A visão correta
sobre fé
Muitos
confundem fé com crença ou com poder da mente. Vem a questão: qual é o tipo de
fé que agrada ao Eterno? Qual a relação entre fé e salvação?
1ª Análise: duas formas de se posicionar diante do Eterno:
Para
exemplificar isto, imagine que alguém está a nos aborrecer. Há duas formas de
orarmos ao Eterno. Uma é pedindo a Ele que abençoe o indivíduo que está nos
importunando, de modo que este tenha o que deseja, seja feliz e siga o seu caminho
em paz.
A
princípio, parece que esta oração é boa. Contudo, no fundo, no fundo, o que
estamos pedindo ao Eterno (ainda que de modo dissimulado)? Que este indivíduo simplesmente
desapareça de nossa vida. É uma forma sutil de tentarmos encobrir nossos defeitos.
Por
outro lado, e se pedirmos
ao Eterno que nos dê força para suportar o momento até o fim (é assim que somos salvos – Mt 24.13)
a fim de que, tanto nós como o outro indivíduo possamos tirar o melhor proveito
possível deste momento único?
Neste
caso, não apenas o incômodo será resolvido, mas nós e o indivíduo conheceremos
mais do Eterno, teremos nossos caráteres desenvolvidos, podendo até nos
tornarmos grandes amigos e, quem sabe, um em Cristo.
Esta
é a verdadeira essência do evangelho: unir pecadores um ao outro em Cristo e
Sua Palavra, a fim de que um seja usado para impedir o ego corrompido do outro
de fazer aquilo que deseja (Gl 5.16,17).
O
Eterno coloca um na vida do outro a fim de que ambos só consigam concordar
quando aquilo que estão fazendo dá ocasião para Ele operar Sua vontade (Mt
18.19) e efetuar
Suas ligações (Mt 18.18) onde Ele pretende estar de modo
tangível (Mt 18.20).
Veja
outros exemplos que ilustram a diferença entre fé carnal (também chamada de crença) e fé verdadeira.
Não
é preciso ter fé para pedir que o Eterno execute Seu juízo contra o pecador.
Qualquer um pode fazer isto (e faz, seja buscando entidades espirituais malignas ou buscando
ajuda na justiça mundana).
É preciso fé para ser capaz de amar este pecador, orar por ele, buscando a
reconciliação dele com Cristo, Sua Palavra (2Co 5.18-20) e consigo mesmo.
Não
é preciso fé para pedir ao Eterno que mude o cônjuge. É preciso fé para
permanecer junto dele, buscando ser transformado no caráter, crendo que este é
o presente que o Eterno lhe deu e o instrumento pelo qual ele será salvo por
Jesus se perseverar na bondade de Jesus (Jo 15.9; Rm 11.22)
até o fim (Mt 24.13).
2ª Análise: Hebreus 11.6
Para
entender melhor a questão da fé, analisemos o versículo abaixo de dois modos:
·
“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que
aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos
que o buscam.” (Hb 11.6).
Primeiro:
de baixo para cima. Quem tem este tipo de visão interpreta o versículo acima de
modo carnal. Ou seja: sem fé é impossível agradar ao Eterno. Porque, para
chegar mais perto do Eterno, é necessário crer que Ele existe lá no céu e que premia
aqueles que O buscam. Ou seja, quem deseja estar mais perto do Eterno, deve
buscar a melhor forma de agradá-Lo, sem jamais duvidar da Sua existência ou do
que Ele diz.
No
entanto, pense:
·
Como
podemos agradar ao Eterno se não fazemos nada de bom (Is
64.6; Rm 3.9-18) e nada há que possamos dar-lhe (Sl
24.1)?
·
Como
alguém pode se aproximar fisicamente do Eterno, sendo que Ele está em toda
parte?
·
Tem
lógica alguém buscar a alguém em quem não acredita?
·
Se
o Eterno recompensa só quem busca, então Ele é corruptível, a saber: se fazemos
o que Lhe agrada, temos prêmio; senão, temos castigo. Neste caso, qualquer um é
capaz de manipulá-lo.
Com
certeza este não é o Deus da Escritura Sagrada. Veja como uma visão egoísta do
versículo acima levam os indivíduos a enxergarem um deus que nada tem haver com
o Eterno.
Mas
então, qual a forma correta de ver o versículo acima? De cima para baixo.
Veja
como fica o versículo acima, quando visto a partir daquilo que o Eterno pode
fazer através de nós. Já que não temos nada de bom para oferecer ao Eterno, a
única forma de agradá-Lo é confiando Nele (tendo fé).
