Passagem do
Administrador Infiel
Antes de tudo, é indispensável esclarecer que, em momento algum, Jesus
disse que este trecho da Escritura Sagrada é uma parábola (sempre que se trata
de uma parábola, a Escritura Sagrada deixa isto bem evidente. E isto, fora da
epígrafe, a qual foi acrescentada por homens). Logo, entende-se que é um fato
acontecido, mas que Jesus usou para ilustrar verdades acerca do Seu reino.
·
“E dizia também aos seus discípulos: Havia um certo homem
rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os
seus bens.”(Lc 16.1).
O patrão era alguém muito rico, pois tinha muitos devedores e estava
envolvido com outros negócios (daí ter entregue todo este negócio nas mãos
deste mordomo).
O mordomo era alguém que administrava os negócios de outrem. O dono,
confiando nele, entregava tudo em suas mãos, sem se dar conta de nada. Veja o
exemplo de José:
·
“Vendo, pois, o seu senhor que o SENHOR estava com ele, e
tudo o que fazia o SENHOR prosperava em sua mão, José achou graça em seus
olhos, e servia-o; e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o
que tinha. E aconteceu que, desde que o pusera sobre a sua casa e sobre tudo o
que tinha, o SENHOR abençoou a casa do egípcio por amor de José; e a bênção do
SENHOR foi sobre tudo o que tinha, na casa e no campo. E deixou tudo o que
tinha na mão de José, de maneira que nada sabia do que estava com ele, a não
ser do pão que comia. E José era formoso de porte, e de semblante.” (Gn
39.3-6).
Ele tinha liberdade de usufruir dos bens do patrão e fazer negócios em
nome dele.
Este mordomo, infelizmente, não era temente ao Eterno, muito menos tinha
amor ao próximo. Em virtude disto, ele imitava o costume pagão de cobrar juros,
algo condenado na Escritura Sagrada:
·
“Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está
contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros.” (Êxodo 22:25);
·
“Se teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem,
então, sustentá-lo-ás. Como estrangeiro e peregrino ele viverá contigo. Não
receberás dele juros nem ganho; teme, porém, ao teu Deus, para que teu irmão
viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com juros, nem lhe darás o teu
mantimento por causa de lucro.” (Levítico 25:35–37).
·
“A teu irmão não emprestarás com juros, seja dinheiro,
seja comida ou qualquer coisa que é costume se emprestar com juros. Ao
estrangeiro emprestarás com juros, porém a teu irmão não emprestarás com juros,
para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em todos os teus empreendimentos na
terra a qual passas a possuir” (Deuteronômio 23:19-20).
Entre israelitas não poderia haver usura:
·
“Sendo, pois, o homem justo, e praticando juízo e justiça,
não dando o seu dinheiro à usura, e não recebendo demais, ..., o tal justo
certamente viverá, diz o Senhor DEUS.” (Ez 18.5,8,9)
Contudo, era comum inserir os juros no valor a ser recebido, como se
fosse a conta do que fora emprestado. O indivíduo que estava pedindo emprestado
nem sempre se dava conta do que estava acontecendo.
Tanto que, ao chamar cada um dos devedores, eles acreditavam piamente
que a quantia que estava a ser exigido dele era realmente o quanto ele devia
quando, na verdade, estava presente a comissão do mordomo.
O devedor era levado a anotar, em uma ficha separada, o quanto devia com
sua mão para que, por sua letra, ficasse manifesto que ele reconhecia a dívida.
O mordomo deixava este campo em branco porque, assim, dificultava o patrão de perceber os prejuízos
que seu estilo de vida libertino estava dando.
No registro aberto, o qual deveria ser apresentado ao patrão, o campo
referente ao valor estava em branco (veja sobre cópia aberta e selada em Jr
32.11,14).
O devedor assinava os dois (o documento aberto devia ser mais comprido e
o selado, mais simplificado). Ao escrever no documento selado aquilo que
supunha dever, o devedor nem se preocupava em verificar que no documento aberto
o campo referente à quantidade devida estava em branco.
Você pode pensar: como sei disto?
Ora, o que ia impedir os devedores de colocarem um valor menor do que o
estabelecido pelo mordomo? Certamente havia um segundo documento e, se ele
colocasse um valor menor ou mentisse acerca da quantia devida, perderia o
desconto. Com o desconto, a cópia selada (com o valor a mais cobrado pelo
administrador) serviria apenas para mostrar o valor máximo a ser cobrado.
Se no documento aberto estivesse a quantia devida, por que o mordomo
iria perguntar a cada um quanto devia? Se não houvesse um documento selado, que
garantia ele iria ter de que o devedor não iria alterar a quantia devida? Mais
ainda: como o mordomo iria lembrar depois?
Contudo, ao fazer a prestação de contas, o mordomo, por estar com
pressa, não se preocupou em pegar o documento selado, mas só o documento aberto.
Vale destacar que a quantia devida não era monetária, mas em alimento.
Algumas considerações são válidas a respeito deste mordomo:
a) Ele foi acusado;
b) O patrão acreditou na acusação;
c) O mordomo não tentou se defender;
Vem a questão: quem foi o acusador? Por que o patrão acreditou tão
facilmente na acusação?
