteceu a Moisés - Êx 18:14-18; Nm 11:12-15) e, consequentemente, isto pode fazer você tropeçar ou mesmo morrer na fé.

 

E o pior é que muitos líderes religiosos exigem de sua congregação tal exaltação.

 

Quando alguém dá à luz crianças (físicas ou espirituais), faz assim porque deseja conceder-lhes o que há de melhor de modo que elas possam cumprir a missão de Jesus; e as crianças, por sua vez, devem honrar seus pais recebendo deles todas estas bênçãos e transmitindo à seguinte geração os conceitos e valores de Cristo na vida dos pais.

 

Assim, o problema não é o título de pai, mas como este título é usado por ambos: quem chama e quem recebe este título.

 

*Terceiro: Guia* - Guia é aquele que estabelece regras, que domina.

 

Os fariseus desejavam ardentemente este título, porque eles ansiavam por terem domínio sobre a herança de Jesus Cristo. Veja esta parte da parábola dos trabalhadores da vinha:

 

·       “E, por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: Terão respeito a meu filho. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança. E, lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha, e o mataram.” (Mt 21:37-39)

 

Eles anseiavam por ocuparem o lugar do Criador na vida das pessoas. E isso só para fazer o nome deles grande diante de todos às custas dos sacrifícios dos israelitas:

 

·       “Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los;” (Mt 23:4)

·       “Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.” (Gl 6:13)

 

Mas isto não é tudo. Eles, pouco a pouco, mudaram a lei do Criador por suas próprias tradições que eram convenientes para eles:

 

·       “Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição?” (Mt 15:3).

 

E o pior é que, até hoje, os líderes religiosos se recusam as instruções de Jesus para seus discípulos:

 

·       “Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mt 20:25-28)

·       “Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho.” (1Pe 5:1-3).

 

Veja que o problema não é chamar alguém guia (ou líder, pastor, etc), mas a maneira pelo qual guias e subordinados lidam uns com os outros. Muitos subordinados idolatram seus guias, sendo capazes de matar ou morrer por eles ou pelo que eles ordenam; e os guias gostam muito deste tipo de adoração porque isto lhes facilita tirar proveito deles e explorá-los.

 

Não obstante, quando os guias, em vez de defraudarem as pessoas, pretextando humildade e culto dos anjos (envolvendo-se em coisas que não viram; estando debalde inchado em sua carnal compreensão), eles decidem permanecer ligados à Cabeça e os crentes respondem recebendo os suprimentos de Jesus e crescendo o crescimento de Deus através da cooperação mútua (Cl 2:18,19), isto é bênção pura.

 

Em suma, o problema não são os títulos em si (a menos que o título confere uma honra que é devida apenas à divindade). Quando o título é apenas para identificar o papel realizado pelos líderes e subservientes no amor, é uma bênção.

 

Neste caso, não há necessidade de ficar chamando ninguém pelo título; chame apenas pelo nome. Afinal, o cargo não é para exaltação, mas tão somente para organização. Como Jesus disse, todos somos irmãos.

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