quarta-feira, 8 de julho de 2015

94 - QUAL A DIFERENÇA ENTRE A ALIANÇA DA LEI E A ALIANÇA DA GRAÇA?

QUAL A DIFERENÇA ENTRE A ALIANÇA DA LEI E A ALIANÇA DA GRAÇA?

 

A Aliança da Lei (que muitos chamam de Antiga Aliança) consistia em o ser humano procurando ser justo diante do Eterno, se esforçando para agradá-Lo. Nela, cada ser humano deveria buscar o perdão dos seus próprios pecados oferecendo uma vida inocente (um animal) em prol da expiação dos mesmos. Ele tinha que tirar uma vida para ser perdoado.

Infelizmente o ser humano como um todo valoriza mais o regime da lei. E não é para menos. Afinal, foi disto que Adão e Eva se alimentaram no Éden (Gn 2.17). E, como todos sabemos, quando alguém se alimenta de algo, isto passa a fazer parte do seu organismo.

Resultado: o ser humano passou a ter a lei, com seus direitos e deveres, dentro de si. A intimidade do homem com a lei se tornou tal que parece impensável conceber uma sociedade sem leis. Até o casamento, que deveria ser uma aliança de amor, se tornou um regime legal.

No entanto, em que se baseiam as leis?

 

·         “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.” (Ef 2.14-16).

 

Uma das finalidades da lei é promover a separação. Por exemplo: a lei “não matarás” separa os assassinos dos doadores de vida; a lei “não roubarás” separa os ladrões dos honestos.

Você pode questionar: mas estas leis são justas. Certo. No entanto, isto não muda o fato de que elas promovem separação. E, no final, elas não conseguem resolver os problemas do ser humano (ver Hb 7.11,18,19).

Se você não concorda, tente imaginar uma sociedade onde todas as leis fossem justas, todas os indivíduos cumprissem rigorosamente a lei e não houvesse nenhuma calamidade. Será que este mundo seria perfeito?

A princípio pode parecer que sim. Contudo, a única coisa que a lei faz é garantir a cada um os seus direitos, desde que cumpra com os seus deveres. Mas isto não muda o fato de que cada um continua separado do seu próximo. Cada um está separado, seja de seu cônjuge, filho, irmão, amigo, etc. por meio dos seus direitos. Por maior que possa ser a harmonia e cooperação entre os indivíduos, cada um continua isolado no seu prazer. Ninguém consegue encontrar real satisfação para sua vida.

O problema é que a lei só concede benefícios à carne. E não é de se admirar. Em quê você imagina que os governantes deste mundo se baseiam para determinar se algo é justo ou não? Uma vez que eles não creem na Escritura Sagrada e em Jesus, com certeza seu padrão de certo ou errado tem haver com aquilo que é agradável ou não à carne.

Este é um padrão muito perigoso para se estabelecer a justiça. Afinal,

 

·         “Como o inferno e a perdição nunca se fartam, assim os olhos do homem nunca se satisfazem.” (Pv 27.20).

 

Isto é um padrão inerente aos habitantes da Babilônia:

 

·         “Tanto mais que, por ser dado ao vinho é desleal; homem soberbo que não permanecerá; que alarga como o inferno a sua alma; e é como a morte que não se farta, e ajunta a si todas as nações, e congrega a si todos os povos.” (Hc 2.5).

 

Ou seja, quanto mais se tenta agradar a alma do indivíduo, mais ela quer. A verdade é que nem o Eterno pode satisfazer a alma corrompida, pois a mesma sempre tentará descobrir algo inédito que a preencha. Por isto é que nossa natureza terrena tem que morrer (Cl 3.5).

Para ser mais exato: o problema com a lei é que ela garante ao indivíduo adquirir aquilo que está dentro da sua capacidade. Como, todavia, o seu desejo vai muito além da sua capacidade, o indivíduo sem Jesus é farto de inquietação (Jó 14.1,2) e nunca consegue ter paz (Is 48.22; 57.19-21), vindo assim a atropelar todos à sua volta, incluindo a si mesmo.

