domingo, 16 de março de 2014

55 - As 4 Mulheres Virtuosas da Escritura Sagrada - O que elas tinham de especial?

MULHERES VIRTUOSAS – QUAL A CARACTERÍSTICA DELAS? DE ONDE VIERAM?

Basicamente, quatro são as mulheres virtuosas mencionadas na Escritura Sagrada. Mas, o que estas quatro tem que as fez virtuosas?

                                                          Característica delas

1ª Sara

·         Semelhantemente , vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra; considerando a vossa vida casta, em temor. O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura dos vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus. Porque assim se adornavam também antigamente as santas mulheres que esperavam em Deus, e estavam sujeitas aos seus próprios maridos; como Sara obedecia a Abraão, chamando-lhe senhor; da qual vós sois filhas, fazendo o bem, e não temendo nenhum espanto.” (1Pe 3.1-6).

Analisemos cada uma das características:

·         Sujeita a seu marido, ou seja, nega-se a si mesmo, de modo a se entregar ao projeto de Deus na vida do marido e, assim, este não tenha outra escolha senão dar sua vida à sua esposa (Ef 5.25-27). Afinal, no que ele perceber todo o projeto de Deus para si no interior dela, não terá como recusar tamanha e eficaz ajuda. É assim que a mulher faz com que seu marido seja ganho para Jesus sem precisar de palavras (1Pe 3.1,2).
Isto pode ser visto na disposição de Sara em aceitar ver seu marido nas mãos de outra (Hagar), só para que a promessa de Deus para Abraão pudesse se cumprir (Gn 16.1), enchendo seu coração de felicidade (Gn 13.14-16; 15.5);
·         Tinha uma vida casta fundamentada no temor a Deus. Ou seja, sua pureza não era por medo do que o marido ou a sociedade iriam pensar se ela prostituísse, mas sim por ter medo de entristecer o coração de Deus;
·         O espírito manso e humilde era a sua vestimenta, ou seja, sua nudez era coberta se esvaziando de si mesma (humildade), de modo a poder aceitar de bom grado o que Deus permitia na sua vida, bem como Sua intervenção em meio a tais circunstâncias (mansidão);
·         O que enfeitava a mansidão e humildade dela não era adereços que se colocava exteriormente (tranças dos cabelos, o uso de joias de ouro, ou o luxo dos vestidos), mas sim sua capacidade e disposição de encobrir o marido no seu coração. Ou seja, seu alvo era ver o marido estimado diante de todos (Pv 31.23). Ou seja, seu papel lembra o do Espírito Santo: ajudadora, buscando Nele que Seu marido fosse convencido do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8) e, assim, arrependesse, convertesse e tivesse seus pecados cobertos pela vida do Cordeiro.
·         Esperava em Deus. Não esperava nos bens deste mundo, de modo a incitar o marido pensar nelas (ver 1Co 7.32-35);
·         Fazia o bem, ao invés de esperar pelo bem através das pessoas e recursos deste mundo;
·         Não temia nenhum espanto. Ao invés de se apavorar com as circunstâncias, ela as via como oportunidade de crescimento espiritual e de ver Deus operar em sua vida.

2ª Léia

·         “Ora, saiu Rúben nos dias da ceifa do trigo e achou mandrágoras no campo, e as trouxe a Léia, sua mãe. Então disse Raquel a Léia: Dá-me, peço, das mandrágoras de teu filho. Ao que lhe respondeu Léia: É já pouco que me hajas tirado meu marido? Queres tirar também as mandrágoras de meu filho? Prosseguiu Raquel: Por isso ele se deitará contigo esta noite pelas mandrágoras de teu filho. Quando, pois, Jacó veio à tarde do campo, saiu-lhe Léia ao encontro e disse: Hás de estar comigo, porque certamente te aluguei pelas mandrágoras de meu filho. E com ela deitou-se Jacó aquela noite.” (Gn 30.14-16 – AR1967).

