PASSAGEM DO SAMARITANO – o importante é o estilo de vida
que adotamos.
Mestre, que farei para herdar a vida eterna? (Lc 10.25). Esta foi a primeira pergunta que o doutor da lei
fez a Jesus. E Ele responde com uma pergunta: “Que está escrito na lei? Como
lês?” (Lc 10.26). Já que ele insistia em achar que
era por meio de obras que se alcança a vida eterna, nada mais indicado do que
buscar na lei uma resposta para isto. Note, então, que todo trecho é uma busca
na lei para a questão da morte.
A primeira coisa a perguntar é: qual a importância do
samaritano nesta passagem? Quem era este samaritano?
O Eterno prometeu a Israel a terra de Canaã. Após a morte
de Josué as 12 tribos de Israel andaram dispersas, cada um fazendo o que era
bom aos seus olhos (Mt 21.25). Quando Davi sobe ao
trono, ele consegue unificar Israel e, durante todo o reinado de Salomão,
Israel permaneceu unido.
Após a morte de Salomão, Israel se dividiu em dois reinos:
o reino do norte, com dez tribos. E o reino do sul constituído pela tribo de
Judá (1Rs 11.31-36). A partir daí, nunca mais as dez tribos do norte se
sujeitaram ao domínio de Judá (1Rs 12.19).
Inicialmente, a capital das dez tribos do norte ficou sendo
Tirza (ver 1Rs 15.33). No entanto, quando Onri comprou de Semer o monte
dele, em sua homenagem, chamou a cidade que nele edificara de Samaria (1Rs
16.24), a qual passou a ser a nova capital do reino do norte.
Ou seja, a principal razão de os judeus não se darem bem
com os samaritanos (Jo 4.9) é por não aceitarem este
ato de rebeldia que perpetuou até à época de Jesus. Muito tempo depois, no
reinado de Oséias (1Rs 17.1-3), Salmanezer invade
Samaria e a toma, levando todo o Israel cativo para a Assíria. E, para deixar
Israel sem pátria, envia indivíduos das mais diversas nações para ali habitar
(1Rs 17.24). Como, todavia, estes indivíduos começaram a ser atacados por
leões, eles trouxeram um sacerdote para ensinar como temer o Eterno (1Rs
17.26-28). A partir daí cada grupo adorava ao mesmo tempo ao Eterno e aos seus
deuses (1Rs 17.29-33).
Daí Jesus chamar os samaritanos de estrangeiros (Lc 17.16-18). Ou seja, além de tudo que Samaria
representava em termos da rebelião das dez tribos do norte, ainda havia o fato
de que estrangeiros se apossaram da terra deles e adoravam ao Eterno de um modo
que não lhes proporcionava nenhum lucro.
Como não existe em nenhum lugar na Escritura Sagrada que
afirma que este episódio é uma parábola, tudo leva a crer que este fato
realmente aconteceu. Ou seja, três indivíduos desceram de Jerusalém a Jericó
pelo mesmo caminho: um cidadão que foi atacado por salteadores, um sacerdote,
um levita. Não dá para saber ao certo o que eles tinham ido fazer em Jerusalém
(talvez tivessem ido participar de um culto judaico, já que um sacerdote e um
levita estavam descendo por este mesmo caminho).
Mas afinal, por que o sacerdote e o levita não quiseram
acudir ao ferido? A princípio muita coisa poderia ser conjecturada, se não
fosse o fato de que o assunto aqui tratado é a salvação através da lei. Além
disto, não é em vão que Jesus enfatiza que era um sacerdote e um levita. Como é
bem sabido, nenhum israelita poderia se contaminar com indivíduos leprosos ou
que apresentavam fluxo de sangue (Nm 5.2,3), quão
dirá os sacerdotes e levitas, cuja pureza e santidade exigidas eram ainda
maiores (ver Lv 21.1-15).
Note que a própria lei mosaica era um empecilho para eles
obedecerem ao segundo maior princípio da lei do Antigo Testamento. Pela lei,
cada indivíduo é obrigado a punir o infrator na tentativa de recuperá-lo (ver Mt 18.15-17). Se, por outro lado, o indivíduo não quiser
punir, ele estará sendo injusto, dando espaço para que outros venham também a
transgredir. A única saída é a misericórdia, ou seja, o indivíduo permanecer
junto ao infrator buscando que o Eterno use sua vida para recuperá-lo, como se
ele fosse uma tala para ajudar na recuperação do membro ferido.
Finalmente, pense: qual foi a segunda pergunta feita pelo
doutor da lei? “Quem é meu próximo?”. Ora, se o próximo do homem ferido foi
quem usou de compaixão para com ele (Lc 10.36), logo
nosso próximo será aquele que usar de misericórdia para conosco (Lc 10.36).
Ou seja, nossa vida deve dar condições para que aqueles que
desejam ser usados pelo Eterno para exercer Sua misericórdia tenham onde
praticá-la. Enfim, a forma de herdar a vida eterna é vivendo uma vida que seja
digna da misericórdia do Eterno para conosco, como Ele mesmo disse:
·
“Porém ele disse: Eu farei passar
toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do SENHOR diante de
ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de
quem eu me compadecer.” (Êx 33.19).
Entendendo que todo aquele que invocar o nome do Eterno
será salvo (Jl 2.31), que a bondade e a misericórdia
do Eterno nos seguindo é que garante que iremos habitar na casa do Eterno para
sempre (Sl 23.6) e que Ele, em Si, é a vida eterna (Jo 17.3; 1Jo 5.20), logo a receita para ser salvo é ser
alvo da misericórdia do Eterno.
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