Parábola do juiz
iníquo
·
“E contou-lhes também uma parábola sobre
o dever de orar sempre, e nunca desfalecer,” (Lc 18.1).
Jesus não está dizendo que os homens devem sempre orar sem
esmorecer porque o Eterno é relutante em fazer o bem aos Seus escolhidos e,
assim, necessita de estímulo e instrução para atender aos que Nele creem.
Pelo contrário: é justamente porque Ele está interessado em
dar aos que creem o que há de melhor, que eles jamais devem deixar de orar.
Nosso erro é orar tentando convencer Jesus a corrigir o erro
que os indivíduos cometeram contra nós. Quando assim procedemos, eis o que, na
verdade, estamos fazendo:
·
“Irmãos,
não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão,
fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da
lei, mas juiz.” (Tg 4.11).
Ou seja, estamos acusando Jesus de fraco, incompetente,
insensível ou injusto. Afinal, por que Ele foi permitir o mal contra nós? E por
que até agora não fez nada a nosso favor?
Temos que aceitar que tudo que acontece a nós é a vontade do
Eterno (1Ts 5.16-18) e que nossa missão é sofrer a sã doutrina até o fim (Fp 1.29; Cl 1.24; 2Tm 4.3,4; 1Pe 2.18-25; 3.13-18; 4.12-19), até que toda a verdade e justiça se cumpra em nós e
através de nós. É justamente neste ponto que os sinceros são diferenciados dos
hipócritas.
Daí Jesus dizer:
·
“Mas aquele que perseverar até ao fim será
salvo.” (Mt 24.13).
Vem a questão: perseverar em quê?
·
“Porque o juízo será sem misericórdia sobre
aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.” (Tg 2.13).
Perseverar em exercer a misericórdia, ou seja, em entregar a
vida para que os indivíduos cresçam em caráter e atinjam o nível daqueles que
creem em Jesus.
Muitos pensam que se a oração não é capaz de mudar a mente
do Eterno, então é inútil.
Absolutamente! Se o Eterno mudasse Ele seria corruptível (Nm 23.19; Hb 13.8), o
que acabaria resultando em nossa destruição (Ml 3.6).
Sempre devemos ter em mente a nossa insignificância em fazer
o bem (Rm 3.12), visto que o máximo que conseguimos fazer é cumprir com
nossa obrigação (Lc 17.10), e isto muito mal feito (como trapo de
imundície – Is 64.6).
Além disto, se nossa causa é justa, porque paramos no meio
do caminho? Um bom indivíduo não folga com a injustiça (1Co 13.6), mas sempre busca no Eterno meios
de trazer para a presença Dele o Seu desterrado (ver 2Sm 14.13).
Devemos lutar, não por recompensas materiais, mas por aquilo
que o Eterno nos designou em prol de vê-Lo trabalhar mentes e corações.
Como você pensa que venceremos o mundo (1Jo 5.4)? Seguindo o exemplo de Jesus (Jo 16.33), a saber, suportando as aflições (2Tm 2.3) até o fim (Mt 24.13) (ao invés de fugir
delas ou de querer afastá-las de nós) até
que tudo que Jesus quer operar em nós e através de nós se cumpra.
Jamais devemos ceder à importunação do mal, tal como o
Eterno não cede.
Que fique claro: jamais o Eterno irá atender a súplica
insistente de um coração mau:
·
“Se eu atender à iniqüidade no meu coração,
o Senhor não me ouvirá;” (Salmos 66.18).
·
“Ora, nós sabemos que Deus não ouve a
pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve.” (João 9.31).
·
“Antes, ele dá maior graça. Portanto diz:
Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (Tiago 4.6).
O problema onde muitas orações não são respondidas é porque
muitos buscam, nos milagres de Jesus, se verem livres da obrigação de se
tornarem indivíduos melhores e de buscarem tal mudança para aqueles com quem
têm contato. Querem se isolar em seu egoísmo.
