O Eterno não poderia ter escrito Sua
Palavra de modo mais simples de entender?
Você já parou para se perguntar o motivo pelo qual
a Escritura Sagrada é, aparentemente, tão difícil de ser entendida? Por que o
Eterno não fez a Escritura Sagrada de um modo mais fácil de ser entendida?
Assim todos poderiam cumprir sua vontade com mais exatidão.
A primeira coisa a considerar é: quem foi que
disse que o desejo do Eterno é que todos cumprissem a Escritura Sagrada de modo
impecável? O Eterno não divide Sua glória e honra com ninguém (Is 42.8). Além disto, para que o ser humano fosse capaz de
fazer o bem de modo perfeito, ele teria que ser Deus, o que é um fardo muito
pesado, além de ser impossível.
Ainda assim, o ser humano persiste em buscar isto
para si, principalmente aqueles que detém o poder político, militar, econômico
ou religioso. Note como todo o avanço tecnológico é no sentido de controlar as
forças da natureza e manter cada objeto e ser vivo debaixo de controle rígido
absoluto.
Contudo, pense: se a Escritura Sagrada é um
mistério, pense: para quem ela é um mistério? Com certeza não é para os
pequeninos:
·
“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece
o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o
Filho o quiser revelar.” (Mt 11.27);
Muito menos foi intenção do Eterno que a Escritura
Sagrada permanecesse incompreensível a todos. Tanto que o Eterno se fez homem
justamente para que Seus enigmas (mistério) fossem descobertos:
·
“E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de
Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete
selos.” (Ap 5.5).
Tanto é assim que o Eterno proveu três formas de
os indivíduos conhecer a Ele e Sua Palavra:
·
“Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e
injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus
se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho
manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o
seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles
fiquem inescusáveis;” (Rm 1.18-20).
·
“Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os
que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não
têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para
si mesmos são lei; os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações,
testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer
acusando-os, quer defendendo-os; no dia em que Deus há de julgar os segredos
dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.” (Rm
2.13-16).
Mas se é assim, então por que muitos ainda não
compreendem Sua Palavra? Porque ela está oculta em mistério.
·
“Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus
ordenou antes dos séculos para nossa glória;” (I Coríntios 2.7)
Vem a questão: qual é o mistério do Eterno?
·
“O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as
gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos; aos quais Deus quis fazer
conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é
Cristo em vós, esperança da glória;” (Cl 1.26,27).
·
“Pois quero que saibais quão grandemente me esforço por vós e pelos
que estão em Laodicéia e por quantos não têm visto o
meu rosto em carne, para que os seus corações sejam confortados, estando unidos
em amor e para conseguir todas as riquezas da plena certeza do entendimento,
para reconhecerem o mistério de Deus, Cristo, no qual existem escondidos
todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” (Cl 2.1-3 – TB1917).
Cristo e Seu corpo, a Igreja, é o mistério do Pai.
Isto significa que a única forma de se conhecer o Eterno e Sua Palavra é por
meio da Igreja.
Vem então a pergunta: como a Igreja pode revelar o
conhecimento e sabedoria do Eterno? Através do duplo testemunho do Eterno na
vida dela:
·
O testemunho
do Eterno em cada indivíduo;
·
O testemunho
da perfeita unidade do Eterno:
·
“E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou
para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam
um, assim como nós.” (Jo 17.11);
·
“Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que
também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E
eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós
somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade,
e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles
como me tens amado a mim.” (Jo 17.21-23).
·
“Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu
vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão
que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (Jo
13.34-35).
Mas por que, afinal, a verdadeira sabedoria só é
possível ser conhecida na perfeita unidade (Pv 18.1)?
Porque só assim é possível alguém conhecer a semelhança do Eterno. Aliás, foi
exatamente isto que o Eterno disse para Arão e Miriã:
·
“Então disse: Ouvi agora as minhas palavras: se entre vós houver
profeta, eu, o Senhor, a ele me farei conhecer em visão, em sonhos falarei com
ele. Mas não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa;
boca a boca falo com ele, claramente e não em enigmas; pois ele contempla a
forma do Senhor. Por que, pois, não temestes falar contra o meu servo,
contra Moisés?” (Nm 12.6-8 – AR1967).
Isto quer dizer que o modo de o Eterno falar com
Moisés era diferente?