Mandrágora era uma planta muito usada nos rituais de bruxaria. Suponha-se que ela tinha propriedades afrodisíacas. Embora não se saiba com precisão o interesse que Léia e Raquel tinha nesta planta, uma coisa é certa: Raquel considerou as mandrágoras mais valiosas do que uma noite com Jacó.
Léia, por outro lado, não hesitou em ceder as mandrágoras só para poder receber mais uma vez o amor de Jacó em seu interior, o qual resultou em mais um filho. Léia amava tanto a Jacó que se dispunha até mesmo a dar sua serva por mulher a Jacó, só para que pudesse vê-lo feliz com a vinda de mais filhos.

·         “Vendo, pois, Lia que cessava de ter filhos, tomou também a Zilpa, sua serva, e deu-a a Jacó por mulher.” (Gn 30.9).

É bem verdade que Raquel também fez isto.  Contudo, note a diferença nas motivações:

·         “Vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve inveja de sua irmã, e disse a Jacó: Dá-me filhos, se não morro. Então se acendeu a ira de Jacó contra Raquel, e disse: Estou eu no lugar de Deus, que te impediu o fruto de teu ventre? E ela disse: Eis aqui minha serva Bila; coabita com ela, para que dê à luz sobre meus joelhos, e eu assim receba filhos por ela.” (Gn 30.1-3).
·         E ouviu Deus a Lia, e concebeu, e deu à luz um quinto filho. Então disse Lia: Deus me tem dado o meu galardão, pois tenho dado minha serva ao meu marido. E chamou-lhe Issacar.” (Gn 30.17,18).

Enquanto Raquel foi movido de inveja pela irmã, Léia deu espontaneamente, por amor a Jacó. Ou seja, Léia não media esforços para que Jacó pudesse ser um homem feliz. Tudo que ela queria era ser amada por Jacó. A prova disto está no nome que deu a quatro de seus filhos:

·         “E concebeu Lia, e deu à luz um filho, e chamou-o Rúben; pois disse: Porque o SENHOR atendeu à minha aflição, por isso agora me amará o meu marido.” (Gn 30.32) – estava aflita para ser amada por Jacó;
·         “E concebeu outra vez, e deu à luz um filho, dizendo: Porquanto o SENHOR ouviu que eu era desprezada, e deu-me também este. E chamou-o Simeão.” (Gn 30.33) – não aceitava continuar sendo desprezada;
·         “E concebeu outra vez, e deu à luz um filho, dizendo: Agora esta vez se unirá meu marido a mim, porque três filhos lhe tenho dado. Por isso chamou-o Levi.” (Gn 30.34) – queria ser unida a Jacó;
·          “E Lia concebeu outra vez, e deu a Jacó um sexto filho. E disse Lia: Deus me deu uma boa dádiva; desta vez morará o meu marido comigo, porque lhe tenho dado seis filhos. E chamou-lhe Zebulom.” (Gn 30.19,20) – queria morar todos os dias com Jacó.

Note como cada filho era visto como um galardão de Deus na sua vida (Gn 30.17,18) por enxergar, neles, uma oportunidade a mais de ser reconhecida por aquele que ela amava. Por isto ela fez, do quarto filho, um louvor a Deus (Gn 29.35).

3ª Rute

·         “Então levantaram a sua voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela. Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus; onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o SENHOR, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.” (Rt 1.14,16,17).