Contudo, sem as dificuldades, como a fé no impossível e
invisível (a saber, crer Naquele que é capaz de
justificar o ímpio – Rm 4.5) pode ser
desenvolvida?
Logo, não é a relutância do Eterno em fazer o bem que
precisa ser vencida, mas sim a nossa. O bem que Jesus quer fazer consiste em
nos aproximar mais daqueles que Ele colocou na nossa vida.
Veja exemplos de perseverança em oração:
•
Nos tempos do Testamento da Lei, era
usual orar três vezes ao dia (Sl 55.17; Dn 6.10).
•
Jesus, orou três vezes (Mt 26.44) porque Ele queria que todos os
principados e potestades vissem que não havia possibilidade de salvação sem
beber o cálice do Eterno o qual, no caso de Jesus, era a cruz do Calvário;
•
Paulo orou também três vezes (2Co 12.8), porque queria entender como um
Deus tão bom estava permitindo o mensageiro de Ha-Satan esbofeteá-lo (2Co 12.9,10).
·
“Dizendo: Havia numa cidade um certo
juiz, que nem a Deus temia, nem respeitava o homem.” (Lc 18.2).
·
“Havia também, naquela mesma cidade, uma
certa viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu
adversário.” (Lc 18.3).
Contudo, perceba que a mulher não queria vingança contra o
adversário, mas justiça. A mulher queria receber a justiça do Eterno a fim de
que o adversário visse e ficasse envergonhado.
Foi exatamente assim que Ha-Satan, o maior dos adversários,
foi derrotado por Jesus: Ele, mesmo diante do maior sofrimento, afronta,
desprezo e opressão que um ser humano é capaz de sofrer, ainda assim Ele não
cedeu:
·
“Havendo riscado a cédula que era contra
nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou
do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades,
os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” (Cl 2.14,15).
Muitas vezes achamos que o problema é o adversário. Contudo,
o grande problema é nossa persistência em afirmarmos que nossa causa é justa.
Antes de tudo, temos que pensar: será que isto é verdade? Se
nossa causa é justa, por que paramos de lutar no meio do caminho? Se não é,
então por que teimamos em forçar os outros a fazer o que queremos?
Por que você acha que a viúva ficou pelejando com o juiz?
Porque ela conseguia entrar em acordo com o adversário. E o motivo disto é
simples: só é possível haver acordo verdadeiro quando os dois envolvidos estão
com o coração puro lutando pela verdade e justiça (ver Mt 18.18-20). Do
contrário, o máximo que pode haver é conchavo político ou econômico com vistas
a conquista de vantagens.
Considerando que o acordo não era possível, então pelo menos
um deles estava em iniquidade. Como Jesus foi claro em afirmar que era o juiz
quem não estava querendo fazer a justiça (Lc 18.6), logo a causa da
viúva era justa.
·
“E por algum tempo não quis atendê-la; mas
depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens,” (Lc 18.4).
·
“Todavia, como esta viúva me molesta,
hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte, e me importune muito.” (Lc 18.5).
Que fique claro: a parábola não aponta para uma fórmula
mágica para obrigar o Eterno a fazer o que queremos que Ele faça. Lembre-se que
o juiz só atendeu a causa da viúva porque esta era justa.
Você pode estar se perguntando: mas o que levou ele a
atender? Afinal de contas, como ele não temia homem algum e nem ao Eterno (o que mostra que ele tinha muita influência e poder), ele poderia muito bem matar esta viúva completamente
desamparada e acabar com a importunação?
O que o juiz temia era a importunação que a justiça estava
lhe trazendo. Ele e muitos já estavam
tendo o desejo de entregarem suas vidas a Jesus. Quanto mais a viúva
perseverava na busca da justiça, mais ela ficava impregnada desta e isto era um
incômodo na consciência do juiz, já que ele queria viver como um deus.
A busca da mulher por bondade, justiça e amor por fim
atormentaria eternamente o juiz com remorso (considere que esta
mulher sempre manifestava isto tudo para com o juiz).
Você pode se perguntar: como sei disto?