De acordo com a lei, uma denúncia só poderia ser aceita se houvesse duas
ou três testemunhas:
·
“Uma só testemunha contra alguém não se levantará por
qualquer iniqüidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que
cometeu; pela boca de duas testemunhas, ou pela boca de três testemunhas,
se
estabelecerá o fato.” (Dt 19.15).
·
“Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para
que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra
seja confirmada.” (Mateus 18.16).
·
“É esta a terceira vez que vou ter convosco. Por boca
de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra.” (II Coríntios 13.1).
·
“Não aceites acusação contra o presbítero, senão com
duas ou três testemunhas.” (I Timóteo 5.19).
·
“Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem
misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas.” (Hebreus
10.28).
Considerando este patrão como alguém justo, com certeza ele ouviu o
número necessário de testemunhas até que toda a verdade estivesse confirmada.
Há outra dúvida: por que o mordomo não tentou se justificar?
Com certeza ele não amava o patrão, nem o serviço que ele estava a
fazer. O mesmo pode ser visto com Caim:
·
“E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca
para receber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te
dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra. Então disse Caim ao
SENHOR: É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada. Eis que hoje me
lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e
vagabundo na terra, e será que todo aquele que me achar, me matará.” (Gn
4.11-14).
·
“Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio:
que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que era do
maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras
eram más e as de seu irmão justas.” (1João 3.11,12).
Ele não tinha interesse em ficar junto do patrão. Embora o patrão fosse
rico, ele não conseguia ter a vida boa que desejava em meio aos negócios do
patrão, visto que o mesmo era todo direcionado para aquilo que era bom e justo.
Havia poucos indivíduos na casa do patrão para compactuar nas diversões que ele
gostaria de ter.
Ele cobrava a mais porque queria uma parte só para ele para gastar na
farra com os amigos, a fim de manter os outros cativos a si (riqueza da
injustiça). Ele estava querendo o seu próprio reino com ele no domínio.
Infelizmente, a conduta dele estava começando a desviar da fé os que
habitavam na casa do patrão.
·
“E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti?
Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo” (Lc
16.2).
Isto lembra o que o Eterno disse por meio de Isaías a Ezequias:
·
“Naqueles dias Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal;
e veio a ele o profeta Isaías, filho de Amós, e lhe disse: Assim diz o SENHOR: Põe
em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás.” (Is 38.1).
Vem a questão: por que o patrão não despediu imediatamente o mordomo?
Afinal, ao ser dado mais um tempo, ele poderia, por vingança, arruinar seu
patrão.
O curioso é que o mordomo não fez isto. Ele poderia ter perdoado todos
os devedores, o que traria grande prejuízo ao patrão. E, caso o mordomo fizesse
isto, o patrão teria que aceitar, pois o mordomo ainda estava no seu ofício.
O primeiro ponto é que, como o patrão ficara distante dos negócios, não
sabia mais nada acerca dos mesmos.
Quanto ao prejuízo que pudesse vir a ter, o patrão não se preocupou com
isto, pois sabia que o devedor que amasse o patrão jamais iria aceitasse o
cancelamento da dívida, a menos que tivesse certeza de ser esta a vontade do
patrão.
Através deste gesto do mordomo, o patrão pode descobrir quem era quem
entre cada um dos seus devedores (perceba na parábola que ele estava observando
toda a cena).
Ao chamar os devedores, o mordomo estava cumprindo a ordem do seu
patrão, deixando completo e em ordem toda a documentação do seu patrão.
·
“E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu
senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha.” (Lc
16.3).
Diante da iminente demissão, o mordomo considerou as possibilidades:
a) Trabalhar na terra ele não podia, pois não tinha propriedade e todos ali
na região estavam em débito para com seu senhor, não tendo como pagá-lo. Além
disto, é bem provável que o patrão era o dono de todas as terras daquele reino.
Alguém poderia questionar que o mordomo não podia
porque tinha algum problema de doença ou não estava acostumado ao trabalho duro
ou que, no fundo, não queria (por exemplo, por ser um trabalho de nível básico).
Contudo, é bom lembrar que o mordomo não disse que era difícil trabalhar na
terra ou que ele não gostava deste tipo de trabalho, mas sim que ele não podia.
b) Viver de mendicância ele não queria, pois se importava com a opinião dos
indivíduos acerca dele. Pedir esmolas era algo vergonhoso, que apenas quem é
doente, coxo ou fraco fazia. Logo, ele não era doente.
c) Fazer amigos que o recebesse em suas casas.
·
“Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for
desapossado da mordomia, me recebam em suas casas.” (Lc 16.4).
Ao perder a administração, o mordomo não poderia mais se manter por meio
dos bens do seu patrão. Aquilo que os devedores deviam, iria tudo para o patrão,
passando a ser desfrutado pelo futuro administrador (incluindo a quantia
arbitrária que ele reservara para si).