Note que, enquanto Orfa se limitou a beijar sua sogra, Rute se apegou a ela de tal modo que fez a maior declaração de amor registrada na Escritura Sagrada feita por um ser humano a outro. Ela poderia ter ficado no conforto de seu lar em Moabe, em meio à sua parentela e povo, desfrutando de privilégios, mas, por amor a Noemi, se dispôs a ir para terra estrangeira, ainda que isto significasse ser humilhada e sofrer as mais diversas formas de discriminação.
Basta pensar que, além de Moabe ser inimigo de Israel, era proibido a alguém de Israel se ajuntar com Moabe (Dt 23.3,4 – detalhe: Israel é a congregação do Senhor). Ou seja, ela renunciou a tudo (negou a si mesma), abriu mão de todos os seus direitos (incluindo o direito de casar, já que, a princípio, como já dito, isto não era permitido), se dispondo a sofrer e ser humilhada (tomou a cruz, ou seja, aceitou a ser considerada como maldita por todos por causa de Noemi - Dt 23.3,4) só para seguir Noemi e ficar junto a ela por toda a vida.
Mas isto não é tudo! Veja o que diz Boaz:

·         “E disse ele: Quem és tu? E ela disse: Sou Rute, tua serva; estende pois tua capa sobre a tua serva, porque tu és o remidor. E disse ele: Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha; melhor fizeste esta tua última benevolência do que a primeira, pois após nenhum dos jovens foste, quer pobre quer rico. Agora, pois, minha filha, não temas; tudo quanto disseste te farei, pois toda a cidade do meu povo sabe que és mulher virtuosa.” (Rt 3.9-11).

Ao invés de ter ido após outros jovens e casar, preferiu ser fiel ao Senhor por amor a Noemi, aceitando se casar com alguém mais velho conforme ordena a lei do levirato. Casar com alguém que ela mal conhecia só por confiar na perfeição da lei de Deus é considerado uma beneficência ainda maior que ter sido fiel a Noemi, a quem ela bem conhecia. Era prova de fé.

4ª Rispa

·         “Mas tomou o rei os dois filhos de Rispa, filha da Aiá, que tinha tido de Saul, a Armoni e a Mefibosete; como também os cinco filhos da irmã de Mical, filha de Saul, que tivera de Adriel, filho de Barzilai, meolatita, e os entregou na mão dos gibeonitas, os quais os enforcaram no monte, perante o SENHOR; e caíram estes sete juntamente; e foram mortos nos dias da sega, nos dias primeiros, no princípio da sega das cevadas. Então Rispa, filha de Aiá, tomou um pano de cilício, e estendeu-lho sobre uma penha, desde o princípio da sega até que a água do céu caiu sobre eles; e não deixou as aves do céu pousar sobre eles de dia, nem os animais do campo de noite. E foi contado a Davi o que fizera Rispa, filha de Aiá, concubina de Saul. Então foi Davi, e tomou os ossos de Saul, e os ossos de Jônatas seu filho, dos moradores de Jabes-Gileade, os quais os furtaram da rua de Bete-Sã, onde os filisteus os tinham pendurado, quando feriram a Saul em Gilboa. E fez subir dali os ossos de Saul, e os ossos de Jônatas seu filho; e ajuntaram também os ossos dos enforcados. Enterraram os ossos de Saul, e de Jônatas seu filho na terra de Benjamim, em Zela, na sepultura de seu pai Quis, e fizeram tudo o que o rei ordenara; e depois disto Deus se aplacou com a terra.” (2Sm 21.8-14).