Por isto é que a Escritura Sagrada diz:

 

·         Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;” (Rm 5.20).

 

Como é possível que a lei faça a ofensa abundar, considerando que a lei foi dada justamente para coibir a ofensa (Gl 3.19; 1Tm 1.9,10)?

 

·         “Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a concupiscência; porquanto sem a lei estava morto o pecado. E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri. E o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte. Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou, e por ele me matou.” (Rm 7.8-11).

 

O problema é que o pecado usa a lei para separar os indivíduos uns dos outros. Em nome dos seus direitos, o indivíduo é capaz de enganar a si mesmo, justificando toda maldade que se acha no seu coração, até fazer morrer tudo que bom que há no seu coração para com seu próximo. Tudo para vê-lo pagar por algo que já foi pago por Jesus: seus pecados.

Uma vez que Jesus já pagou pelo pecado do indivíduo, isto significa que o prejuízo que o indivíduo nos causou já foi creditado espiritualmente a nosso favor. Basta termos em mente que com as riquezas da injustiça devemos granjear amigos (Lc 16.9) e buscar ser rico para com o Eterno (Lc 12.21).

Já a Aliança do Favor do Eterno (que muitos chamam de Nova Aliança), a base da mesma é a misericórdia. Muitos indivíduos entendem mal a salvação do Eterno. Acham que o Ele nos salvou com Seu sangue e, agora, podemos viver nossa vida com bem queremos e, depois, ir ao céu. Infelizmente leem errado Jo 1.12:

 

·         “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;” (Jo 1.12).

 

A palavra “feitos” é ignorada, como se, ao receber Jesus, automaticamente o indivíduo se tornasse filho do Eterno. Todavia, a salvação é um processo que culmina com a adoção do indivíduo pelo Eterno.

 

·         “De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.” (Fp 2.12,13).

 

Perceba que a salvação precisa ser desenvolvida. Não se trata de um mero ato isolado que Cristo fez no passado:

 

·         “Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas.” (1Pe 2.20,21).

 

A salvação de Cristo na vida de quem crê é algo contínuo que vai sendo trabalhado a cada momento. Repare que Jesus nos deixou um exemplo a ser seguido. Isto foi ilustrado na santa ceia, quando Jesus simbolicamente deu Seu corpo e sangue para ser bebido. Através deste gesto Jesus estava ensinando que todos devemos viver a Sua vida. É disto que Paulo estava tratando ao falar:

 

·         “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gl 2.20).

 

Vem a questão: como a salvação do Eterno é desenvolvida em nós?

 

·         “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” (1Jo 1.7).

 

Veja que é dito que o sangue de Cristo nos purifica (presente, e não passado) de todo pecado. Ou seja, a purificação se dá a todo instante. E como ela dá? Na medida em que temos comunhão uns com os outros.

Como assim? Ao invés de cada um buscar a purificação dos próprios pecados, cada um deve entregar sua vida para que os pecados dos outros sejam cobertos pela misericórdia do Eterno agindo em sua vida.

A prova disto pode ser vista em:

 

1.     “Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.” (Jo 20.21).

 

Veja que Jesus nos enviou exatamente do mesmo jeito que Ele foi enviado pelo Pai. E para quê Ele foi enviado? Para dar Sua vida em prol da purificação dos nossos pecados. Por isto Ele diz:

 

2.     “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (Jo 15.13).

 

Aliás, a própria concessão do Espírito Santo tem haver com isto:

 

3.     “E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos.” (Jo 20.22-23).

 

Sem contar que nossas dívidas são perdoadas quando perdoamos aos nossos devedores.

 

4.     “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;” (Mt 6.12).

 

Em outras palavras, o perdão concedido por Cristo a nós nada mais é do que a habilidade de perdoar àqueles que estão à nossa volta, ou seja, nos ligarmos novamente a eles na Palavra. O verdadeiro relacionamento é construído de perdão em perdão. A construção não se dá a partir da obrigação do outro em fazer aquilo que esperamos delas, mas sim da capacidade que Cristo nos dá de nos ligarmos a elas justamente naquelas áreas onde ela é deficiente.