Considerada a melhor alternativa, o mordomo passa rapidamente à execução
de seu plano, enquanto ainda podia:
a) Chamou um a um os devedores do seu senhor;
b) Preencheu a cópia aberta da dívida com o valor real;
c) Entregou as contas refeitas ao seu patrão.
O mordomo, então, finalmente enxerga que, se quisesse administrar as
verdadeiras riquezas (as pessoas), ele tinha que parar de explorar os outros em
nome do seu patrão.
Vem a questão: o que, de fato, o mordomo esperava obter?
Receber em casa era um ato de amizade e compactuação:
·
“Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não
o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas
suas más obras.” (2João 10,11).
O mordomo esperava ser recebido em casa para conversar, tomar um
cafezinho, etc., a fim de, assim, poderem trabalhar juntos na administração dos
bens do anfitrião. Embora os mesmos fossem poucos, com a inteligência do
mordomo, o anfitrião poderia prosperar nos seus negócios, pagar o restante da
dívida e, assim, vir a ser, quem sabe, um grande fazendeiro.
E como o mordomo esperava conseguir esta mordomia?
O mordomo ocupa, então, o curto tempo restante na mordomia para planejar
algo que fizesse com que os devedores do patrão viessem a ter acordo com ele
(ver Am 3.3). Ora, a única forma de se entrar em acordo com os devedores de um mestre
bom é buscando mudar de caráter e passar a agir com honestidade.
Ao abrir mão da parte do lucro que ele tinha estabelecido para si, o
mordomo, além de demonstrar que finalmente estava enxergando o valor da amizade
e, por isto, se convertendo dos seus maus caminhos, também estava mostrando que
ele era um bom negociador, alguém dinâmico, que não fica prostrado ante uma
adversidade, mas busca um meio de contornar os obstáculos e vencer, sem com
isto se rebaixar.
Em outras palavras, assim como o patrão viu como o mordomo era atilado,
os outros devedores do patrão também veriam isto e o receberia em suas casas
para ajudá-lo a administrar os negócios e os relacionamentos.
E a prova de que o mordomo converteu é a diligência dele em querer fazer
justiça a cada devedor. Afinal, ele poderia, por vingança, falsificar os dados,
seja para prejudicar o patrão ou os devedores.
·
“E, chamando a si cada um dos devedores do seu SENHOR,
disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E ele respondeu: Cem medidas de
azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve
cinqüenta. Disse depois a outro: E tu, quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires
de trigo. E disse-lhe: toma a tua obrigação, e escreve oitenta.” (Lc 16.5-7).
Vem a questão: por que apenas parte da dívida foi perdoada?
Porque, além do restante pertencer ao patrão, o objetivo não era deixar
o indivíduo sem débito, mas sim levar devedor dever a coisa certa (bem como a
quantia certa) ao indivíduo certo.
Ao permanecer em dívida para com o patrão, os devedores precisariam
continuar indo até ele e, desde modo, ter mais oportunidade de contemplar Sua
generosidade.
Muitos têm entendido mal o perdão de Cristo. Pense: Deus nos perdoou dos
nossos pecados ou nos remiu das mãos do diabo? Quem era o nosso credor?
- “Porque bem sabemos que a
lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.” (Rm 7.14);
- “Antes sede uns para com os outros benignos,
misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou
em Cristo.”
(Ef 4.32).
Se o Eterno nos perdoou em Cristo, logo Ele é o credor. Como então
explicar estes trechos?
- “Então jurou o rei e disse:
Vive o SENHOR, o qual remiu a minha alma de toda a angústia,” (I
Reis 1.29).
- “E os livrou da mão daquele
que os odiava, e os remiu da mão do inimigo.” (Salmos 106.10).
- “Digam-no os remidos do
SENHOR, os que remiu da mão do inimigo, Salmos 107.2).
- E nos remiu dos nossos
inimigos; porque a sua benignidade dura para sempre;” (Salmos 136.24).
- “Eu os remirei da mão do
inferno, e os resgatarei da morte. Onde estão, ó morte, as tuas
pragas? Onde está, ó inferno, a tua perdição? O arrependimento está
escondido de meus olhos.” (Oséias 13.14).
- “Assim diz o SENHOR: Onde
está a carta de divórcio de vossa mãe, pela qual eu a repudiei? Ou quem é o meu
credor a quem eu vos tenha vendido? Eis que por vossas
maldades fostes vendidos, e por vossas transgressões vossa mãe foi
repudiada.” (Isaías 50.1).
Erámos escravos do Eterno por meio da lei. Por não obedecermos, fomos
vendidos para o Ha-Satan (Rm 7.14). Por meio do sacrifício de Jesus, o Eterno
nos perdoou (nos livrou da lei – Cl 2.15; Mt 18.23-35) e nos remiu daquele que
tinha o império da morte. Isto Ele fez para sermos Dele, ou seja, Seu servo.
O Eterno nos remiu da lei porque toda ela foi cumprida por Jesus (Mt
5.17,18).
Em outras palavras, se concordarmos em pertencer a Cristo e em deixarmos
Ele nos guiar, tanto na mente como nos sentimentos, não precisaremos mais nos
preocupar com leis, nem com nossas limitações, nem mesmo com as circunstâncias
ou necessidades. Ele suprirá tudo.
