sábado, 19 de setembro de 2015

113 - O espinho na carne e a finalidade do evangelismo

O espinho na carne e a finalidade do evangelismo · “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.” (1Co 12.7-12). Muita confusão é feita em cima deste trecho da Escritura Sagrada. Ninguém consegue chegar a uma conclusão definitiva acerca do que vem a ser o espinho na carne. No entanto, a resposta é bem mais simples do que se pode imaginar. O trecho é claro: o espinho na carne é um mensageiro de Ha-Satan. Ou seja, trata-se de um grupo de indivíduos usados por Ha-Satan para perseguir Paulo. De quem se trata? Dos membros do sistema religioso, os quais podemos dividir em dois grupos: 1. Os judeus que não criam em Jesus, os quais perseguiam Paulo de cidade em cidade, como pode ser observado ao longo do livro de Atos: · “Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judéia estão em Jesus Cristo; porquanto também padecestes de vossos próprios concidadãos o mesmo que os judeus lhes fizeram a eles, os quais também mataram o SENHOR Jesus e os seus próprios profetas, e nos têm perseguido; e não agradam a Deus, e são contrários a todos os homens, e nos impedem de pregar aos gentios as palavras da salvação, a fim de encherem sempre a medida de seus pecados; mas a ira de Deus caiu sobre eles até ao fim.” (1Ts 2.14-16). 2. Os judeus que, embora cressem em Jesus, insistiam em afirmar que era necessário manter os preceitos da lei de Moisés. Considerando que Paulo disse que o espinho era um “mensageiro”, logo certamente está se referindo a este último grupo. Eles estavam sempre tumultuando. Inclusive, foi a partir de uma discussão entre eles e Paulo que se deu o concílio de Jerusalém: · “Então alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos. Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, sobre aquela questão.” (At 15.1,2). Esta questão foi tão séria que, pelo fato de Paulo não obedecer à decisão do concílio (de que não era para perturbar os gentios com os preceitos da lei de Moisés – At 15.19), os gentios começaram a questionar até mesmo a autoridade apostólica de Paulo. Tanto que os dois primeiros capítulos de Gálatas foram dedicados por Paulo para mostrar-lhes que o evangelho que ele pregava não recebera de homem algum, muito menos pensando em agradar alguém (Gl 1.10). E não é de admirar que os gálatas tivessem tal dúvida. Afinal, Paulo, que antes estava defendendo acirradamente a não necessidade da circuncisão (At 15.1,2), logo após a decisão do concílio resolveu circuncidar Timóteo, e isto para agradar os judeus: · “E chegou a Derbe e Listra. E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego; do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e em Icônio. Paulo quis que este fosse com ele; e tomando-o, o circuncidou, por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego.” (At 16.1-3). Isto incentivou, tanto os gálatas como os colossenses, a adotarem as práticas israelitas do Testamento da Lei. Daí Paulo escrever: · “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo. ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.” (Cl 2.16-23). · “Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 3.1-3) · “Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco. Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade? Eles têm zelo por vós, não como convém; mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles.” (Gl 4.9-11,16,17). · “Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá a condenação. Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, por que sou, pois, perseguido? Logo o escândalo da cruz está aniquilado. Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.” (Gl 5.10-12). Repare que havia indivíduos inquietando os Gálatas, levando-os a acreditar que tinham que guardar a lei mosaica? Vem a questão: quem esta fazendo isto? · “Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.” (Gl 6.12,13). Trata-se dos judeus convertidos que, embora afirmassem crer em Jesus, não queriam ser perseguidos pelos judeus incrédulos. Antes, queriam mostrar boa aparência exterior. Para conseguir isto, eles estavam obrigando todos os gentios a circuncidarem a fim de usarem isto como desculpa para não seres discriminados pelos judeus convertidos, nem serem questionados pelos demais irmãos da Igreja quanto à sua fé em Jesus. Esta pregação errada do evangelho de Jesus era um verdadeiro tormento para Paulo: · “Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa vontade; uns, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões.” (Fp 1.15,16) · “Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas. Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu me não abrase?” (2Co 11.26-29) Em outras palavras, quando Paulo pediu para Jesus tirar da vida dele o espinho na carne, o que ele estava pedindo era o fim da perseguição dos judeus, bem como da propagação de heresias que atrapalhavam a propagação do evangelho. Afinal, pense: se não houvesse tal oposição, o evangelho seria propagado muito mais depressa e sem confusão. Isto parece uma coisa boa. No entanto, Jesus não atendeu o pedido de Paulo, pois isto faria tão somente ele exaltar a si mesmo. Ainda mais considerando a grandeza das revelações a que ele teve acesso. Mas afinal, qual a principal mensagem de 2Co 12.7-12? O que o Eterno estava tentando ensinar a Paulo? Que o poder se aperfeiçoa na fraqueza, e não na força. E não é só Paulo que teve dificuldade de entender esta lição. Elias também teve dificuldade. Após o Eterno ter feito descer fogo do céu para consumir o holocausto (1Rs 18.38) e ter feito chover conforme a sua palavra (1Rs 18.42-45), Elias achava que o povo todo ia converter. Quando, no entanto, ele ficou sabendo que Jezabel ia matá-lo, primeiro ele ficou com medo (1Rs 19.1,2). Depois, quando ele percebeu que Jezabel só seria capaz de matá-lo pelo fato de muitos do povo haveriam de apoiá-la, ele caiu em depressão profunda e quis morrer (1Rs 19.4). O que ele não entendia é que a verdadeira ministração do Eterno não estava num grande terremoto, num imenso fogo consumidor, num vento fortíssimo capaz de despedaçar pedras, mas numa voz mansa e suave (1Rs 19.11,12). Considere o caso de Jesus. Durante todo o tempo da Sua vida, Ele fez tantos sinais e falou tantas coisas maravilhosas que nem o mundo inteiro poderia caber os livros necessários para descrever cada coisa (Jo 21.25). Agora analise: se uma única palavra de Jesus pode curar alguém (Mt 8.8), quão dirá tudo que Jesus fez e falou. Pense: Jesus falou e agiu com perfeição total vinte e quatro horas. Não perdeu um segundo qualquer. Toda Sua palavra é viva e eficaz (Hb 4.12). E fez e falou tantas coisas que seria impossível relatar tudo. No entanto, apesar de tudo isto, quantos indivíduos converteram enquanto Ele viveu em carne e sangue? Nenhum! Nem mesmo os apóstolos: · “Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.” (Lc 22.31,32). · “Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu.” (Jo 14.28). Apesar de eles todos terem deixado tudo para seguir Jesus, terem participado de quase todos os momentos de Sua vida, terem obedecido Ele fielmente (com exceção de Judas) e terem sido usados pelo Espírito Santo para fazer milagres, ainda assim nenhum deles amava Jesus. Pedro nem convertido era (e já que nenhum dos outros amava Jesus, logo nenhum deles era convertido). Ora, pense: mesmo andando quase quatro anos com Jesus: · João pediu que fogo do céu caísse sobre os samaritanos (Lc 9.52-56); · Pedro cortou a orelha de Malco quando Jesus estava para ser crucificado (Jo 18.10); · Pedro negou Jesus três vezes (Jo 19.38); · Judas roubava as finanças (Jo 12.6) e traiu Jesus (Mt 10.4); · Até na santa ceia, quando Jesus dava a maior demonstração de humildade, os discípulos mais uma vez brigavam para ver quem era o maior (Lc 22.24-27); · Filipe não acreditava que Jesus e o Pai eram um (Jo 14.8-11). Sem contar que nem mesmo Maria Madalena (Jo 20.15), os discípulos de Emaús (At 24.13-24) e Tomé (Jo 20.24,25) conseguiram entender e acreditar na mensagem que Jesus pregava, sendo que os dois primeiros nem conseguiram reconhecer Jesus à primeira vista. Agora, se nem mesmo Jesus com toda Sua eficácia e pregação conseguiu durante Sua vida que alguém se convertesse, o que faz pensar que nós, por melhor desempenho que possamos ter, conseguiremos melhores resultados? Muitos até hoje não entenderam a mensagem do Getsêmani. Jesus, ali, em momento algum fraquejou na carne e tentou convencer o Pai a mudar os planos. Ele mesmo disse que não faria isto, mas que tinha prazer na vontade do Pai e se angustiava até que Seu ato na cruz se consumasse: · “Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora.” (Jo 12.27); · “Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra.” (Jo 4.34); · “Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste. Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está escrito. Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração.” (Sl 40.6-8). · “Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lc 12.50). Repare como a felicidade de Jesus era justamente oferecer-se a Si mesmo na cruz. Tanto que Ele não fez nada para evitar a cruz. Até repreendeu Pedro quando tentou livrá-Lo: · “Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.” (Mt 16.21-23). · “E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha. Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?” (Mt 26.51-54). · “Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18.11) Ele poderia pedir ao Pai auxílio dos anjos, mas não fez porque Ele tinha prazer no cumprimento da Escritura Sagrada. A única razão para Jesus pedir “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.” (Lc 22.42) é para nos ensinar que não existe salvação sem cruz. Se houvesse possibilidade de sermos salvos sem precisar daquele sacrifício todo, o Pai teria atendido Jesus. Mas a verdade é que o poder do Eterno se aperfeiçoa na fraqueza, e não na nossa força ou capacidade. Tanto que foi quando Jesus estava na cruz que, pela primeira vez, alguém converteu de verdade a Jesus e reconheceu quem Jesus era. Primeiro foi o ladrão na cruz. Observe que, no início da crucificação, os dois ladrões estavam zombando de Jesus (Mt 27.44). No entanto, durante este período, após ver Jesus orando “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23.34) e preocupado com o bem-estar de sua mãe e seu amado discípulo (Jo 19.26,27), um dos ladrões reconheceu que Jesus realmente era o Messias. Note como foi a compaixão de Jesus, mesmo em meio a tamanho sofrimento no corpo, na mente, no sentimento e no espírito que mexeu com o coração do ladrão. E não apenas dele, mas também do centurião: · “E o centurião, que estava defronte dele, vendo que assim clamando expirara, disse: Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus.” (Marcos 15.39). Ou seja, não é o poder ou as palavras de Jesus que conduziram à salvação, mas a Sua misericórdia para com os Seus discípulos e os Seus inimigos. Não é à toa que, na parábola do joio, é dito aos ceifeiros para não arrancar o joio: · “E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo? Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele.” (Mt 13.28,29). Ora, considerando que os ceifeiros são os anjos (Mt 13.39), não haveria risco de arrancar o trigo junto com o joio. Eles poderiam muito bem colher o joio sem danificar fisicamente o trigo. Sendo assim, então o que Jesus quis dizer? O problema é que, se o joio fosse arrancado, como é que a misericórdia do Eterno poderia ser manifestada? Por isto é que o Eterno não destrói de imediato os vasos de ira: · “E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou,” (Rm 9.22,23). Para que o Eterno possa manifestar Sua glória, faz-se necessário o uso da misericórdia. É através da dela que todos irão conhecer quem Jesus é (Sua glória). E como misericórdia só pode ser exercida quando há pecado para ser perdoado, daí a ordem para amar os inimigos (Mt 5.44). Agora entende por que Jesus chama os pecadores (e não os justos) ao arrependimento (Mt 9.12,13)? Entende por que há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por 99 justos que não necessitam de arrependimento (Lc 14.7)? Compreende o motivo de o Eterno suprir todas as necessidades do Seu rebanho na presença dos inimigos (Sl 23.1,5)? Por que o favor do Eterno só pode ser superabundado onde o pecado abunda (Rm 5.20). Agora entende o que Jesus estava dizendo para Paulo? O Meu Favor te basta (2Co 12.9)! Ou seja, a verdadeira obra do Eterno não estava na obra de evangelização em si, mas sim no exercício da Sua bondade e misericórdia (Sl 23.6) para com os opositores. Por isto é que o Favor do Eterno bastava. Bastava para quê? Para que a vontade de Paulo em ser usado em prol do nome de Jesus pudesse atingir todo o apogeu na sua vida (At 21.13). A grande felicidade não é só sair do mundo e estar com Cristo, mas poder ser usado por Ele para se revelá-Lo a todos e salvar alguns (Fp 1.21-26). Agora fica claro o motivo pelo qual ninguém é salvo pelas obras (Ef 2.8,9). A obra do Eterno, em Si, pode até trazer benefício físico aos indivíduos. Contudo, jamais trará salvação a quem a pratica, muito menos a quem é beneficiado por ela. Assim como a flor em si não é importante, mas sim o fruto, a obra em si não é importante, mas sim o fruto do Espírito Santo que pode ser produzido através dela. Entenda: a única finalidade da flor é atrair os insetos, a fim de que eles venham para se alimentar e, com isto, fertilizem a planta, de modo que esta venha a produzir sementes e frutos. Tão logo a flor é fertilizada, ela murcha para dar lugar ao fruto. De igual modo, a finalidade da obra é atrair os opositores. Afinal, sempre que alguém se