Note que Rispa permaneceu velando pelo corpo de seus filhos, mesmo depois de mortos. Ela não admitiu que os corpos de seus filhos fossem devorados por algum animal, nem de dia, nem de noite. Vigilância 24 horas, aparentemente a troco de nada (já que os corpos iriam ser comido por vermes no final, então para que tanto empenho?). Não era melhor se preocupar com os vivos?
Todavia, ao contrário da irmã de Mical (uma princesa) que nem se importou com isto (daí o nome dela não ter sido citado nesta passagem), esta concubina não aceitava que seus filhos fossem menosprezados. Era queria que todos soubessem que, para ela, seus filhos não eram um qualquer, mas alguém especial. Se ela não fizesse isto, Davi não veria a importância daqueles meninos.
Este gesto, aparentemente sem valor, teve tanto impacto na vida de Davi que, não só ele ordenou que os sete filhos fossem sepultados em Benjamin na sepultura de Quis, pai de Saul, mas também ordenou que os ossos de Jônatas e Saul que estavam esquecidos na terra de Jabes-Gileade fossem também ali enterrados, todos juntos. De certo ele viu que ainda havia coisa boa na família de Saul.
E foi depois disto que Deus se aplacou com a terra. Ou seja, embora o motivo principal da seca fosse a matança que Saul fez aos gibeonitas (1Sm 21.1), o desprezo para com os ossos de Saul e Jônatas também estava contribuindo para isto. Afinal, como pôde Davi, que sempre exaltou Saul por ser o ungido do Senhor (1Sm 24.6,10; 26.9,11,16,23; 2Sm 1.14,16) e a Jônatas pelo imenso amor que tinha por ele (2Sm 1.26), tratar com tal descaso o resto dos corpos mortais deles (algo muito importante na época)?

Qual era a origem destas mulheres?

1ª Sara

·         “E estas são as gerações de Terá: Terá gerou a Abrão, a Naor, e a Harã; e Harã gerou a Ló. E morreu Harã estando seu pai Terá ainda vivo, na terra do seu nascimento, em Ur dos caldeus.” (Gn 11.27-28).

Sara era de Ur dos Caldeus, uma terra tão má que Deus ordenou que Abraão saísse dali (Gn 15.7). No entanto, apesar de ter nascido numa terra conhecida pela imoralidade e idolatria (basta pensar nas inúmeras vezes que associa a Babilônia com a terra dos Caldeus – Jr 50.1,8,25,35), ainda assim uma mulher virtuosa pôde ser encontrada ali, o que testifica o poder de Deus em conservar alguém incontaminado do pecado (2Pe 2.9; 1Jo 5.18; Jd 24).
Israel só voltou para a terra dos caldeus quando se afastou deliberadamente de Deus.

2ª Léia

·         “E aconteceu que, ouvindo Labão as novas de Jacó, filho de sua irmã, correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e beijou-o, e levou-o à sua casa; e ele contou a Labão todas estas coisas. Então Labão disse-lhe: Verdadeiramente és tu o meu osso e a minha carne. E ficou com ele um mês inteiro. Depois disse Labão a Jacó: Porque tu és meu irmão, hás de servir-me de graça? Declara-me qual será o teu salário. E Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Lia, e o nome da menor Raquel. Lia tinha olhos tenros, mas Raquel era de formoso semblante e formosa à vista..” (Gn 29.13-17).

Léia era filha de Labão, um idólatra (Gn 31.30) ganancioso, que enganou Jacó várias vezes (Gn 30.41). Ela pertencia ao povo do qual Deus disse para se apartar, a saber, da parentela dele (Gn 12.1). Infelizmente Abraão achava que o problema era apenas a terra onde sua parentela estava (Gn 24.5-7), o que não é verdade. Era para ele se afastar da parentela, mas desobedeceu três vezes:

·         ao sair de Ur dos Caldeus junto com seu pai e toda a sua família (ajunte Gn 11.31 com Gn 15.7);
·         ao levar Ló consigo (Gn 12.5);
·         ao enviar seu servo para tomar Rebeca, sua parenta, como esposa para Isaque.