Todavia, sempre estaremos em débito para com Jesus. Daí dizer:
·
“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que
vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.” (Rm 13.8).
Isto não significa que devemos cobrar amor para conosco (obrigarmos os
indivíduos nos amar – Jo 20.23). Se assim fizermos, o máximo que as pessoas farão
é nos reconhecer fisicamente.
O indivíduo é que deve reconhecer o privilégio de estar em débito para
com o amor e então, por opção, nunca achar que amou demais.
O amor não é um fardo a ser imposto, nem algo a ser despertado (Ct 2.7;
3.5; 8.4), mas o sentido a ser buscado para a própria vida.
Ou seja, não amamos para tentar convencer os outros a nos amarem, mas
sim, porque por isto fazer parte da nossa vida agora.
E tudo começa a partir do momento que liberamos os indivíduos de nos
amarem (Jo 20.23). Quando a samaritana fez isto (passando a viver como se não
tivesse marido ou, se preferir, parando de exigir isto do homem com quem ela
viva – 1Co 7.29-31), ela ficou livre, então, para beber da Água Viva que acaba
com a sede de amor (Jo 4.13-16).
Não podemos querer ser algo que não somos, muito menos forçar isto dos
outros. Temos que deixar Jesus manifestar em nós quem devemos ser para que tudo
que Ele é possa ser posto em evidência. A partir de então, tudo que é preciso
para que o poder de Jesus se aperfeiçoe em nós virá naturalmente, a começar
pelos indivíduos que irão compor nossa vida, para que aquilo que nossa carne
quer não se manifeste (ver Gl 5.16,17).
Quando liberamos os indivíduos de nos amar, eles poderão optar por
deixar Jesus nos amar por meio deles, vindo a nos reconhecer, não fisicamente
diante do mundo, mas na alma e no espírito deles. Eles nos reconhecem como
parte vital para o ego deles ser enfraquecido a fim de Jesus poder se
manifestar na vida deles (2Co 4.10,11).
Precisamos ser recebidos nos tabernáculos eternos (no coração de cada
um) para que, então, o relacionamento possa realmente fazer diferença em quem
somos.
Note que os débitos dos devedores eram óleo, trigo, coisas muito usadas
na lei cerimonial, na observância dos quais os devedores tinham sido
grandemente deficientes (Êx 29.40).
Ao chamar o devedor e ordenar que o mesmo preenchesse com a quantia
real, esta não poderia mais ser alterada, independente das intempéries da vida
(como ordena a lei de Moisés, que condena a usura).
Quanto à pressa, eis o motivo para a mesma:
1º - a fim de que outros não vissem seu ato justo (o que uma mão dá, que a
outra não veja – Mt 6.3). Ele queria que cada um visse suas qualidades
pessoalmente, ao invés de ganhar nome às custas daquilo que fez aos outros (2Co
2.13-15). Do contrário, ao invés de chamar “cada” um dos devedores (um de cada vez),
chamaria “todos” (ao mesmo tempo).
2º - porque o mordomo não queria expor a miséria de ninguém;
o
“Aquele que encobre a transgressão busca a amizade, mas o
que revolve o assunto separa os maiores amigos.” (Provérbios 17.9).
3º - porque o mordomo queria aproveitar o pouco tempo que lhe restava enquanto
ele ainda estava na mordomia para que todos os devedores pudessem ter suas
dívidas renegociadas. Depois que ele saísse, talvez viesse um mordomo que não
quisesse ajudar.
Ao invés de querer prender as pessoas pela dívida (Jo 20.23) para com ele (ou seja, por obrigação), o
administrador preferiu tentar prender os devedores encobrindo o negócio (agiu
prudente e discretamente, chamando cada um dos devedores). A ideia é que
ninguém mais tivesse dimensão do tamanho da dívida de cada devedor (Mt 18.15).
Embora dar esmolas não salve ninguém, elas preparam o coração de quem as
dá para receberem o que Jesus tem para elas (Lc 11.41; 12.33). Por isto o
Eterno leva em conta as orações e esmolas (ajuda) que damos a alguém (ver At
10.3,4) quando feitas por amor ao próximo.
·
“E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver
procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua
geração do que os filhos da luz.” (Lc 16.8).
Antes de tudo, quem são os “filhos da luz”? São aqueles que creem em
Jesus e que, em virtude disto, não permitem que o ódio guie seus
relacionamentos para com o próximo (João 12:36, Efésios 5:8; 1Tessalonicenses
5:5).
Ao final da história o mordomo recebe:
a)
A gratidão dos devedores;
b)
O elogio do patrão;
c)
A recomendação de Jesus para que o imitemos.
Atiladamente significa: de modo correto, sensato, discreto.
O patrão elogiou o mordomo porque ele não fez como Caim (indo
imediatamente prestar contas da sua administração para se ver logo do
compromisso com o Eterno), vindo a se acomodar aos padrões do mundo para ganhar
dinheiro ou tentar, por algum método ilícito, sair com a maior quantia possível
a fim de ter uma reserva para o futuro.