Não é nós obrigando o indivíduo a ser perfeito mesmo com tantas lacunas em sua alma. Antes, nosso papel é colocarmos a nós e àqueles que o Eterno nos deu em cada uma das brechas que há na vida dele (Ez 22.30) e, ao mesmo tempo, permitirmos que ele sirva para tapar uma das brechas que existe em nós.

Em outras palavras, é nossa presença na vida do indivíduo ministrando-lhe misericórdia que o capacitará a ser perfeito (completo – Mt 5.48), e vice-versa.

Por isto é que diz que somos salvos e gerados de novo de acordo com a misericórdia do Eterno:

 

5.     “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo,” (Tt 3.5).

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,” (1Pe 1.3).

 

Se isto é pouco, considere que o Eterno encerrou a todos debaixo da desobediência a fim de poder usar de misericórdia para com todos:

 

6.     “Porque assim como vós também antigamente fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia pela desobediência deles, assim também estes agora foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada. Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia.” (Rm 11.30-32).

 

Note como todos nascem escravos do pecado (Rm 3.9) justamente para que não falte ocasião na qual Sua misericórdia possa ser vista por todos. A ideia é que todos possam enxergar o quão rica e eficaz é a misericórdia do Eterno agindo no ser humano, capaz de manter o pecado do indivíduo coberto. É como se o pecado fosse uma ferida no ser humano e a misericórdia que exercemos em sua vida, um bálsamo que impede o pecado de se alastrar. É por isto que a renovação da misericórdia do Eterno faz com que não sejamos consumidos (Lm 3.22-23).

E somos convidados a nos achegarmos ao trono do Favor do Eterno justamente para alcançarmos esta misericórdia, de modo a podermos encontrar toda a ajuda necessária para socorrermos os pecadores necessitados:

 

7.     “Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.” (Hb 4.16).

 

Ou seja, para termos condições de aproveitarmos bem o tempo da oportunidade, precisamos alcançar a misericórdia e o Favor do Eterno.

E o detalhe é que, mesmo eles não merecendo, ainda assim temos que exercer a misericórdia, e isso COM ALEGRIA:

 

8.     “Ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria.” (Romanos 12.8).

 

Afinal, a misericórdia triunfa sobre o juízo:

 

9.     “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.” (Tg 2.13).

 

Sei que não é fácil falar. Afinal, quem é que deseja problema para si? Todavia, se realmente queremos glorificar o Pai (Jo 15.8) e ser alvo da misericórdia do Eterno, devemos acolher de bom grado aquelas situações em que é possível o exercício da misericórdia.

Afinal:

 

·         Para crescer em amor, é preciso amar os amargurados;

·         Para crescer em alegria, é preciso amar os infelizes;

·         Para crescer em paz, é preciso amar os que estão em guerra consigo mesmos e com o Eterno;

·         Para crescer em paciência, é preciso amar os chatos;

·         Para crescer em bondade, é preciso amar os maus;

·         Para crescer em mansidão é preciso amar os violentos.

 

Repito: o Eterno não é glorificado no nosso esforço em não pecar, mas sim quando usamos de misericórdia com quem pecou, a saber, entregando nossa vida para que seus pecados possam ser cobertos.

Mas, o que significa cobrir pecados?

Muitos interpretam errado o seguinte versículo:

 

·         “Assim como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões” (Salmos 103.12).

 

Quando se fala em perdão dos pecados, isto não quer dizer que os pecados simplesmente deixam de existir. Pelo versículo acima, vemos que os mesmos continuam existindo, só que agora parecem distante de nós.

E como isto é possível? Quando alguém entrega sua vida para que os pecados de outrem sejam cobertos, este indivíduo fica junto ao pecador, servindo como instrumento para fortalecer sua fé e, ao mesmo tempo, ajudando o mesmo a superar todas as perdas sofridas pelos males e injúrias dos pecadores à sua volta. Enquanto ambos estão juntos, não se vê os pecados de ambos, já que ao invés de agirem pela carne, ambos estão confiando em Jesus para os enriquecerem espiritualmente através das perdas físicas.

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