Talvez você questione: mas Deus abençoou esta união. Entenda: o fato das coisas estarem saindo do jeito que esperamos ou queremos não quer dizer que Deus está aprovando (Gn 24.11-20). Deus permitiu que o servo tivesse sucesso, mas Ele jamais revoga Sua Palavra (Nm 23.19).
Resultado: Rebeca era tão enganadora quanto Labão, seu irmão (Gn 27.8-17). Sua maquiagem em Jacó foi tão bem feita que conseguiu enganar Isaque. Olha que, para confundir pelo humano com o de cabrito é preciso muita arte. E Jacó acabou seguindo os passos de sua mãe.
Como se sua origem já não fosse ruim, Léia era mais velha e não tinha uma bela aparência. No entanto, esta mulher, que tinha tudo pra não ser nada, era a mulher que todo homem de Deus gostaria de ter. Infelizmente Jacó só foi enxergar isto no fim da vida dele (tanto que foi ela que foi enterrada ao lado de Jacó, junto com Abraão e Sara, Isaque e Rebeca – Gn 49.31). Se Jacó tivesse enxergado a mão de Deus agindo, ao invés fitar os olhos obstinadamente em Raquel e na enganação de Labão, teria se casado apenas com Léia e teria sido o homem mais feliz do mundo. Não precisava estar no meio da competição das duas irmãs (Gn 30.1) sofrendo tantos aborrecimentos.
Assim como, o fato de ser feia e desprezada fez de Léia uma mulher virtuosa e temente a Deus, o verdadeiro servo de Deus é justamente aquele que é rejeitado por este mundo e considerado feio aos olhos dele, pois apenas os tais não têm motivo algum para agradar ao mundo, podendo se apegar a Deus firmemente. Apenas tais pessoas são capazes de ser gratas de verdade por terem sido escolhidas. Infelizmente, muitos buscam serem reconhecidos em Cristo a fim de serem aceitos pelo mundo (como a prostituta Israel de Ez 16).

3ª Rute

Conforme já dito, Rute era de Moabe, inimigo de Israel e, como qualquer outra nação gentílica, alvo de desprezo por parte dos israelitas (veja, por exemplo, Jz 14.3; 15.8; 1Sm 14.6; 31.4; 2Sm 1.20; 1Cr 10.4; Ez 28.10; 31.18; 32.19,21,24-30,32). Até na Igreja neo-testamentária havia tal desprezo (At 10.28,44-46; 11.2,3).
Contudo, desta nação, que ninguém dava nada por ela, que fora excluída pelo sistema religioso da época, surgiu a mulher virtuosa mais proeminente, a única mulher virtuosa a ser citada na genealogia de Jesus (Mt 1.5). E pensar que nenhum moabita deveria entrar na congregação do Senhor (Dt 23.3,4). Contudo, não há lei que fica de pé ante o amor verdadeiro. Contra o fruto do Espírito Santo não há lei (Gl 5.22,23).
Em outras palavras, no que Rute converteu de verdade ao Senhor, foi recebida por Ele através de Boaz. A lei é feita apenas para os transgressores (1Tm 1.8-11), seja para os que pecam diretamente ou indiretamente (julgando ou condenando aqueles que não fazem aquilo que decidiram considerar reto). Ou seja, a lei foi dada para condenar todo o sistema jurídico (reús, acusadores, júris, advogados, promotores e juízes), para fazer crescer a culpa de todos eles (Rm 3.19; 5.20) e, assim, atrair o castigo.
Para ser mais exato: a ideia é que, quanto mais o homem tente se justificar, mais culpa ele adquira diante de Deus.
Rute, contudo, foi aceita, não neste sistema religioso. Por isto a lei de Deus não foi violada. Ela foi recebida na aliança do Favor de Deus.
Entenda: Antigo Testamento e Novo Testamento não são duas épocas distintas, mas sim dois tipos de alianças. As duas sempre andaram em paralelo, embora a última só veio a ser melhor conhecida após a morte de Cristo.
Quando a Escritura Sagrada diz que o Antigo Testamento foi abolido com a morte de Cristo (Ef 2.14; Cl 1.15; Hb 7.11), o que está dizendo que encerrou-se o tempo que Deus iria operar Seus milagres em cima dos preceitos da Antiga Aliança, cuja finalidade foi mostrar que, por mais que Ele queira abençoar o ser humano, ainda assim, enquanto a pessoa insistir em viver para si mesma, não poderá ser justificada (Hb 10.1-3), muito menos agradar a Deus (Rm 8.5-9). Contudo, as duas continuarão existindo lado a lado.
Enfim, a Antiga Aliança é antiga (Hb 8.10-13) com relação a Israel, por ter sido o método mais usado por Deus para falar ao povo que Ele elegera (visto que foi isto que eles pediram – Êx 20.18-20; Hb 12.18-21).