Ele buscou uma mudança de vida e de propósitos. Ao invés de tentar
lucrar o máximo em sua saída e tentar sobreviver por algum tempo, ele preferiu
abrir mão de qualquer direito que ele pudesse ter (se é que ele tinha algum),
entendendo que é melhor viver em novidade de vida por meio da bondade de Jesus
manifesta na vida das pessoas do que viver isolado na sua suposta riqueza (como
em Ap 3.16) e, além de solidão, correr o risco de, no futuro, não haver espaço
para a misericórdia de Jesus agir nos corações a seu favor.
Vem a questão: por que os “filhos deste mundo” são mais hábeis do que os
“filhos da luz”?
Em primeiro lugar, ser hábil nesta geração não é virtude: é defeito (veja
1Co 3.18-20).
Os filhos do mundo fazem barganhas para tentar conseguir o maior lucro
possível, obter o máximo daquilo que lhes interessa. Em particular, os mais ilustres
e ricos são bons para estabelecer alianças políticas através das riquezas deste
mundo para obter favores
Felizmente os filhos da luz não têm sabedoria em usar os bens deste
mundo para este tipo de coisa.
O problema, todavia, é que os filhos da luz, não percebendo isto, ao
invés de se esforçarem para ajuntar tesouros no céu (Mt 6.22,23) e serem ricos
para com Jesus (Lc 12.21) (do mesmo jeito que os filhos deste mundo se
sacrificam para obterem suas riquezas), infelizmente eles teimam em quererem
competir com os filhos deste mundo na busca das riquezas terrenas (e o pior:
muitas vezes usando seus métodos). Não cabe a nós
desafiar ou menosprezar as autoridades, nem compactuar ou competir com elas
(1Pedro 4.4), mas buscar que elas voltem para Jesus e Sua Palavra através de
nós (Jr 15.19).
Já que o Eterno não concedeu habilidade aos filhos da luz para
prosperarem através das riquezas mundanas e fazer pactos materialistas, que
eles pensem em fazer amizades verdadeiras através das riquezas celestiais que o
Eterno colocou à disposição deles em meio as coisas e acontecimentos que Ele
desperta para Sua glória.
·
“E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da
injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos
tabernáculos eternos.” (Lc 16.9).
Como granjear amigos com as riquezas da injustiça?
Nossos bens não compram a salvação, muito menos o verdadeiro amor:
·
“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o
teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme;
as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas. As muitas águas não
podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os
bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam.” (Ct 8.6,7).
Todavia, eles podem ser usados como instrumento para adquirirmos dos
mundanos os recursos físicos que os irmãos em Cristo necessitam para
permanecerem no exercício do seu ministério. Entrega aos filhos deste mundo o
que lhes é devido para os irmãos tenham a parte física que Jesus quer usar na
vida deles para fazer Seu milagre.
·
“Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo,
tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.”
(Rm 13.7).
Uma das formas de se usar o dinheiro é comprando produtos de vendedores
ambulantes para dar a quem necessita. Além de ajudar o vendedor a obter o que
necessita para o lar, ajuda também o necessitado (cumprindo, assim, Ef 4.28).
Além disto, veja:
·
“Visto como, na prova desta administração, glorificam a
Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela
liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos; e pela sua oração
por vós, tendo de vós saudades, por causa da excelente graça de Deus que em vós
há.” (2Co 9.13,14)
Quando nos dispomos a compartilhar liberalmente com o irmão em suas
necessidades, por estar ele envolvido com Jesus e na Sua missão para com ele,
esta disposição nossa revela o apreço que temos em Jesus e em ver Seu reino
propagado por todo o mundo.
Isto leva o indivíduo a dar graças a Jesus por nós. Você entende agora o
que significa ser recebido nos tabernáculos eternos?
Significa ser engajado à vida daqueles que estão em débito com Jesus (a
saber, aqueles que receberam Dele alguma coisa), de modo a vir a ter uma
ocupação na vida deles. Quem perde a administração do serviço do Eterno fica
vagando sem rumo (Os 9.17).
Você pode estar questionando: mas tudo que cada um tem, foi-lhes dado
pelo Eterno (At 17.25-28).
Correto! Mas no Reino dos Céus há uma classe especial de devedores: os
que devem ao Eterno a bênção especial dada àqueles que o amam (os bens da alma
e do espírito – 1Co 2.9; Ef 1.3; 2.6).
Para ser mais exato, ser recebido nos tabernáculos eternos significa sermos
acolhidos no coração dos que creem, até o dia em que possamos ser recebidos por
eles no céu (pense em quão agradável é ser recebido lá por aqueles que nos
amam).
Mesmo porque, como é para lá que iremos, devemos pensar: como entrar e sobreviver
lá?
Considerando que estamos em uma missão num país estrangeiro e que, a
qualquer momento, poderemos ser chamados de volta para prestação de contas, só
conseguiremos obter acesso de volta ao lar se trocarmos a moeda corrente deste mundo
na moeda usada no Reino dos Céus. Lá, a moeda corrente é amor, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança.