Porque é necessário que aquele que se deseja se aproximar de tudo que o Eterno
é, creia que existe para si.
Como
assim? Para viver um momento de modo sobrenatural (por exemplo, permanecer junto a um indivíduo
desagradável, sem agredi-lo ou afastar-se dele), a única forma é crendo que o
Eterno estará conosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt
28.20), ainda que
andemos pelo vale da sombra da morte (Sl 23.4).
Muitos
creem que o Eterno existe para os outros. Daí pedirem: orem por mim.
Entretanto, para ser como o Eterno, é preciso crer na companhia contínua Dele,
como se Ele existisse apenas para nós.
Não
entenda mal! O que eu quero dizer é que o Eterno não precisa afastar de nós
para atender outros indivíduos. Ele grande o suficiente para poder nos
consolar, guiar, guardar, etc. constantemente, sem com isto deixar de ministrar
na vida dos outros.
Mas
isto não é tudo: é preciso crer que Ele é galardoador dos que o buscam. Vem a
questão: o que é galardão? Por este versículo, vemos que o galardão não é algo
que receberemos apenas no céu. Considerando que a verdadeira bênção do Eterno
para quem o teme é a família (Sl 128.4; Ec
9.9) e que, os que
são fiéis ao Eterno, são abençoados com cidades (Lc 19.17,19), logo o galardão são os indivíduos
que irão constituir uma família dentro de nós.
Em
outras palavras, quem quer ser agradável ao Eterno deve buscá-Lo ciente do que
realmente irá receber. E quem busca ser como o Eterno, receberá indivíduos por
meio dos quais o amor Dele possa ser exercitado dentro de si e visto por todos
através do fruto do Espírito Santo (Gl 5.22).
Perceba
como muda completamente o caráter do Eterno quando o vemos do modo correto.
3ª Análise: Efésios 2.8,9
Eis
outro versículo a ser analisado:
·
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de
vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” (Ef 2.8,9).
Quando
visto de modo carnal, o indivíduo entende que, pelo sacrifício de Cristo, ele é
salvo da morte eterna, desde que acredite em Jesus. No entanto, repare a
incoerência que surge desta interpretação. Se ninguém é salvo pelas obras,
então isto dá a entender que basta ter uma fé teórica para ser salvo.
No
entanto, se alguém disser que a fé tem que ser confirmada pelas obras (como parece sugerir Tiago – Tg 2.14-17),
então as obras também são necessárias para a salvação. Veja que impasse.
No
final, a grande maioria, embora diga que as obras não são necessárias, acabam
fazendo coisas para o Eterno esperando, com isto, agradá-lo e alcançar bênçãos.
Vem
a questão: qual o modo correto de ver este versículo? De dentro para fora, ou
seja, a salvação, embora venha até nós da parte do Pai, ela só se concretiza brotando
de nós em direção ao próximo (Jo 4.13,14; 7.37-39).
Neste
caso, somos salvos, não do inferno, mas do pecado que mantém a grande maioria
cativa de maus desejos (ver Rm 3.9-18; 7.13-21). E como este salvação se processa?
Pela
graça, ou seja, pelo Favor que o Eterno quer exercer para com os indivíduos. Na
medida que somos tomados pela misericórdia do Eterno em favor do próximo, ao
invés de insistirmos em nosso arbítrio, querendo punir os que taxamos como
perversos, para abençoar os que achamos merecer, passamos a cogitar, diante do
Eterno, meios para que o mesmo não continue afastado Dele (ver 2Sm 14.14). Chegamos ao ponto de oferecermos
nossos corpos em oferta e sacrifício vivo, santo e agradável ao Eterno (Rm
12.1; Ef 5.1,2), a fim de que o indivíduo não consiga mais fazer o que
quer (Gl 5.16,17),
mas apenas aquilo que o Eterno deseja fazer para confirmar Sua presença (Mt
18.19,20) na vida
dele.
Contudo,
para que possamos permanecer firmes na bondade do Eterno sem dela nos
separarmos (Jo 15.9; Rm
11.22), é preciso
confiar que o Eterno jamais irá nos abandonar. Mais ainda: é preciso nos
agradarmos da companhia Dele (Sl 37.9) a ponto de a desejarmos vinte e
quatro horas conosco. Jamais conseguiremos permanecer na misericórdia do Eterno
sem contato permanente com Ele (Ez 19.5,6) e sem confiarmos que Ele irá
galardoar (nos abençoar
com aqueles que estamos a evangelizar – ver 1Pe 3.8,9) os que querem ser filhos Dele, ou
seja, perfeitos como Ele (Mt 5.44-48).