4ª Rispa

·         “E foi contado a Davi o que fizera Rispa, filha de Aiá, concubina de Saul.” (2Sm 21.11).

Enquanto a ilustre princesa, filha de Saul, não se importou com os corpos dos seus cinco filhos, Rispa, uma simples concubina, não se conformou que tal humilhação caísse sobre seus filhos.
Para que você entenda a importância disto, é bom lembrar que concubina, nos tempos do Antigo Testamento, eram mulheres que, embora vivessem maritalmente com um homem, não estavam legalmente casadas. Ou seja, eram mulheres desprezadas, visto que não foram reconhecidas pelo homem como esposa.
No Novo Testamento, é claro, isto não tem mais valor. Repare como os 37 versículos em que aparece a palavra concubina pertencem ao Antigo Testamento. Isto porque, no Novo Testamento, só de o homem se ajuntar com uma mulher para ter relação sexual, já formou um só corpo com ela (1Co 6.16). Ou seja, não há sentido falar em:

·         Casamento civil, pois o mesmo se trata de um acordo comercial para obtenção de vantagens financeiras perante a sociedade;
·         Casamento religioso, pois o mesmo nada mais é do que mero ritual promovido por uma instituição religiosa, simplesmente para agradar parentes e amigos escravos de uma sociedade hipócrita e pagã, como se este ritual fosse capaz de conferir alguma bênção sobrenatural ao lar (mero misticismo).

Enfim, na época, uma mulher como Rispa era taxada como prostituta.

Conclusão

Muitas vezes o coração das pessoas está mais duro do que um monte. Tanto em, num determinado ponto da história, Deus ordena ao profeta para clamar aos montes (Is 1.2; Ez 36.4,8), pois esta atitude de louco era um sinal para a enlouquecida Israel que preferia confiar em deuses mortos do que no Deus verdadeiro.
Muitos, por estarem com o coração sobremodo endurecido, desprezam aqueles que não lhes agrada, ignorando que as maiores dádivas de Deus surgem daqueles que foram rejeitados pelo mundo (ver Jo 9.34,35). Basta pensar que Jesus vem a nós justamente através daquelas pessoas que o mundo não dá nada por elas:

·         famintos e sedentos, os quais não conseguiram se satisfazer com a justiça deste mundo (Mt 5.6);
·         nus, que não têm a cobertura deste mundo, mas são pobres de espírito (Mt 5.3);
·         doentes, os que choram e afligem suas almas por verem tanta injustiça (Mt 5.4; 2Co 11.28,29; Cl 1.24; 2Pe 2.7,8);
·         presidiários, ou seja, as pessoas boas, honestas, justas e verdadeiras que o sistema que rege este mundo prendeu por pregar conceitos e valores que eles não conseguiam receber nem praticar (At 16.20,21);
·         forasteiros, ou seja, o mundo é estranho para ele e vice-versa.

Paulo confirma isto:

·         “Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.” (1Co 1.26-29).

Ou seja, se não quisermos jogar fora as grandes bênçãos de Deus para nós, precisamos parar de rotular as pessoas ou aceitar o rótulo que puseram sobre elas. Veja o caso de Natanael: o preconceito contra Nazaré quase o impede de conhecer o Rei dos reis (Jo 1.45,46). Era justamente nesta terra desprezada desde os tempos de Isaías (Is 9.1,2) que iria morar o Deus Vivo que veio para salvar a humanidade da ira de Deus na vida das pessoas, ou, se preferir, da ira que as pessoas têm de Deus (é isto o que a Escritura Sagrada chama de ira de Deus).

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