Primeiro: fonte de água
doce não pode jorrar água amarga (Tg 3.10-12). Como o juiz queria viver egoisticamente para seu prazer, o
amor era considerado uma importunação.
Segundo, por causa do
que diz a Escritura Sagrada:
·
“Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão
para comer; e se tiver sede, dá-lhe água para beber; porque assim lhe
amontoarás brasas sobre a cabeça; e o SENHOR to retribuirá.” (Pv 25.21,22).
·
“Portanto, se o teu inimigo tiver fome,
dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto,
amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.” (Rm 12.20).
·
“E disse o Senhor: Ouvi o que diz o
injusto juiz.” (Lc 18.6).
·
“E Deus não fará justiça aos seus
escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com
eles?” (Lc 18.7).
Note que, quando nossa causa é justa, até o mais injusto e
insensível dos juízes não consegue resistir (Pv 16.7). Nem mesmo o mais sonolento dos amigos consegue
permanecer em paz na cama sem dar o que o justo precisa para ter suas
necessidades satisfeitas (Lc 11.5-8).
Diante da Verdade e justiça ninguém consegue permanecer
imóvel sem fazer nada:
·
“Para que ao nome de Jesus se dobre todo o
joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,” (Fp 2.10).
Deus é Aquele que causa e Aquele que vem a ser.
·
“Digo-vos que depressa lhes fará
justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18.8).
Quando Jesus vier, Ele vai encontrar a graça e a verdade que
vem com a fé, ou apenas uma religiosidade vazia, consistindo apenas de regras e
mais regras (Is 28.10,13), a qual é um peso na vida de Jesus (Mt 17.17)?
A menos que nós conheçamos quem o Eterno é e, com base
nisto, nos tornemos indivíduos que jamais desanimam de orar, jamais teremos a
fé que agrada a Jesus.
O QUE PODEMOS
APRENDER COM TUDO ISTO?
Quando a Escritura Sagrada diz que o Eterno faz justiça aos
Seus escolhidos, não está falando meramente de eleitos, como se eles tivessem
sido escolhidos por sua bondade e fé, mas sim por pertencerem a Ele.
Vem a questão: por que Jesus usou a figura da viúva? Em primeira
instância, a viúva desamparada é Israel que, por ter sido rejeitada pelo Eterno
(Is 50.1), ficou por cerca
de 400 anos sem receber qualquer profecia da parte Dele. E como Israel não
soube reconhecer o tempo da visitação do Eterno (Lc 19.44), ainda continuava vivendo como viúva.
A causa de Israel era justa: queria que o Messias viesse e
libertasse Israel e reinasse por todo o mundo Todavia, Israel achava que o
Eterno estava demorando em cumprir esta promessa.
Jesus finalmente veio para eles, mas eles não O receberam.
E quando Jesus vier novamente, porventura achará fé na terra
de Israel? Bem pouco!
O Eterno manifesta Sua justiça bem mais rápido do que
imaginamos. Todavia, quem é idôneo para reconhecer isto?
Embora os fiéis esperam que Jesus manifeste Sua justiça com
muito zelo, quando finalmente o dia chega, quase ninguém está devidamente preparado.
Isto vem a nos mostrar que, tão importante quanto orar a Jesus, é se preparar
para a resposta de Jesus a esta oração.
É bom lembrarmos que:
·
“Pai de órfãos e juiz de viúvas é Deus, no
seu lugar santo.” (Salmos 68.5).
Considerando que nós somos (ou pelo menos
temos que ser) o lugar santo do Eterno, logo o que
o Eterno deseja operar através de nós tem a ver com aqueles que estão
desamparados neste mundo, seja:
•
Por não terem quem proveja para eles
suas necessidades (órfãos);
•
Por não terem quem lhes dê aquilo
que o Eterno lhes concedeu (viúvas).
Todavia, assim como Jacó lutou com o Eterno para ser
abençoado (Gn 32.30), muitas vezes temos que lutar contra Ele a fim de que Sua
bênção possa encontrar lugar na nossa vida.