E lá, tudo é comprado sem dinheiro e sem preço (ver Is 55.1). Ou seja,
lá tudo é valioso, devendo ser recebido, vivido e passado adiante intensamente.
Jesus, para adquirir a Igreja, teve que “vender” tudo que tinha (Mt
13.44-46). Vem a questão: o que Ele deu? Sua vida no céu com Suas riquezas.
Jesus, que era o unigênito, abriu mão de toda a riqueza celestial que era só
Dele para se tornar o primogênito, a fim de que, Nele, pudéssemos também ser
herdeiros.
Temos que entregar tudo se quisermos receber tudo.
Mas por que a Escritura Sagrada diz que seremos recebidos nos
tabernáculos eternos apenas quando as riquezas da injustiça faltarem (ver Dn
12.7)? Porque, enquanto as tivermos, não veremos motivos para dependermos de
ninguém e ninguém aceitará depender de nós ou verá motivo para nos ajudar.
Logo, se temos mais do que o que precisamos, é bem provável que
estejamos desperdiçando os bens do Eterno. Afinal, as riquezas são a desculpa
para nos aproximarmos das pessoas com vistas a entesourar a verdade, os irmãos
em Cristo, o testemunho de Cristo e Seu caráter no coração deles.
Vem a questão: por que o dinheiro é chamado riqueza da injustiça?
O dinheiro que chega a nós para fazer compras é fruto de opressão, ganho
e fraude. Direta ou indiretamente somos cúmplices dos pecados de outros homens.
·
“Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é
injusto no mínimo, também é injusto no muito.” (Lc 16.10).
Jesus tanto valoriza as coisas pequenas que cuida até mesmo do pó da
terra (Jó 38.25-27), conta os nossos fios de cabelo (Mt 10.30; Lc 12.7), veste
o lírio do campo que hoje existe e amanhã é lançado no fogo (Mt 6.28). O círculo no olho de um mosquito é um círculo tão perfeito quanto uma
gota de orvalho. Os micróbios, que de tão pequenos são invisíveis a olho nu,
são completos em cada detalhe singular, tal como um o maior ser vivo existente.
De igual modo, o caráter, que é o traço fundamental mais característico
de todo ser humano, é visto em cada passo do nosso crescimento espiritual. Em
todo pensamento, palavra e ato de um ser inteligente, o caráter está envolvido.
Nada é tão pequeno que tenha sido feito com um poderoso motivo.
Pense: são as pequenas coisas que constituem a maior parte da nossa
vida. Nós teremos pouco para entesourar no céu se salvarmos recursos e energias
apenas para os grandes momentos.
Além disto: piedade não é para ser mostrada, mas vivida continuamente,
mesmo nos momentos mais comuns. Isto é que dará peso à nossa vida.
Mas, o que faz algo ser grande espiritualmente? A característica
intrínseca a ele ou o trabalho envolvido para fazê-lo? A pequena coisa é aquilo
que o Eterno é capaz de criar instantaneamente; a grande, aquilo que o Eterno
investiu tempo trabalhando no espírito do indivíduo diretamente com Seu
espírito.
Entenda a diferença: o Eterno pode criar instantaneamente quantos Adão
Ele quiser. Todavia, um pecador regenerado só é possível após muito trabalho no
coração do homem.
O menor normalmente é geral. O mais importante, por outro lado, é o
específico, devido à riqueza dos seus detalhes.
Como se pode ver, o dia das pequenas coisas é altamente especial para
que as coisas grandes funcionem e façam sentido (Zc 4.10).
Além disto, pense: se o indivíduo é capaz de ceder diante de pequenas
tentações, isto mostra como ele é capaz de trocar as riquezas celestiais pelas mais
fúteis coisas. Ou seja, as pequenas coisas acabam sendo mais agravantes que as grandes.
·
“Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos
confiará as verdadeiras?” (Lc 16.11)
Quem é ganancioso confia mais em bens porque, antes de tudo, confiam em
si para cuidar de si próprio. (Sl 52.7). O tal irá abusar das riquezas deste
mundo e as usar para proveito próprio. Como, então, poderá fazer bom uso das
riquezas celestiais? Muitas vezes as riquezas são um impedimento para a
piedade.
Quem não é fiel em lidar com aquilo que pertence aos outros, muito menos
conseguirá ser fiel em lidar com o coração destas pessoas.
Se uma pessoa não pode de ser fiel diante do Eterno com o dinheiro que
Ele lhe dá, como ela conseguirá ser fiel em cuidar do Seu verdadeiro tesouro (o
Seu povo)? Quem não é grato e fiel naquilo que o Eterno lhe dá, jamais
conseguirá ser agradável a Ele.
- “Vai ter com a formiga, ó
preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio.” (Pv 6.6).
Para ilustrar isto, imagine duas pessoas: uma que só armazenou dinheiro
e outra que usou o dinheiro todo para adquirir ouvido para apreciar música,
visão para enxergar a beleza da natureza, olfato para sentir o perfume das
flores, bem como cultura e sabedoria.