Com certeza não! Assim como não acredito que o
Eterno tenha se manifestado de modo diferente dos dois casos abaixo:
·
“Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu que dizia: Já
o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. Ora, a multidão que ali
estava, e que a ouvira, dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo
lhe falou. Respondeu Jesus, e disse: Não veio esta voz por amor de mim, mas por
amor de vós.” (Jo 12.28-30);
·
“E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por
que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus,
a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões. E ele,
tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o
Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.
E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo
ninguém.” (At 9.4-7);
·
“Ora, aconteceu que, indo eu já de caminho, e chegando perto de
Damasco, quase ao meio-dia, de repente me rodeou uma grande luz do céu. E caí
por terra, e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E
eu respondi: Quem és, Senhor? E disse-me: Eu sou Jesus Nazareno, a quem tu
persegues. E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram
muito, mas não ouviram a voz daquele que falava comigo.” (At 22.6-9).
Como o Eterno não faz acepção de indivíduos (Dt 10.17; 16.19; 2Cr 19.7; Jó 13.10; 32.21; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.25; Tg 2.1,9; 1Pe 1.17), com certeza Ele se manifestou
igualmente a todos. Contudo, a maioria entendeu a mensagem de modo errado.
Ora, como é possível a mesma mensagem ser
entendida de várias formas?
Primeiro: conforme aquilo que há no coração de
cada um:
·
“Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados
e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados.” (Tg 1.15).
Para os impuros, tudo é contaminado. Vem a
questão: o que é impureza? Algo misturado. É não ser capaz de fazer a distinção
entre “santo e profano”, “imundo e limpo”. Quando alguém enxerga algo do jeito
que realmente é (o limpo enxerga como algo benigno e o sujo, como algo mau),
então tal indivíduo está puro por dentro.
Para exemplificar isto, imagine que alguém
chegasse a quatro mulheres e dissesse: “você é muito bonita”. Qual seria a
reação delas? Depende do que existe no coração delas:
·
Suponhamos que
a primeira seja casada. Ela pode encarar isto como uma “cantada” e, junto com o
marido, até matar o indivíduo;
·
Já a segunda,
por ter ouvido críticas quanto ao modo de se vestir, poderá encarar tal elogio
como zombaria e descer o porrete no indivíduo. Talvez não chegue a matar, como
no primeiro caso;
·
A terceira,
por sua vez, por ser muito bonita, já foi elogiada tantas vezes que isto já nem
faz diferença na vida dela. Ela simplesmente agradece por educação e fica por
isto mesmo;
·
A quarta,
vendo a sinceridade do indivíduo, fica extremamente feliz e se sente querida.
Note como todas escutaram a mesma frase, mas
entenderam coisas completamente diferentes.
Como você pode ver, não é o Eterno que não é claro
em Sua mensagem. Ele sempre expressa a mesma mensagem aos indivíduos, mas cada
um entende de acordo com o que existe no coração.
Para exemplificar, digamos que o Eterno diga a
seguinte frase: “não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de
amanhã cuidará de si mesmo...” (Mt 6.34):
·
Para quem tem
coração bom, pensará: “já que o Eterno vai cuidar de mim, ao invés de eu ficar
preocupado em ajuntar dinheiro, vou me dedicar a amar ao próximo como a mim
mesmo”;
·
Para quem tem
coração mau, pensará: “já que o Eterno vai cuidar de mim, eu vou aproveitar
para ir para a farra e me divertir”.
Mas então, como entender a mensagem do Eterno
corretamente? A mensagem Dele é clara. Contudo, isto não quer dizer que não
haja necessidade de conhecer o conceito correto das coisas, bem como a visão do
Eterno em tudo.
Afinal, o que é algo claro? O que faz com que um
dado conhecimento seja claro para uns e obscuro para outros? A familiaridade
com o conhecimento. Imagine um médico fazendo discurso de medicina para um
grupo de engenheiros. Por mais instruídos que eles sejam, não irão entender
nada, pois tal conhecimento não faz parte da realidade deles. Só outro médico
poderá tirar proveito deste discurso.
Tanto é assim que o Eterno disse:
·
“Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os
mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; porque àquele que tem,
se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe
será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se
cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não
compreendereis, E, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração
deste povo está endurecido, E ouviram de mau grado com seus ouvidos, E
fecharam seus olhos; Para que não vejam com os olhos, E ouçam com os ouvidos, E
compreendam com o coração, E se convertam, E eu os cure.” (Mt
13.11-15).
Note que a fala do Eterno, como homem, só era
parabólica (ação de desviar-se do caminho reto) para quem ouvia de mau grado.