Entenda: uma vez que todo ser humano é pecador, ele
naturalmente jamais busca o Eterno (Rm 3.11). Isto porque nossa natureza carnal não é capaz de receber
nem praticar o que O agrada (Rm 8.5-8; At 16.20,21). Isto faz com que Jesus e Sua vontade sejam um tormento para
nós: trata-se de um obstáculo para que nós não venhamos a conquistar o que nos
convém.
Para ser mais exato: para quem é viciado no pecado (maldade, injustiça, etc.),
toda expressão de amor, bondade e justiça é vista como discriminação (preconceito), crueldade e
iniquidade.
Enfim, o juiz iníquo desta parábola simboliza o modo que
todos os pecadores sem Cristo (incluindo religiosos) veem Jesus. Pelo fato de Jesus não estar sujeito a nenhuma
falsa divindade (Is 44.8) e não respeitar o desejo do ser humano (tudo que Ele faz é por amor do Seu nome), logo todos veem Jesus como um juiz iníquo.
Daí a razão de pecarem. Quando algo acontece, muitos até
buscam ao Eterno em busca de ajuda. Como, na grande maioria das vezes, as
orações não são como deveriam ser (Rm 8.26; Tg 4.1-3) (não são fruto de confiarmos em tudo
que Jesus realmente é), o Eterno não as atende.
Resultado: ao invés de buscarem o concerto do Eterno,
preferem agir independente Dele e de Sua Palavra e vontade. Em outras palavras,
pecam.
Todavia, para quem ama Jesus e Seu caráter, e deseja isto em
sua vida (1Jo 3.2,3), a oração é bem prazerosa ainda mais considerando que Jesus
é um juiz justo e cheio de amor.
Veja o contraste entre a situação da viúva na parábola e a
da Igreja na vida real:
A viúva na parábola: |
A Igreja na vida real: |
a viúva era um estranha para o juiz iníquo. |
a Igreja é a Noiva amada, escolhida e salva pelo Criador. |
a viúva pedia sozinha. |
a Igreja pede em comunhão (Mt 18.18-20). |
a viúva foi ao juiz que se mantinha distante. A presença da viúva era considerada uma importunação. |
a Igreja vai ao Pai, que quer que nos aproximemos ao máximo Dele (Hb 4.16; 1Pe 3.8-12). A presença da Noiva nunca é considerada uma importunação, de modo
que ela pode procurá-Lo sem vergonha e temor a todo instante. |
a viúva foi obrigada a recorrer a um juiz injusto e mau. |
a Igreja é convidada a recorrer a um Pai Justo e Bondoso. |
a viúva foi a um juiz que não tinha interesse em resolver o seu
problema. |
a Igreja vai ao Eterno que quer ser a solução de tudo e nos dar o que
realmente precisamos. |
a viúva comparece sozinha perante o juiz. |
a Igreja vai à presença do Eterno acompanhada de Jesus, o verdadeiro advogado. |
a viúva não tinha motivo algum para crer que o juiz iníquo quisesse
lhe ajudar. |
a Igreja conta com a garantia das promessas registradas na Escritura
Sagrada. |
a viúva só poderia comparecer diante do juiz com audiência marcada. |
a Igreja pode e deve encontrar-se com Jesus em qualquer lugar e a
qualquer momento. |
Enfim, ao invés de considerarmos Jesus como juiz iníquo e
sairmos por aí pecando, vamos buscar crer em quem Jesus realmente é (e não em quem queremos que ele seja) e, então, orar de acordo com aquilo que Ele quer fazer na
nossa vida e na vida daqueles que Ele colocou em contato conosco.
Que todos possam enxergar que o Eterno vem estabelecer Sua
justiça bem mais rápido do que imaginam (1Ts 5.2; 2Pe 3.10) e, assim, se preparem devidamente para Sua vinda.
Somente aqueles que buscam em Cristo Seus desejos é que
acham que Jesus está demorando demais.
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