De que adianta adquirirmos recursos, se os mesmos não nos permitem enxergar
a extrema beleza que há em cada coisa que o Eterno coloca na nossa vida?
·
"E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o
que é vosso?” (Lc 16.12).
Que mérito pode ser obtido quando damos a alguém algo que pertence ao
próximo? Querer ajudar alguém lhe dando o que pertence ao outro é desonesto. Tudo
que ofertamos ao próximo não é, antes de tudo, ao Eterno? Quando damos o que é
do Eterno para ajudar alguém cujos propósitos não agradam a Ele (seja por comércio
ou amizade), nós estamos sendo desonestos.
A grande bênção aqui neste mundo é a possibilidade de ajudar outros
indivíduos a ver Jesus operar na vida delas, buscar para elas toda a provisão
necessária para isto.
Mas como, se nada possuímos? Logo a virtude não está em dar o que é
nosso, mas em receber a ajuda que Jesus quer nos dar a fim de podermos usar
isto para a glória Dele. Se não formos fiéis naquilo que pertence a Jesus, como
receberemos a nossa vida (Mt 10.39; Cl 3.3)?
Em outras palavras, só poderemos dar nossa vida verdadeira àqueles que o
Eterno nos dá se formos fiéis em administrar tudo aquilo que é Dele. Isto
significa que alguém só receberá quem somos de fato em seu coração e vice-versa
se formos fiéis em usar Suas coisas para glória Dele.
·
“Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de
odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis
servir a Deus e a Mamom.” (Lc 16.13).
É possível alguém ser extremamente mundano e ter fortes sentimentos
religiosos. Basta que a religião o agrade.
Todavia, suponha que exista dois homens: um chamado Verdade e o outro,
Falsidade. Como você poderá servir os dois ao mesmo tempo (Mt 6.24).
Imagine que um cão goste de duas pessoas. Enquanto as duas andarem
juntas, será impossível saber quem é o dono do cão. Quando a estrada, todavia,
se bifurcar e cada um for para uma estrada, então ver-se-á quem o cachorro
realmente reconhece como dono.
Como nosso verdadeiro homem não pode tocar coisas materiais externas,
logo a única hipótese de agradá-lo é com o conhecimento do Eterno dentro de si:hey
·
“E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas estas
coisas, e zombavam dele.” (Lc 16.1-14).
Os capítulos 15 e 16 de Lucas são dirigidos a fariseus e publicanos.
Estes, por acumularem ganhos ilícitos e aqueles, por serem avarentos.
O fariseu era o filho deste mundo porque eram eles que mais sabiam dele
desfrutar, seja no aspecto político ou religioso.
E, ao contrário que muitos pensam, eles não eram injustos do ponto de
vista do mundo. Eles se esforçavam para serem justos e para fazerem valer a lei
(Mt 5.24). O problema com eles é que eles exigiam dos outros algo que nem mesmo
eles queriam fazer (Mt 23.4), a saber, eram rígidos em exigir dos outros a
aplicação da lei, quando eles mesmos eram, muitas vezes, frouxos em certos
momentos (Lc 13.15). Sem contar que, por serem avarentos, muitas vezes usavam
coisas sagradas como a oração para justificar sua exploração às viúvas (Lc
20.47).
Logo, o mordomo era uma ilustração de como eram os fariseus.
Assim como o mordomo finalmente enxerga que, se quisesse administrar as
verdadeiras riquezas (as pessoas), ele tinha que parar de explorar os outros em
nome do seu patrão, os fariseus deveriam enxergar que, uma vez que eles
dissiparam as ovelhas do Eterno (Ez 34.3-6), com a mudança da aliança, eles não
iriam mais usufruir das ofertas materiais da lei (Ez 34.12-16).
Sem o “emprego” do Eterno, tudo que os fariseus forçaram os outros a
darem para o culto não iria mais para eles. Agora, a única forma de
sobreviverem era conseguirem a confiança necessária para administrar vidas, o
que implica em perdoar os pecados indevidos a fim de que o excesso de carga
colocado por eles não mais retivesse o indivíduo de prosseguir rumo às coisas
mais excelentes.
O QUE PODEMOS APRENDER COM ESTA PASSAGEM?
Não é em vão que esta passagem vem depois da passagem do filho pródigo.
Este mordomo era tão perdulário e desperdiçador como o filho pródigo.
As parábolas foram, em um certo sentido, um julgamento para os incrédulos,
uma confirmação de rejeição (Mt 13.13-16).
- “Por isso lhes falo por parábolas; porque eles,
vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre
a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis,
e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está
endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus
olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e
compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Mas, bem-aventurados
os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.” (Mateus
13.13-16).
- “Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis,
de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda
o coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos;
para que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos,
nem entenda com o seu coração, nem se converta e seja sarado.” (Isaías
6.9,10).
- “Por isso toda a visão vos é como as palavras de
um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e
ele dirá: Não posso, porque está selado. Ou dá-se o livro ao que não sabe
ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele dirá: Não sei ler.” (Isaías
29.11,12).
Não ter olhos para ver é um julgamento.