É
preciso fé para poder permanecer perto de um pecador sem pecar, até que o
Eterno opere Nele toda Sua vontade. Note que não se trata de fazermos obras
para tentarmos conquistar a amizade do indivíduo ou convencê-lo de que Jesus é
real e vivo. A ideia é permanecer na presença do Eterno a fim de que o indivíduo,
pelo contato contínuo conosco, venha a ser separado por Ele para Seu uso
exclusivo (ver 1Co
7.12-14).
Note
como é a presença contínua do Eterno, ministrando no coração do pecador a
excelência da misericórdia Dele, que vai convencendo-o do pecado, da justiça e
do juízo (Jo 16.8).
As obras são tão somente uma consequência da nossa confiança em Cristo. Elas em
si não salvam. Simplesmente acontecem em virtude da presença de Jesus na vida
de quem crê.
No
entanto, elas jamais são o nosso foco. Antes, o foco é a comunhão, ou seja,
nossa presença junto ao indivíduo, buscando no Eterno a confirmação de Sua
Palavra em meio ao problema que ele está vivendo.
4ª Análise: Isaías 55.6 e Isaías 59.1,2
Por
fim, analisemos mais estes dois versículos sobre a fé correta:
·
“Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está
perto.” (Is 55.6).
·
“Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa
salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os
vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.” (Is 59.1,2).
A
primeira impressão que temos é que nossas iniquidades separam o Eterno de nós,
o que não é verdade. Nós é que, como Adão, nos escondemos Dele (Gn
3.8).
Nossos
pecados encobrem o rosto do Eterno de nós. Ou seja, perdemos a imagem e
semelhança do Eterno em nós (lembre-se que devemos refletir como espelho a glória do Eterno
– 2Co 3.18), de forma
que, agora, passamos a vê-Lo de um modo completamente diferente.
Quando
isto acontece, passamos a orar ao Eterno, não de acordo com aquilo que
realmente somos, mas sim de acordo com aquilo que nos tornamos. Em outras
palavras, o Eterno não nos escuta porque não é mais nosso ego original que está
orando, mas sim nosso ego corrompido. Sem contar que não é ao Eterno que o ego
corrompido está a orar, mas sim ao deus que ele deseja que o Eterno seja. Em
outras palavras, ele está orando de si para si mesmo, tal como o fariseu da
parábola (Lc 18.11).
Assim,
não nos separamos do Eterno fisicamente, mas sim em nosso interior, no que
permitimos que Sua imagem em nós seja adulterada.
Baseado
nisto, a forma correta de buscar ao Eterno é recebendo Jesus quando Ele vem (Jo
1.12). Afinal, este
é o único modo de ser feito filho do Eterno ou, se preferir, aproximar do
Eterno, ter restaurada Sua imagem e semelhança em nós. E isto só acontecerá
quando o poder do Eterno operar em nosso interior tudo, muito mais
abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos:
·
“E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para
que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para
fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos,
segundo o poder que em nós opera,” (Ef 3.19,20).
E
o que é que Ele vai operar? Ora, qual é o poder que Ele nos deu? Não foi o
poder de ser feito filho do Eterno? Pense: do que está tratando este trecho de
Efésios?
·
“Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações
por vós, que são a vossa glória. Por causa disto me ponho de joelhos
perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,” (Ef 3.13,14)
Ou
seja, Paulo não queria que os Efésios se desfalecessem nas tribulações que ele
passava porque era por meio destas experiências é que ele iria se tornar filho
do Eterno. Afinal, é preciso que nós diminuamos (Jo 3.30) para que Cristo se manifeste em
nossa carne mortal (2Co 4.10,11).
Para
ser mais exato: o Eterno vai permitir que experimentemos tudo, todo tipo de
situação que é necessário para que sejamos filhos Dele. Ele vai nos conceder
oportunidades incríveis para que todos possam ver Jesus em nós, muito além
daquilo que um indivíduo que ama o Eterno pode pedir ou pensar.
Entenda:
o maior desejo de quem ama o Eterno de verdade é poder ser usado de todas as
formas possíveis a fim de que toda a beleza da Sua santidade (Sl
29.2; 96.9) possa
ser vista por todos à sua volta de modo inquestionável, mesmo que isto implica
em ter o corpo todo marcado por Jesus (Gl 6.17).
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