Quem ouvia Sua palavra de qualquer jeito, ouvia tudo parcialmente e não
prosseguia em conhecer o Eterno (Os 6.3). E sem estar familiarizado com Ele e
Sua vontade, não tem como entender as coisas corretamente.
Enfim, o sabedoria do Eterno está oculta em
mistério, ou seja, na perfeita unidade que tem que haver na Igreja. Basta
pensar na oração do Pai Nosso:
·
“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim
na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos
as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;
e não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é
o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.” (Mt
6.9-13).
Note como a oração está no plural (e não no
singular). Quando o indivíduo entende que o Eterno trata com a Igreja como um
todo, e não somente com um membro isolado, não há confusão de interpretação
como se dá, por exemplo, com o Salmo 23. Quando é dito:
·
“Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas. Refrigera a minha alma; ...” (Sl 23.2,3)
A mensagem a ser passada é que, como o Eterno nos
guia para o lugar onde teremos todo o mantimento necessário para o corpo, alma
e espírito, então não precisamos cuidar de nós mesmos. Estamos livres para
amarmos o próximo, pois nossas necessidades serão supridas por Sua glória (Fp 4.19).
Quanto ao refrigerar da alma, isto é sinal de
luta. Afinal, por que o Eterno iria refrigerar a alma de um indivíduo vivendo
no luxo tranquilamente? O tal não tem do que ser refrigerado. No entanto,
quando alguém ama o Eterno, tal como Paulo, não tem como não se afligir:
·
“Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas
as igrejas. Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza,
que eu me não abrase?” (2Co 11.28,29).
Quando tal indivíduo se entristece profundamente
por ver outros sofrendo, se perdendo e sendo usados por Ha-Satan,
o Eterno refrigera a alma deste lhe dando o necessário para poder ser usado por
Ele para salvar o maior número de indivíduos (Sl
23.1).
E o que o Eterno lhe dará:
·
Preparar-lhe-á
uma mesa na presença destes indivíduos que, no início, o tratarão como inimigo
(Sl 23.5);
·
Discipliná-lo-á
a fim de que ele seja livre do verdadeiro mal (Sl 23.4;
94.12,13);
·
Ungirá sua
cabeça com óleo, ou seja, encherá sua mente e coração com Seu amor, de modo que
ficará devidamente capacitado para reinar sobre o pecado na vida do próximo (Rm 5.17,20);
·
Fará
transbordar seu cálice, de modo que o julgamento que está para cair na vida dos
seus ouvintes lhes seja claramente evidente;
·
O guiará pelas
veredas da justiça, não simplesmente para resolver os problemas sociais, mas para
que o nome do Eterno seja cada vez mais conhecido e amado (Sl
23.3), fazendo uso do cajado todas as vezes que suas pernas forem para o
caminho errado;
·
Fará com que
Sua bondade e misericórdia lhe sigam constante e permanentemente (Sl 23.6; Mt 28.20), de modo que
Ele seja capaz de amar os inimigos, apesar de todo o mal causado por eles (Mt 5.44,45).
Enfim, nada falta (Sl
23.1) na vida do fiel porque o Eterno permanece na vida de quem deseja estar
eternamente em Sua casa (no coração dos que creem – Sl
23.6). É este indivíduo que não tem nada a temer, nem mesmo quando andar pelo
vale da sombra da morte (Sl 23.4) para resgatar os
perdidos (Pv 21.16; Is
9.1,2; Mt 4.15,16).
Resumido: o Eterno fala claramente, de modo que
até uma criancinha é capaz de entender (mesmo porque o Reino dos Céus pertence
a eles – Mc 10.14,15). Logo, se não estamos entendendo, é porque nossa mente
ficou engrandecida demais nas coisas deste mundo (ver 1Co 3.18-20), de modo que
a Escritura Sagrada se lhe tornou loucura (1Co 2.14,15). Cabe a nós descontaminarmos nosso coração, de modo que nossos
conceitos e valores voltem a ser alinhados com o Reino do Eterno. Quando isto
acontecer, tudo que antes parecia um grande enigma nos será familiar.
Quando entendermos que não existe promessa egoísta
na Escritura Sagrada e que a bênção chega a nós descendo do Pai das luzes (Tg 1.16,17), não para nosso conforto egoísta, mas para que
sejamos capazes de amar o próximo e enchermos nosso interior e o dos outros dos
tesouros do Reino dos Céus (os fiéis, a verdade, testemunho e virtude do
Eterno), enxergaremos a semelhança do Eterno. A partir daí, nada nos parecerá
complicado ou estranho.