Embora este trecho não se trata de uma parábola, mas de um fato
acontecido, tal fato foi usado por Jesus para ilustrar uma verdade sagrada.
Todos os indivíduos envolvidos eram honestos dentro dos padrões do
mundo:
·
O patrão conduzia seus negócios honestamente;
·
O mordomo não desviava a verba do patrão, nem
enganava os devedores. O dinheiro cobrado a mais era algo considerado correto
pela sociedade;
·
Os devedores disseram o valor correto da dívida e o
fato de aceitar o desconto era algo normal e lícito (tal como uma loja quando
faz liquidação). É bom lembrar que o mordomo tinha direito legal para fazer o
que quisesse. Ele tinha procuração para representar o patrão diante daqueles
que queriam fazer negócios com ele.
Todavia, esta honestidade mundana não resolvia o problema de ninguém:
·
O patrão estava tendo os seus bens dissipados;
·
O mordomo não estava feliz, apesar de estar num bom
posto;
·
Os endividados, mesmo com o perdão parcial da
dívida, não deixaram de ser pobres.
Outro ponto a observar é que, embora o mordomo ainda fosse ficar mais um
tempinho na mordomia, nada que ele fizesse lhe permitiria recuperar o emprego.
Ao perder a administração, o mordomo estava perdendo sua renda e sua
reputação (porque agora todo mundo ia saber que ele era incompetente). Ele viu
que a única forma de reverter isto era investindo na alma e no espírito dos
indivíduos.
Ao fazer-lhes um grande bem, esta expressão do amor de Jesus iria
constrangê-los ( 2Co 5.14). De igual modo, não são nossas boas obras que nos
garantem a salvação, mas sim o ser recebido dentro dos corações. Nosso tempo é
muito curto para tentarmos consertar as besteiras que fizemos e, mesmo que
conseguíssemos, isto em nada mudaria o nosso interior.
Agora você entende por que o patrão elogiou o mordomo? Finalmente ele
aprendeu a ser fiel no pouco. Ele poder sair, sem se importar com a condição
dos devedores, todavia preferiu aproveitar o pouco tempo para ajudá-los. Embora
pudesse ter feito maldade com o patrão, ainda assim não pensou em prejudicá-lo.
A prova de que o patrão do mordomo não foi prejudicado é que ele ficou incomodado
com a atitude dele. Embora acompanhando toda a negociação do mordomo, não fez
nada para interferir.
Além disto, ao ter perdoada parte da dívida, finalmente o mordomo estava
contribuindo para que os devedores vissem o privilégio que é dever ao Amor em
pessoa. A dívida não foi toda perdoada a fim de que os devedores pudessem
permanecer ligados em amor ao Eterno.
Sendo assim, qual foi o tipo de ajuda prestada por este mordomo? Com
certeza não era material, já que a dívida não foi completamente paga, nem
acrescentou bens na vida dos devedores. Sem contar que muitos, talvez, não
conseguissem ter sua dívida saldada, vindo a nunca experimentar algum benefício
físico em virtude do feito deste administrador.
Logo, o benefício foi na alma e no espírito em decorrência do
arrependimento e conversão do mordomo.
De igual modo, todos pertencemos ao Eterno três vezes:
·
Por ser Ele nosso Criador;
·
Por ser Ele nosso Credor;
·
Por ser Ele nosso Redentor.
Usemos o caso de Israel como ilustração. Como Criador, Ele criou Israel
sem pecado, mas este usou a liberdade para se envolver em muitas astúcias (Ec
7.29). Por ter pecado contra o Eterno, Ele os vendeu a Ha-Satan e os entregou
nas mãos dos inimigos até pagar toda a dívida. Quando, porém, Israel se
convertia ao Eterno, Ele o livrava da mão dos seus inimigos (redimindo o corpo
deles).
Todavia, a alma ainda permanecia sem ser redimida e, assim, sem ser
capaz de se ligar a ninguém, mas tão somente usar uns aos outros para conseguir
o que quer.
Em virtude disto, após serem livres dos inimigos, os líderes de Israel
passavam a oprimir seu próprio povo (por exemplo se recusando a perdoar o
devedor). Por causa disto, o Eterno finalmente os entregou a escravidão até o
dia que aceitasse Seu Messias como redentor (ver Mateus 18.23-35) (visto que
Israel sempre interpretou mal o livramento do Eterno por meio dos Seus servos).
Israel queria liberdade para fazer o que quisesse. Eles queriam um deus
que lhes desse aquilo que eles queriam, sem precisar depender de ninguém, mesmo
que fosse necessário passar por cima da vontade dos outros.
Com base em tudo isto, podemos ver que o ensinamento de Jesus não é que
nós devemos ganhar o favor dos indivíduos através do dinheiro. Uma que o
verdadeiro amor não pode ser comprado (Ct 8.7). Este é o tipo de atitude que os
religiosos adotam para tentarem comprar o favor do Eterno.
O que Jesus espera é que os recursos deste mundo proporcionem ocasião
para entrarmos nos corações uns dos outros por meio Dele e de Sua Palavra.
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