levanta para fazer o bem, aqueles que vivem da desgraça e miséria alheia se levantam contra (como se vê, por exemplo, em Mt 12.22-24). Assim, quando você for fazer uma obra para o Eterno, não peça para Ele arrancar o espinho na carne, o joio no campo, nem para destruir os vasos de ira. Antes, tire o foco da obra e abrace a vontade do Eterno amando estes opositores O alvo não é obra, mas os opositores que ela desperta.. A verdadeira obra do Eterno é o exercício da misericórdia para com eles. Em outras palavras, quando surgirem os opositores, se alegre, pois é chegada a hora de você finalmente poder mostrar o Eterno aos indivíduos. Se não houver os opositores, sua obra ficará estéril. Então quer dizer que é para nos esforçarmos para amar e ter misericórdia dos inimigos? Não! Não é o teu esforço em levar tua alma a se comportar corretamente ou teu espírito a ser tomado apenas por bons sentimentos que conduz à salvação. Tudo isto são obras da carne que só servem para inchar o teu ego (analise Rm 3.20,28; Gl 2.16; Rm 4.5,6). Lembre-se do que o Eterno disse: “a MINHA graça te basta”, “o MEU poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Ou seja, o que precisa ser visto não é nossa bondade, capacidade, força de vontade, etc, mas sim a força do Eterno (2Cr 16.9; Zc 4.6). Lembre-se que a nova criatura (2Co 5.17) é nascida do Espírito Santo, ou seja, pela Sua presença em nós (note que tais indivíduos nascem “de Deus”, ou seja, pela Sua companhia contínua na nossa vida - Jo 1.13). O que Ele faz não é deixar o vaso de barro perfeito, muito menos transformá-lo em porcelana, ouro, prata, etc. Antes, o que Ele faz é manifestar dentro de nós Seu superabundante favor (Rm 5.20), Seu amor que excede todo entendimento (Fp 3.19). Quando permitimos que isto aconteça dentro de nós, embora por dentro continuemos o mesmo, tudo aquilo que o Espírito Santo é se sobressai, de modo que não somos mais vistos. Quando os indivíduos olham para nós, veem um vaso de misericórdia todo de barro, deformado, com algum trincado, mancha, completamente sem valor (ajunte 2Co 4.7 com Rm 3.13-21), mas repleto de um conteúdo maravilhoso. Isto conduz os indivíduos a pensarem: mas como é possível que de um vaso pecador consiga sair tanta virtude? Quando os indivíduos à volta veem um vaso de misericórdia, cheio de pecado por dentro (ver Rm 3.9-18; 7.13-25), exercendo misericórdia para com um vaso de ira, fica então manifesto que a misericórdia do Eterno é maior do que a maldade de todos os homens juntos. Em suma, o que glorifica o Eterno é a comunhão perfeita entre os vasos de misericórdia (Jo 13.34,35; 15.12,13; 17.11,21-23) enquanto se deixam usar por Jesus para manifestar Sua misericórdia em direção aos vasos de ira. A obra do Eterno é tão somente o instrumento para que isto aconteça, embora também sirva para que todos possam ver que, mesmo com toda a oposição, ainda assim os planos do Eterno jamais podem ser frustrados (Jó 42.2; Is 43.13). Ou seja, não precisamos ficar ansiosos ou preocupados com as oposições, pois o que é do Eterno permanece para sempre (ver Ec 3.14; Hb 12.25-27). Lembre-se, inclusive, que o sucesso do plano de Jesus contou com a participação de um traidor e até mesmo do próprio Ha-Satan (Jo 13.26,27). Assim, voltando ao caso de Paulo, embora fosse um mensageiro de Ha-Satan que o estava importunando, tudo estava acontecendo com a permissão do Eterno. Para ser mais exato: era o Eterno que estava, no final, enviando este mensageiro, justamente para que Seu poder e misericórdia pudessem ser vistos (tal como se deu com faraó – ver Êx 9.14-16; 11.9; Rm 9.17). A verdadeira eficácia do ministério de Paulo estava em amar este mensageiro de Ha-Satan, e não em propagar a mensagem do evangelho pelo mundo inteiro. Ainda resta uma dúvida: mas se não é para nos esforçarmos para sermos bons, então como é que o Eterno será glorificado através de nós? É a presença Dele em nós nos conduzindo que permitirá todos verem quem de fato é o Eterno. Isto acontecerá quando, ao invés de nos afastarmos dos espinhos na carne ou querermos destruí-los, permanecermos na presença deles intercedendo diante do Eterno em favor deles e de nós. Quando isto acontece, nos veremos fazendo coisas em favor destes espinhos que jamais sonhávamos que seríamos capazes de fazer. Ficaremos espantados com os tipos de pensamentos e sentimentos que é possível sair do nosso interior, a ponto de dizermos: nem parece que sou eu. E não fato não somos nós, mas o Favor do Eterno agindo em nós (ver 1Co 15.10).

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